segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Céu azul brinda Beijing com dias incríveis

Beijing está linda nesta última semana.

A temperatura oscila entre agradáveis 12 e 25 graus, uma perfeição brindada pelo céu azul. 

Estamos em meio a dias atípicos - não só pela folga que tivemos da incômoda poluição. Na última quarta-feira foi feriado nacional em virtude do festival de Meio Outono, a noite em que a lua cheia é a mais cheia na China no ano, e no dia 1º de outubro se comemoram os 61 anos da República Popular da China. A cidade está florida, canteiros estão em todas as esquinas e praças de Beijing. 

O céu azul pode ser bênção divina a esse país que só cresce e quer moldar uma orientação mais ecológica que, na verdade, não tem. Então é preferível acreditar que não se trata de bênção alguma, mas que o trabalho seja do Escritório de Modificação do Clima, a repartição chinesa em que deve ser mais legal trabalhar, desde que você não se sinta desconfortável com o fato de que talvez esteja contribuindo ainda mais enfaticamente para a explosão do planeta. Sério, qualquer hora isso tudo vai pelos ares - ares poluídos ainda por cima. 

Então eu apostaria que os mocinhos dos escritórios de modificação do clima país afora acharam por bem ter o dia de Meio Outono lindo, que é quando familiares e amigos fazem visitas uns a outros para ofertar bolinhos de lua, o que está longe de ser delícia, mas é tradição. Agradeço tanto pelo coelhinho da Páscoa trazer chocolate. Se é para engordar, que as calorias valham a pena, né? 

Enfin, deixa para lá as calorias. Agora será a hora de celebrar a unificação do camarada Mao, a revolução proletária, a reforma e abertura, o socialismo com características chinesas, a economia que só cresce, etc, etc. O céu vai continuar azul.

Para compartilhar tamanha felicidade ante uma semana, quem sabe 10 dias de dias maravilhosos, eis uma foto tirada ontem no 798, um antigo complexo fabril militar - na verdade, algumas unidades ainda funcionam - construído na década de 1950 por engenheiros especialmente importados da então Alemanha Oriental que optaram pelo estilo Bauhaus nas construções. Pois ante uma estratégia que levou muitas das unidades à bancarrota, na década de 1990 o lugar passou a abrigar artistas plásticos. Abandonados, alguns galpões foram alugados pelos tais artistas porque eram espaçosos, com muita luminosidade e incrivelmente baratos. O galpão da 798 abrigou a primeira galeria do lugar e acabou por batizar toda a região, com exposição permanentes ou temporárias e aberto o ano todo.

Hoje a região é conhecida como o Soho nova-iorquino, ninguém mais mora lá porque os aluguéis estão pela hora da morte, mas tudo o que você quer ver de bom em termos de arte chinesa estará lá. Dá para achar em outros lugares também, mas lá é meio parada obrigatória. Para gente como eu que já mora aqui, é ideal para uma escapadela da cidade e para comer comidinha boa, tomar café barato e ficar distribuindo ois para os amigos. Porque uma galera acaba tendo a mesma ideia.

Me dá a batata

A batata, o tubérculo de origem peruana descoberto pela Europa através dos espanhóis ainda lá pelos idos de 1.500 e tanto, já aportou à China décadas atrás como solução para a fome em algumas áreas. No entanto, nunca perdeu entre os locais o status de comida de estrangeiros – imortalizada na apresentação frita e sequinha das redes de fast food, como KFC e Mcdonalds.

Agora, a inocente batata, que assume ares de delícia chinesa em pratos como o tudousi, ou tiras de batatas cozidas temperadas com vinagre e pimenta e que em mandarim se grafa 土豆丝


Ops, interrompemos esta transmissão para informar que se você gostou e quer continuar a ler, pode acessar www.janajan.com.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um novo sitezinho


Agora para brincadeiras, assunto sério e até trabalho, há um simpático endereço que eu, se fosse você, clicaria: www.janajan.com .  

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Futuro Líder

A Coreia do Norte está prestes a indicar o próximo sucessor na linhagem Kim, na única dinastia comunista de que se tem notícia. Kim Jong-un, o filho mais novo do Querido Líder, Kim Jong-Il, deverá ser o escolhido.

O encontro que poderá indicar a sucessão deveria ocorrer no início de setembro, mas foi adiado. Agora, a agência oficial norte-coreana, a KCNA, anunciou que a conferência do Partido dos Trabalhadores da Coreia ocorrerá dia 28, quando será eleita a cúpula do partido. Ninguém sabe ao certo o que exatamente será anunciado e que papel caberá a Jong-Un, mas espera-se que este seja o primeiro passo rumo à sucessão.

