quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Vai um cinezinho aí?



Primeiro vieram os Oscar, depois os holofotes todos para Slumdog Millionaire, o filme baseado no livro do indiano Vikas Swarup, batizado em 2006 no Brasil como Sua Resposta Vale Um Bilhão - e que agora tem nova edição em português.

Imagino que você saiba do que falo. A história se passa na Índia. Um ex-garoto de rua sofre durante infância e adolescência justamente em razão da condição financeira miserável - o que destrói a família, o leva para o mundo dos pequenos crimes, o deixa em contato com gente grande do crime. De repente, ele se vê prestes a botar a mão numa bolada por acertar respostas de perguntas sobre conhecimento geral em um programa de TV.

Na ficção, os responsáveis pela versão indiana do Show do Milhão (ai, o Sílvio Santos) desconfiam de Jamil Malik (o personagem principal, vivido por Dev Patel). Ele seria ou alguém de muita sorte, ou um gênio, ou um trapaceiro. Melhor mandar prender.

O roteiro eu vou parar de contar, caso alguém ainda não saiba. E se já sabe, menos motivo pra falar disso. Fato é que a história de miséria na Índia, em que há criminalidade, favelas e grandes diferenças entre ricos e pobres e que termina com final feliz, no jogo e no amor, chegará aos cinemas chineses até abril, segundo anunciou o Grupo de Cinema da China, responsável pela importação dos filmes estrangeiros no país.

Passou assim pela minha cabeça se um programa de TV como o que conduz o filme faria sucesso por aqui. Imagino que sim, que muito. Segundo o governo, Slumdog Millionaire irá para as telas sem cortes, pois traz uma mensagem positiva, de perseverança. E viva a liberdade! O anúncio oficial diz assim: "A decisão de adquirir os direitos de exibição do filme se deu devido ao valor artístico e ao tema positivo, saudável e inspirador da produção, comprovados pelos oito Oscar que conquistou neste domingo".

No site IMDb, o Internet Movie Database (ou banco de dados de filmes na internet), quem gostar da obra indiana com roteiro e direção ingleses também deve gostar de O Caçador de Pipas e de Cidade de Deus. Basicamente um sessão de "vamos entender como a pobreza funciona em diferentes países".

Pobreza indiana

Para mim, que pouco entendo do riscado, os planos e as sequências na favela indiana muito lembram Cidade de Deus. Como se não bastasse uma galinha aparecendo, destaque para a fala do bandido mirim Salim, irmão de Jamil (que quando criança é interpretado pelo fofo aí abaixo, o Ayush Mahesh Khedekar), que muda de nome quando resolve assumir a pose de chefe do crime.



- Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno, porra - você deve ter lembrado. Ou deveria. Eu lembrei, pelo menos.

Toda a plasticidade sobre a pobreza em amarelo - a brasileira era mais cinza, tinha uma cor ocre só lá no início da Cidade de Deus - explorada pelas lentes e olhares britânicos, no entanto, viaja sem dó no mundo da pieguice de Bollywood ao terminar o filme dum jeito água com açúcar, com uma coreografia de "gosto duvidoso" ilustrando os créditos. Olha, foi de propósito, né? Tanto o final meloso quanto a dancinha, eu digo. Era uma ironia acerca de quão pobre um filme pode terminar, se esta for a intenção. Eu sinceramente espero que sim. Não vi nenhuma conexão entre o final e o resto.

Estrangeiros na China

Desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), 20 filmes estrangeiros podem ser exibidos nos cinemas do país, desde que haja divisão de lucros. Antes, eram 10 títulos.

A restrição, somada às pesadas taxas impostas às distribuídoras, faz que somente filmes muito atraentes aos espectadores chineses venham parar nas telas. Perder dinheiro por aqui é que não dá.

Para além de 20

Claro que um DVDzinho sempre rola. Eu já comprei meu Slumdog, assim como uma lista gigante de indicados e vencedores do Oscar por cerca de R$ 4, cada. Tenho restrições a esta prática, mas tem horas que me sinto tão feliz atualizada. Aliás, se alguém ainda não se atualizou, aqui vai o trailer do filme.



Constatação. Mesmo que seja para menos gente, a magia do cinema ainda está lá. Ver um filme na tela grande é outra história. O preço do ingresso aqui em Beijing varia entre algo em torno de R$ 10 e R$ 35, dependendo do cinema e também da classe da sala. Tem umas tais de salas VIP a que nunca fui. O truque é pegar o cineminha esperto às terças, quando todos os estabelecimentos da capital oferecem 50% de desconto. Adoro esta ideia!

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