sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A montanha do imperador

Beijing teve a pior nevasca em 54 anos nesta quinta-feira, quando a humidade, quase nunca presente no inverno da capital chinesa, esteve sempre próxima ou superior aos 90%. A partir do dia seguinte, a sexta, a previsão voltava ao que se considera normalidade, anunciando dias de tempo seco. Como ainda faz frio - 0°C por volta das 11h desta sexta -, resolvi visitar um parque ainda desconhecido por mim, o Jingshan (景山公园), ou Parque da Montanha Panorâmica (Bah, esta tradução foi em quem fez, sei lá, não me soou bem. Azar). 

Voltemos ao que interessa. A Jingshan foi uma boa pedida para quem quis dar uma olhada nos tetos brancos da cidade antes que o gelo derretesse todo - por volta das 15h, a temperatura já estava em altíssimos 5°C.

O Jingshan fica no eixo central Norte-Sul de Beijing, ao norte da Cidade Proibida, que por aqui se escreve 故宫 e atende pela alcunha de GuGong. É o mesmo eixo do Templo do Céu, da Praça da Paz Celestial, das Torres do Sino e do Tambor e, claro, da principal obra dos tempos olímpicos, o Ninho de Pássaro. Ou seja, um eixo muito nobre, de construções que pontuam diversos momentos da história de Beijing. Aliás, a própria montanha em questão é uma construção, dos tempos da Dinastia Ming (1368-1644), feita com o material retirado para a formação dos canais que circundam a Cidade Proibida e outros interligados à rede. Em 23 hectares, há cinco picos, cada um com um pavilhão - dentro de um dos quais, há um Buda gigante.

O parque foi erguido para atender aos anseios imperiais de um bom fengshui, que advoga que as residências devem ficar ao sul de uma montanha. E ao norte do enorme complexo imperial, não havia uma. Se o imperador não vai à montanha, a montanha vem ao imperador, lembram? Pois então, uma vez que a montanha tenha vindo, o imperador de então - e os outros que se seguiram - acharam por bem manter o local restrito a quem merecia, ou seja, a corte. Afinal, montanha ir ao povo nunca pegou bem em qualquer cultura ou época que fosse. A coisa só mudou em 1928, quando o tempo imperial já havia se ido na China. Antes, um tom trágico para o parque. O último imperador Ming, Chongzehn (1628-1644), ao perceber que a Cidade Proibida fora invadida pelos inimigos, se abrigou no parque também restrito e se suicidou. O local do suicídio está bem sinalizado, para quem quiser ir visitá-lo, eu passei esta.

Fiquei com as fotos, que posto para vocês. Além disso, fiquei contente em saber que esta belezura de parque, do qual se contempla toda a cidade - a proibida e o restante - se estende pelos distritos Xicheng (西城区) e Dongcheng (东城区), os dois mais charmosos de Beijing, na minha opinião. Marcando uma visita ao parque no final da tarde e me convidando para dois dedos de prosa depois, a primeira cervejinha em NanluoguXiang fica por minha conta, ok?

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Ah, para chegar ao Jingshan, não há estações de metrô próximas, mas você pode aproveitar para conhecê-lo após sair da Cidade Proibida ou pedir para ir direto para lá para qualquer taxista.

A taxa de entrada é de 2 yuans, o que, segundo a cotação de hoje, dá bem pouco mais do que R$ 0,50.

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