Jong-Un deve ter menos de 30 anos e provavelmente estudou na Suíça na adolescência, embora alguns especialistas em Coreia do Norte sugiram que o caçula do Querido Líder nunca tenha saído do país. Até hoje, circula apenas uma foto dele pela internet, e o antigo chef de Jong-Il, um japonês que adotou o nome fictício de Kenji Fujimoto, descreve o menino como o preferido do pai. Fujimoto escreveu um livro de memórias sobre os 13 anos em que foi o chef do ditador. Especialistas acreditam que muito do que se conta seja mesmo verdade. E o japonês conta que Jong-Un tem muito a ver com o pai: fisicamente e psicologicamente. Ele teria herdado o estilo cruel e implacável do pai, diz Fujimoto.

Observadores estão antentos à movimentação da reunião inédita desde 1980. Ainda que o futuro líder ainda seja considerado novo por muitos, é preciso prepará-lo. A saúde de Jong-Il se deteriora desde um suposto derrame sofrido em 2008. Na ocasião, quando se afastou do palco político, o poder efetivamente ficou nas mãos do cunhado Jang Song-taek, casado com a irmã mais nova do então convalecente, por alguns meses. Song-taek também deve ser nomeado para algum cargo importante na cúpula partidária da próxima terça-feira. E, se for necessário, será o responsável por conduzir Jong-Un pelos caminhos do governo numa eventual transição, apostam estudiosos no tema.

  • Sob o arco-íris da montanha sagrada

O próprio Jong-Il foi nomeado sucessor do Grande Líder Kim Il-Sung aos 38 anos, em 1974, mas o poder mesmo, só assumiu com a morte do pai, em julho de 1994. Até hoje ele não é presidente, cargo que cabe ao fundador da República Popular e Democrática da Coreia, o nome oficial do país. Coube a ele o título de Querido Líder e os louros de ter nascido na montanha sagrada de Baektul, sob um duplo arco-íris. Mas presidente ele não é. O presidente é morto, aliás, mas é eterno.

A história real indica que o segundo governante da Dinastia Kim tem a Rússia como país natal, uma vez que seus pais estavam exilados na fronteira sino-russa com a Coreia para brigar contra a invasão japonesa. Enfim, para que se apegar a detalhes se o arco íris da montanha sagrada é tão mais poético.

A história oficial a ser contada para Jong-Un ainda é desconhecida, assim como a real e, principalmente, como a política que o jovem pode adotar. Em uma nação voltada ao militarismo e afeita a contendas nucleares, é melhor abrir o olho mesmo. Fujimoto-san talvez não esteja 100% correto no livro – editado apenas em japonês e coreano -, mas se ele acertou que Jong-Un era o queridinho do Querido Líder, por que não desconfiar de que se trate de um jovem cruel? Ademais, ele é o  jovem que tem pela frente o desafio de alinhar economicamente o país, que sofre com escassez de recursos e onde nem a comida é suficiente.

A esperar por terça-feira.

Os otimistas estão chegando

O brasileiro é o segundo povo mais otimista do mundo. Adivinhe quem são os primeiros? Os chineses. Bem, pelo menos isso é o que conta uma pesquisa realizada entre 10 de abril e 6 de maio pelo instituto norte-americano Pew Research Center.

 O motivo para a alegria? Acertou quem disse que foi a economia. Entre  os brasileiros, 50% estão satisfeitos com a situação geral do país. Entre os chineses, este índice pula para 87%. Mas tudo bem, quem sabe, chegaremos lá.

A frase é batida, mas é verdade: as relações entre os dois países só faz crescer. Tudo bem que os chineses têm uma baita vantagem também financeira nesta balança. E vai ver que é daí que advém a vantagem otimista também. Afinal, eles estão 27 pontos percentuais a nossa frente nesse quesito, ainda que em pesquisa a gente esteja habituado a margens de erro de dois ou três pontos percentuais para cima ou para baixo. Já dá uma diferença, mas que eles continuariam na frente, ah, isso eles continuariam.

O tal affair sino-brasileiro que só cresce já desperta curiosidade mundo afora – há quem diga que talvez também desperte inveja, mas isso é especulação. O Financial Times dia desses publicou matéria em que analisa essa relação crescente entre duas das maiores economias em desenvolvimento. O futurologismo do jornal aponta: pode se tornar a aliança mais poderosa na economia global em uma década.

