quinta-feira, 6 de agosto de 2009

As redes sociais da rede chinesa

Uma das principais redes sociais chinesas, a Xiaonei, agora não é mais Xiaonei, mas Renren. A mudança no nome não foi bem explicada, mas a novidade é fresquinha por aqui, coisa desta terça-feira.

Numa análise bem superficial, o que se diz é que enquanto o primeiro nome se refere a campus, e por isso acaba atraindo um público prioritariamente de alunos de Ensino Médio e graduação, o segundo significa "todo mundo". Bem, e todo mundo você sabe o que é.







O domínio Renren não tem lá um currículo muito animador. Criado em 1999, o site teve uma curta vida de bons lucros até 2001, quando a bolha internética estourou e fez com o negócio fosse pelos ares. Em 2005, o domínio foi comprado e teve curta vida como site de classificados entre 2006 e 2007. Agora volta à vida. Será que com força? Sei lá, esta coisa de agradar a todos...

Certo que o planeta internético chinês é, para rimar, um tanto hermético, acredite. E aqui a gente não está falando das barreiras governamentais impostas para barrar o que seria pornografia e outras barbaridades, mas é muito mais do que isso, é filtro mesmo para que se evitem trocas de ideias sobre questões políticas e tals. E a gente sabe, sendo brasileiro, o quão bom é viver num país democrático, com imprensa livre e livre troca de pensamentos via internet. É só olharmos para nosso Congresso para nos orgulharmos de nossa liberdade e construção de cidadania e democracia.

Mas voltando à China, o olhar chinês sobre o próprio umbigo é fenômeno antigo, se é que se pode classificar como antigo um comportamento percebido na internet, que há pouco começou a integrar a vida das pessoas. Aqui, 338 milhões de pessoas, até junho - 22% da população, ante os 75% dos Estados Unidos. Imagina o que tem de espaço para crescimento. O resultado, anota Tom Melcher, que atua no mercado de internet da China desde 2005, é uma total falta de percepção dos geeks, nerds e Marcks Zuckerbers e afins de o que os chineses esperam na tela do computador.

Enquanto o fundador do Facebook flana pelo Brasil comemorando um crescimento da rede entre os usuários brazucas, na China, ele vê o fraco desempenho ficar ainda mais capenga. Em julho, o número de usuários no país chegava a 1 milhão, mas caiu pela metade em um mês. Claro que é fácil atribuir a culpa ao governo, já que desta vez, assim como fez com Twitter, Youtube e outras maravilhas do mundo web ocidental, os incansáveis operários que não param de alargar os horizontes do Great Wall of China trataram de barrar o Facebook. A desculpa da vez foi o uso da rede para propagar mensagens separatistas pouco após os espinhosos conflitos étnicos de 5 de julho em Xinjiang, a terra da minoria uigur hoje cheia de moradores da maioria han.

Mas então, voltando ao cenário lindo e do qual pouco lembro da liberdade via bits na China, Melcher dá a primeira dica. Admitir que ninguém de fora entende nada do mercado chinês e que trazer modelos ocidentais é o primeiro passo rumo ao caminho errado. Mal, bem mal, se você pensar que em 2008 a Tencent, responsável pelo QQ, que é o MSN que conta para os chineses, ou serviço de mensagens instatâneas, se é que você lembra do termo, teve uma renda de US$ 1 bilhão e ostenta um market cap de US$ 24 milhões, deixando para trás o Yahoo, por exemplo.

Mas aí Melcher não dá muitas pistas de como conquistar o gosto do internauta chinês. Uma pena. Agora, o artigo, cujo link eu vou deixar ali abaixo, reforça uma crença minha. Que no fundo, muito dos filtros chineses não importam tanto assim para a massa online quando os alvos são sites estrangeiros. Aqui twitter é fanfou, msn é QQ, Google é Baidu, Youtube é Youku. Para você isso pode não ter o menor sentido, mas para quem está deste lado daqui, tem. Tanto tem que o povo da Web Asia 2.0 fez uma lista delícia dos equivalentes chineses das estrelas ocidentais. Essa você confere aqui http://www.web2asia.com/2009/08/05/asian-equivalents-of-western-web-services-part-03-china/.

Agora eu deixo você com o artigo do Melcher
http://www.businessinsider.com/henry-blodget-the-us-internet-industry-leads-the-world-right-wrong-2009-8

E, para quem quiser saber mais sobre os números do Facebook no país, aqui vai a dica
http://www.insidefacebook.com/2009/08/04/facebook-traffic-from-china-drops-by-half-in-the-last-month/

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Em tempo. Nesta quarta-feira, a agência estatal chinesa divulgou uma notícia um tanto quanto irônica. Só pode ser ironia, penso eu, que cada vez entendo menos de o que se entende por jornalismo aqui (deve ser porque a mídia tem influência direta do poder político, e o poder político tem este vício de fazer pouco caso do coraçãozinho da população). Enfins, a matéria dava conta de que o Facebook mantém a rápida subida rumo ao topo da lista de maiores sites do mundo, em quarto lugar, com 340 milhões de visitantes únicos do mundo inteiro. Do mundo inteiro, menos a China e alguns outros né. Sério, ai minha paciência.

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