Há uma semana
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Dias de Fúria e um bom Ano-Novo
Paguei mico na agência pra mostrar o ketchup
Foto: He Meng (Mariana)/Especial
Primeiro, as explicações. Tenho uma lista no Brasil pra quem mando minhas novidades. Esse era um e-mail pessoal, pros amigos mais íntimos. O Márcio Gomes, meu editor no clic, achou engracado e disse que ele deveria estar no blog. Pois bem, agora ele está...
Fiz um texto grande, do tamanho das minhas saudades, com pitadas de bom-humor, do tamanho da minha vontade de rir até quando não tá tudo bom. Aí deu pau no computador, e eu perdi tudo. Vamos rir, respirar, digitar de novo. Será que com a mesma naturalidade?
Ai...
A primeira parte, bem, esta é daqueles desejos gostosos de um novo ano repleto de alegrias, conquistas e amor, muito amor pra todos vocês. Polar gelada também cai bem, Tsingtao quente é a maior curtição!
Meu ano-novo eu contei ali na outra casa, a www.clicrbs.com.br/chinainblog, prestigiem esta que vos escreve, passem lá, vejam meus amigos. Meu ano-novo foi tão comportado que não há nem partes impublicáveis, todas estão no blog.
***
Bem... Aqui na China o impublicável às vezes vai até pra televisão. O mico do final de ano foi a apresentadora de TV que invadiu o programa do marido, também apresentador, ao vivo, e denunciou o infiel. Ela havia descoberto há duas horas que tinha um par de chifres. E resolveu contar pro país todo. No fim, o mundo soube da história. Se alguém quiser ver a cena, está aqui!
Aliás, você que ficou longe da internet no feriado ficou porque, provavelmente, precisou ir pra praia, usar bronzeador, se sujar de areia, tomar cerveja gelada, comer peixe, camarão, beijar na boca, dizer "não, muito obrigado" pro vendedor de canga, e também pro vendedor de óculos escuros e também pro vendedor de brincos, saiba que eu estou morrendo de inveja. Ai, coisa chata! Eu fiquei a menos zero, com um casaco que parece uma barraca, me sentindo uma bruxa vestida de preto e vermelho e jurando: ano que vem, ou estarei no Brasil, ou na Tailândia, Filipinas, algum paraíso à beira-mar. Sério. DEPRÊ PASSAR ANO-NOVO NO FRIO. Odeio com todo o meu amor cada um de vocês que estava na praia. Mas com o maior, carinho, respeito e de coração!
E, que super, né? Não que eu tenha marido, nem que trabalhe numa rede nacional de televisão, mas eu tenho um blog. Sei lá, numa dessas, vai que eu tenha algum babado forte pra publicar... Adorei esta idéia de acesso fácil à mídia!
***
Agora, sobre meu dia de fúria.
Dia desses eu disse pra Paula que o sistema interno de trancar a porta da nossa casa era aberto à chave pelo lado de fora. Dias desses depois, tou eu voltando de uma noitada de ceva no meu bar favorito na minha rua favorita na minha cidade favorita para trabalhar na China quando, depois de subir seis andares de escada (sim, nosso elevador não funciona da meia-noite às seis, dizem que pra poupar energia) me deparo com a porta trancada. De jeito maneira consegui abrir e me grudei a ligar pra casa. Ao tentar o celular da Paula, uma chinesa me fala no meu celular:
- Duibuqi. Nin xi ni zhi xi qi ni zhai pin tin de - ou alguma coisa parecida com isso, e logo emenda:
- Sorry, you have late money. Please, recharge in time.
Ou seja, tava quase ficando sem crédito no celular! Depois do recado bilingüe, a chinesa completa a ligação. Ouço o celular da Paula bem ao meu lado, na cozinha, ou seja, a quilômetros do quarto dela. Tremo mais do que tremia de frio com os -5C certo que estavam fazendo naquela madrugada! O medo? A guria não acordar... Liguei pro fixo, que fica na sala e, sim, ninguém ouviu... 3 e tantas da manhã, sem muitas opções...