Não é pouca coisa. Os dois países já são os maiores parceiros comerciais. As companhias chinesas que haviam feito investimentos diretos de US$ 5,5 bilhões fora do país em 2004 aumentaram este montante para US$ 56,5 bilhões no ano passado. Você já sabe que em se tratando de China, os números, até os de crescimento, são um tanto escandalosos, não é? Pois há projeções de que os tais investimentos diretos cheguem a US$ 100 bilhões em 2013. Sim, antes da Copa, aquela com a qual sonhamos para alavancar nossa economia. Eu começaria a aprender mandarim em vez de só inglês, viu. A gente nunca sabe quando será necessário atrair um capitalzinho e fechar um negócio da China.

O Brasil não fala em Ásiadependência, mas fato é que 70% do dinheiro estrangeiro investido no país no ano passado era de origem asiática. A América Latina, segunda região em investimento, respondeu por 15%, anuncia a matéria do Financial Times. Nossa porção chinesa é a seguinte: em 2009, garantimos US$ 92 milhões dos cofres das gigantes chinesas. Ou fizemos bem o dever de casa, ou a China começou a enxergar um ótimo parceiro, pois neste ano o governo brasileiro estima que atrairá US$ 10 bilhões da mesma fonte. Sério mesmo? Eu acho que a iniciativa é chinesa.

Difícil prever os mecanismos destas conexões cada vez mais estreitas, mas, de novo, um mandarinzinho básico não faria mal. Repita comigo: Ni  hao, que escrito em caracteres fica 你好. Com tanto otimismo sobrando por aí, garanto que você nem perceberá que a empreitada talvez seja difícil. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Chiang que conquistou a China

DEM. Esta é a marca por trás de muitas marcas chinesas. Uma companhia de branding, design de interiores e de projetos de ponto de venda que há dois anos aportou em Shanghai, vinda de Taiwan.

Até aí tudo bem. Os negócios entre ambos os lados do estreito – o eufemismo utilizado para que não seja necessário explicar se se trata de dois países, um país ou qualquer outro detalhe geográfico que o valha – só fazem crescer em tempos de pujança econômica. O enrosco, hoje, é primordialmente político.

Pois é no campo político que está a ironia em relação à DEM. O nome do dono diz muita coisa: Demos Chiang. Sim, a família tem peso na história chinesa. Ele é bisneto de Chiang Kai-shek (1887-1975), que fugiu da China em 1949 após uma longa guerra civil que culminou na fundação da República Popular da China, o modelo comunista à Mao Zedong. Chiang era o presidente chinês, à frente do Partido Nacionalista, o inimigo da revolução proletária que culminaria cerca de 30 anos depois no socialismo com características chinesas – o mecanismo que permite muita coisa, até a reconquista de Shanghai pelos Chiang.

Rapidinho em 1949 mais uma vez, é desde esta data que Taiwan se declara independente, que a China declara Taiwan chinesa e que o estreito ganhou status de eufemismo. Cruzá-lo é cada vez mais fácil. E é nesse intercâmbio intenso que se resgatam e redescobrem traços da cultura milenar chinesa, justamente um dos pilares da DEM. Parace mesmo que Demos curte a função de cruzar fronteiras e construir pontes.

O rapaz educado no Ocidente também se diz arauto da mistura fina entre modelos ocidentais e orientais. Um resgate patriótico, interpreta o China Daily, jornal oficial chinês em inglês – e onde o jovem empresário figura como destaque. Tanto Chiang biso quanto Mao e seus seguidores pudessem duvidar do feito, mas o jornal parece satisfeito ao mostrar que a maior parte dos negócios de Demos ocorre na porção continental do país (a China, menos Taiwan, Hong Kong e Macau). E o moço, claro, é só satisfação.

Entre os clientes, tanto do escritório em Taipei quanto do de Shanghai, estão Sony, Swatch, Motorola e Lenovo. Em solo chinês, a DEM foi responsável pela recém lançada Shanghai Vive, linha de cosméticos de luxo. Foi a empresa também que incluiu uma fênix chinesa nos carros de Fórmula 1 da Renault, além de brincar com pincéis chineses na principal loja da Louis Vitton em Kaohsiung, em Taiwan.

Para ler a matéria publicada no China Daily, em inglês, siga o link: http://www.chinadaily.com.cn/usa/2010-08/31/content_11234004.htm

Aqui, você confere a empresa: http://www.dem-global.com/en/