A China celebra hoje o Dia Nacional da Juventude, data que merece pompa e circunstância, como pedidos do presidente, Hu Jintao, para que os jovens lancem mão de todo o seu patriotismo e trabalhem duro pelo desenvolvimento do país. Tudo isso porque em 4 de maio de 1919 estudantes saíram às ruas de Beijing para pedir democracia e protestar contra o governo, com vistas ao fim do que se convencionou chamar feudalismo.
Para a cúpula do poder chinês, tal vigor juvenil ainda serve como exemplo. O movimento de cunho político e cultural de 1919 acabaria na fundação do Partido Comunista Chinês (PCC) dois anos mais tarde, em Shanghai. Apesar dos louvores aos líderes e intelectuais revolucionários e sedentos por mudanças da época, aos jovens agora é ensinado que ao lançarem mão da energia típica a esta fase, que o façam trilhando os caminhos do socialismo com características chinesas, a denominação oficial do sistema político da China, que vive épocas de competição capitalista sob controle forte de atos e até de pensamentos, se possível.
Restrição à liberdade de expressão e pânico a movimentos organizados podem ser herança de uma outra peripécia da classe estudantil, esta realizada 70 anos depois da manifestação lembrada hoje e apagada da história pelo poder em Beijing. Parece-me que a moçada de 1989 que fincou pé na praça também pedia democracia, mas àquelas alturas, a mão mais forte do governo central tapou ouvidos e bocas. Tirou o povo de Tiananmen e fez com que o baile seguisse com a mesma batida orquestrada décadas antes. Os primeiros acordes estão no movimento democrático de 4 de maio. Vamos a ele?
O conceito de república na China é recente. Somente em 1912 o país deixou para trás um sistema imperial, ao acabar com a Dinastia Qing (1616-1911), graças a articulações de Sun Yat-sen, o fundador da república. A recém instituída República da China, ou 中华民国 - Zhonghua Minguo (cuja primeira bandeira você vê abaixo), tinha um poder incipiente e sofreria golpes de militares com pretensões imperialistas e a oposição dos senhores da guerra, os verdadeiros líderes que tomavam as rédeas de controles alfandegários e fiscais de diversas regiões da China, separadamente.
Yat-sen já nem estava mais no país e o governo central enfraquecido veria seu comando se perder ainda mais ao final da I Guerra Mundial (1914-18), quando graças ao Tratado de Versalhes, o acordo entre os países vencedores e perdedores, a China viu entregues ao Japão as concessões alemãs de então no país (concessões estas frutos de uma política internacional desastrada).
Num basta aos desgovernos e pedindo a soberania do país com ideais democráticos e pelo fim do feudalismo, estudantes e intelectuais tomaram as ruas de Beijing para protestar, onda que se espalhou país afora. Um dos líderes, Chen Duxiu, professor da Universidade de Pequim, seria fundador do Partido Comunista da China. Antes, ele fundou um dos veículos que mostraram e moldaram o novo pensamento chinês, ou daqueles que queriam mudança no modelo de então, a revista Nova Juventude (新青年, Xin Qingnian). Pois são a partir de artigos e textos da publicação, cuja capa se vê abaixo, que se percebe a orientação comunista de Chen, que veria no modelo político russo o ideal para a China.
À beira do primeiro centenário, a república chinesa encerra muito mais história do que um post poderia contar. Fato é que ela segue e, desde 1949, adotou o modelo sugerido nas páginas da Nova Juventude, quando finalmente o Partido Comunista da China chegou ao poder e fundou a República Popular da China, ou 中华人民共和国 - Zhonghua Renmin Gongheguo. Vida longa à República Popular da China diz o cartaz abaixo, ou 中华人民共和国万岁 (Zhonghua Renmin Gongheguo Wansui). Esta última, aliás, completa 60 anos em 1º de outubro. Mas isso é assunto para outra hora.
Há 9 horas
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