Beijing é tão cidade do vento quanto Osório, e isso pode ser interessante quando as janelas do corredor do teu prédio estão quebradas. Na madrugada gelada e escura, interessante por dois motivos. Um é que o frio aumenta, outro é que o barulho de vidro e porta de metal batendo é uma loucura. Descobri duas coisas. Eu não tenho medo do escuro, nem de fantasmas. Também comprovei a tese do Cláudio: O inferno é gelado. Na sala de quem fez muito mal na Terra, ainda tem vento, que é pra gelar e cortar!
Eu, boa que dói, vou pro céu com certeza. Ainda mais que fiquei algumas horas experimentando a péssima sensação do inferno e da inveja. Invejei a praia, o calor, as pessoas felizes, os pandas, os peixes, o universo, a cama quente, a cerveja, me perguntei que diabos estava fazendo na China e pensei: 2007 foi um ano em que tudo deu certo! Tinha de ter um perrengue, nao é mesmo? Ah, mas perrengues servem pra gente resolver, que tal descer os seis andares e ir até o hotel que FICA EXATAMENTE embaixo do meu prédio?
Fui!
- Boa noite, o senhor fala inglês?
- Sim.
- Quanto custa um quarto?
- 232 yuans.
- Olha, eu estou sem meu passaporte. Moro no prédio justamente aqui em cima, mas minha amiga dormiu e me deixou na rua, não consigo entrar, está frio e eu gostaria de dormir, pois estou muito cansada. Eu tenho aqui meu crachá da Xinhua, trabalho há seis meses em Beijing.
- A senhora tem amigos na cidade?
- Sim, tenho, o senhor gostaria de telefonar para algum deles para comprovar as informações?
- Não, pra senhora telefonar e pedir pra dormir na casa de um deles. Não aceitamos estrangeiros.
- Não aceitam estrangeiros?
- Não, senhora.
- Não aceitam estrangeiros mesmo ou não aceitam estrageiros sem passaporte?
- Não aceitamos estrangeiros.
- Mas então por que inferno o senhor me informou o preço, ficou falando horas comigo e por que diabos o senhor é um dos únicos recepcionistas da China que fala inglês decentemente se não aceita uma porcaria de estrangeiro neste inferno de hotel com seis andares e uma porr** de um milhão de quartos?
- Desculpe, senhora.
- Ok, desculpe - me resignei eu com frio, sem achar um sofá pra me atirar e fazer escândalo, caso ele quisesse engrossar. Tentei celulares da Mariana e da Elisa, nada. Ok, subamos mais seis andares...
Gente, que péssima, minha noite de despedida de 2007, eu, sentada ao lado do aquecedor do corredor do prédio que não aquece nada, enrolada no meu casaco-barraca (eu já achando a fantasia de ketchup a melhor aquisição de até então aqui na China) querendo matar a chinesa que me avisava em duas línguas que meu crédito tava acabando a cada ligação que fazia todo o tempo pra tentar acordar a Paula. Sério, na 35151° vez que tu ligas pra casa e ouve a mensagem, isso comeca a irritar. MUITO. Se estiveres com sono, irrita MAIS AINDA. Se estiveres com frio, ÉS CAPAZ DE QUASE ENTRAR EM SURTO.
Pronto, uma hora e meia depois de ligações, a Paula acordou. Entrei em casa extremamente mal-educada, eu sei... Eu podia matar alguém, e nem era culpa dela, mas eu estourei mesmo com a minha amiga quando ela disse:
- Jana, mas foi tu que disse que a porta poderia ser aberta a chave pelo lado de fora.
- Sim, claro, desculpe, a culpa foi minha...
Depois da manhã, fui acordada pela Paula e pelo Iugo com café da manhã na cama!
Um bom início de último dia de 2007
Que acabou sem comida. Fui a um bar cubano novo pra ceia de réveillon, paguei 250 kuais e só me serviram a salada e a entrada. O prato principal chegou gelado, à meia-noite, quando não importava mais e eu já estava quase bêbada. Sério, ainda bem que 2007 foi. Foi ótimo!
Mas 2008 há de ser melhor ainda!
**
Quem vai pra praia comigo na próxima virada???
** Aliás, na última virada, um casal de argentinos na minha frente foi o primeiro a achar super eu ter um blog na RBS. De Misiones, viam RBS durante a infância e adolescência.
O outro assunto em comum? Este é o primeiro ano da vida deles que eles não vão nesta época a CAPÃO DA CANOA... Os pais dele, inclusive, estão indo pra lá semana que vem.
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