Mas talvez muita gente fique espantada com sincronismos e movimentos massivos ensaiados à exaustão pelos 200 mil que, dizem, desfilarão nesta quinta-feira pela principal avenida de Beijing, a Chang'An, tão importante que é justamente a que separa a Cidade Proibida da Praça da Paz Celestial.
Esta tudo milimetricamente estudado. Até os narizes dos pobres soldadinhos foram medidos. Até as golas dos uniformes exibiam agulhas espetadas em cada borda, a fim de que as microestocadas intermitentes nos pescoços ensinassem os músculos o quão importante é não mover a cabeça. Olhar certeiro, para frente e sem piscar. Sim, os soldadinhos foram treinados a não piscarem por um período que vai de entre 40 segundos e dois minutos.
Todas as bizarrices não se aplicam aos pitocos, cuja participação vai somar 80 mil crianças amanhã na praça. Eles vão segurar bandeiras, acenar, fazer coreografias. Tudo ensaiado em pequenos grupos diariamente ao longo de quatro meses, marcado in loco em três ocasiões, quando ensaios gerais provaram que o caos também visita Beijing e que a parada iria sair como no script.
Pois os pequetitos escolhidos para a festa exibem orgulhosos por aí mochilas que viram banquinhos, conforto para quem terá de esperar horas a fio até iniciar a participação. Nada muito grave.
Li Mei, de 11 anos, vai sair de casa às 6h30min. Vai para a escola. É de lá que seguirá para a praça, junto aos colegas com quem ensaiou a coreografia de flor. Ela está feliz em participar da festa nacional. Como quase todo o resto dos moradores de Beijing, os pais vão assistir pela TV, grudados na telinha para tentar identificar o rosto familiar na multidão. Para isso, até pediram folga dos trabalhos, num descanso que vai custar à mãe pouco menos de R$ 10, o que ganha como empregada doméstica por três horas de faxina. Mas e quem se importa de ficar um pouco mais pobre num dia em que o país celebra a pujança?
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