Guangzhou, a capital da Província de Guangdong, a antiga Cantão, chão de fábrica mundial e destino de quem compra e vende. Dinheiro aos montes, calor, comida e bebida barata, belas garotas. Lugar fácil para se conseguir drogas, para se conseguir fazer qualquer negócio, para viver entre a legalidade e a ilegalidade, num porto que se abre ao mundo.
Em termos bem gerais, é assim que já li e ouvi falar da cidade, onde inspeções periódicas e surpresa de passaportes resultam em deportações sumárias, contou-me há dois dias um sírio que viveu na cidade por mais de um ano, onde gerenciava um restaurante.
Pois nestas ações policiais (e que, em tese, estariam dentro da lei e para promover a ordem, me parece), há dois dias um homem de origem nigeriana morreu. A história é um tanto peculiar. Tanto a Reuters quanto o China Daily, jornal governamental, contam que o homem tentou escapar da inspeção porque estava com o visto vencido, pulou de uma elevada e morreu. Em protesto, cerca de cem migrantes africanos levaram o corpo até o posto de polícia Kuangquan. Tudo fica num limite entre verdade e suposição. Em um comunicado oficial, o governo nega que tenha havido morte. E fico me perguntando que corpo era aquele. Que seja.
A situação em Guangdong de um sem número de migrantes que fazem da cidade um celeiro de novos negócios é retratada da seguinte maneira. Com uma propina aqui, outro agrado ali, tudo se ajeita e os vistos recebem vista grossa, pouco importa se estão em dia u não. Uma prática que, se não é comum, é bastante relatada.
Visto, aliás, é sempre tema sensível, em se tratando de China. Existe um mercado negro que dá jeito em visto sempre. Paga-se bem. Imagine que o meu, totalmente legal, sai por coisa de R$ 120, por um ano. Um adquirido via empresas fantasma ou coisa que o valha? Você paga entre R$ 1,5 mil e muito mais, depende do período pelo qual se passa.
No ano passado, os tempos pré-olímpicos foram de apreensão entre os estrangeiros. Para renovar vistos, o governo lançou mão da burocracia e da aplicação de regras às pressas, num movimento que utilizou-se de subterfúgios e interpretações de leis chinesas até então desprezadas e que levou muito expatriado ao desespero. Obrigou gente a exílios forçados na terra natal, alguns sequer voltaram. Se antes você renovava seu visto por aqui mesmo, nos idos de maio a setembro de 2008, apenas voltando ao país de origem. Uma vez lá, para garantir nova entrada no país com visto de trabalho, um sem número de exigências, que iam da prova concreta de que havia um empregador a exames físicos e de saúde e até traduções para o chinês dos diplomas universitários. Não, normalmente não é assim. Até quem era acostumado às artimanhas viu a coisa toda encrespar e mesmo pagando muito mais, teve gente que conseguiu vistos de turistas por poucos meses. Tempos difícieis.
Agora, novas dores de cabeças para os expatriados. Com a proximidade das comemorações de 60 anos da República Popular da China, em 1°de outubro, a paranóia voltou. Já está mais difícil ter visto, diz quem tem de renovar por agora. E o rumor atual é que todos os estrangeiros serão chamados aos postos de polícia mais próximo para mostrar a documentação toda e provar onde trabalha e por que antes de outubro. Quem não convencer, está fora da festa patriótica. Uma comemoração que não é para gringo ver, um orgulho de ser chinês que está sendo preparado para quem precisa, os chineses. Quem sobreviver ao visto, verá ao vivo.
Há 21 horas
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