A China anunciou hoje, véspera do Dia Mundial de Lutra contra a Aids - comemorado em 1° de dezembro -, que poderá permitir a entrada de estrangeiros portadores do vírus HIV no país, extinguindo uma regulamentação de mais de 20 anos aprovada no final da década de 1980 para tentar impedir o crescimento no número de casos no país.
A primeira vez que a China registrou oficialmente um paciente com Aids foi em 1985. Hoje, o que há de oficial é uma estimativa do Ministério da Saúde, segundo a qual 740 mil pessoas seriam portadoras até o final deste ano.
– Eu espero que a China termine com a proibição de uma vez por todas até a Expo Shanghai - disse ao jornal em inglês China Daily o vice-ministro da Saúde, Huang Jiefu.
O plano chincês para a exposição mundial, que vai de maio a outubro do ano que vem, é o mesmo adotado para a Olimpíada, quando foi permitida a entrada de turistas portadores do vírus, mas apenas durante aquele período. A esperança é que desta vez a medida não seja apenas temporária e faça com que a China abandone a lista dos poucos mais de 70 países que oficialmente barram pacientes com HIV.
Hoje, o turista deve informar no cartão de entrada na China - a serem entregues nos guichês de imigração - se é portador do vírus. Aqueles que querem visto no país por mais tempo, como as modalidades para residência ou trabalho, devem se submeter a exame de sangue. Quem tem Aids, tá fora.
Na matéria de hoje, a agência estatal nega que o cuidado seja sinônimo de preconceito ou desinformação, mas principalmente uma preocupação com possíveis gastos com cuidados médicos para estes turistas ou moradores eventuais (http://news.xinhuanet.com/english/2009-11/30/content_12562502.htm). Vai saber, né.
Independente da motivação, a Aids é sim tabu e preconceito puro por estas bandas. Você nem precisa ser jornalista como eu, caso não seja tão preconceituoso quanto os meus coleguinhas chineses, para sacar que a área de destaque no site hoje liga automaticamente a Aids à comunidade gay - notadamente os homens gays, como se lê nas primeiras linhas da matéria sobre o primeiro bar gay oficial da China (http://news.xinhuanet.com/english/2009-11/30/content_12563452.htm). O lugar, ao qual eu não irei e não sei quem vai, ficará em Dali, cidade de Yunnan, a província chinesa que teria o maior número de casos de Aids, segundo o governo. Pois no lugar em que não será servido álcool, os clientes terão acesso a informações. Ou desinformação, vamos combinar.
Um país que trata de Aids como um problema ligado à comunidade gay masculina (as lésbicas seriam menos afetadas porque, em geral, são mais fiéis e mantêm uma mesma parceira por mais tempo - pô! não sou em quem tá dizendo, leia o link ali de cima, é em inglês, mas eu sei que você entende) só pode começar super errado na prevenção de uma doença que, como o próprio governo reconhece, implica gastos robustos em tratamento de saúde. Lembro que no distante 2005 eu trabalhei em um especial tambémsobre o 1° de dezembro, quando um dos motes era focar nas mulheres heterossexuais portadoras do vírus, que contraíram de diversas formas - em relações sexuais heterossexuais estáveis inclusive. E isos que não se tratava de nenhuma inovação. Mas aqui na China...
Aproveitando o mote gay da história toda, a Xinhua encerra seu quadro de chamadas para lembrar o Dia Mundial de Luta com a história de Wei Xiaogang (http://news.xinhuanet.com/english/2009-11/29/content_12559364.htm), documentarista que saiu do armário - na maravilhosa expressão chinesa 出柜, que se lê chu gui e significa exatamente sair do armário, dã! - e sofreu com isso, já que preconceito aqui é coisa bem séria. Não bastasse uma das principais missões dum chinês na vida ser a de produzir descendentes, homossexualismo aqui foi considerado doença mental até o ano 2001. Oficialmente, eu digo. Na prática, suspeito que ainda seja para muita gente, viu.
Pois bem, como este papo tá pesado e afinal, que as pessoas sejam felizes, sigamos com a história do Wei. Ou melhor, com as histórias feitas pelo Wei. Ele mantém o site www.queercomrades.com - em chinês e inglês - e produz diversos documentários sobre o tema. Neste aqui cujo link é este grandão e super vale o clique, http://you.video.sina.com.cn/b/23280532-1286173051.html, ele conversa com dois pais, o Papai Sun e a Mamãe Wu, cujos filhos saíram do armário. Como perceberam que a decisão dos filhos implica em problemas familiares, resolveram, se não sair do armário, pelo menos sair de casa e se engajar à comunidade gay para ajudar quem não consegue falar, ajudar outros pais.
Bueno, o título deste post se refere aos Camaradas, 同志, ou tongzhi, em mandarim, que era como toda e qualquer pessoa era tratada por toda e qualquer pessoa por aqui nos tempos de maoísmo ferrenho e que hoje virou gíria para designar gay. Só para finalizar, 同志们出柜吧!
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