quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As diferenças culturais, a mídia e o mundo bizarro chinês


Oies, pessoal.
Sodades, sodades.

Mando esse email por dois motivos, um é para dizer que dia 16 chego por aí - o que, em tese, significa Porto Alegre. O outro é para falar sobre o não entendimento brasileiro sobre a China - e aqui o vice-versa cabe perfeitamente, mas não vem ao caso agora.

Dia desses me deparei com uma notícia no G1 traduzida de um jornal austríaco que falava sobre a moda entre os casaizinhos chineses de tirarem fotos quase pelados para o álbum de casamento - aqui, algumas vezes a sessão de fotos dos pombinhos custa mais caro do que a própria festa. Mesmo não custando, é tão importante quanto. E, se bobear, tem álbum e não tem festa, se a grana estiver curta. 

Enfins, com a moda mais sensual, erótica ou meio sem noção, diria eu, parece que a associação dos fotógrafos resolveu se pronunciar, dizendo que casamento não era exatamente o momento para celebrar o sexo. E na tradução para o português, que talvez esteja também no tal jornal austríaco, falava-se que o matrimônio é sagrado, por isso não poderia ser, digamos, profanado.

Aí comentei com a Cláudia e com a Bruna, minhas amigas, sobre o caso e o quão distante a referência a matrimônio estava da realidade chinesa. Aqui, a união tem um caráter civil e não há qualquer peso cristão na decisão. É, claro, uma convenção social, mas não religiosa. 

Eis que hoje me deparo com a mesma notícia, desta vez traduzida do site Orange News, no site da Época Negócios. Comecei a ler o texto, tava quase enviando para as gurias, e iria comentar que tinham acertado o tom. Aí chego na última frase, que fala algo como "A moda vale só para as fotos. Imagina a cara do padre se eles entrassem peladões". Tipo assim, não há padre, sabe? Os casamentos aqui são celebrados, na maioria, em hotéis e restaurantes, com um mestre de cerimônia que, de novo, não tem esse caráter religioso. Não é o representante de ninguém etéreo na Terra.

Os casamentos têm outros ritos, e muitas noivas até se vestem de branco - mas em geral, elas usam três vestidos na festa, um para cada momento. Poucas casam na igreja. E mesmo a igreja aqui não é exatamente a igreja que você conhece aí na sua esquina, pois o Vaticano e a China não se conversam muito bem desde os tempos de República Popular.

Aí fiquei pensando que jornais, sites, revistas e tvs adoram dedicar tempo, espaço e dinheiro ao que é bizarro na China. Mas até reportando o bizarro mostram um desconhecimento total da cultura do país. Às vezes acho a raça jornalística tão, tão, tão preguiçosa. Desde que inventaram o control C control V o que vale é colar. A gente nem pensa se estamos colando certo ou não. 

Bom, segue o link da última matéria, pra quem ficou curioso. E um beijo pra vocês

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

China versão eco-moderna e repaginada

 

A China apontou sete setores industriais para receber políticas fiscais e de financiamento prioritárias nos próximos cinco anos, dentro do 12º Plano Quinquenal, o mecanismo que elege as prioridades e traça metas de médio prazo para o país. O 12º plano será válido entre 2011 e 2015.

 

Serão priorizadas empresas dedicadas à tecnologia de informação de nova geração, proteção ambiental e economia de energia, novas energias, biologia, produção de equipamentos de alta tecnologia, novos materiais e veículos movidos a novas energias.

 

A lista oficial foi divulgada na última quarta-feira, mas não especificou as regiões que receberiam os novos parques industriais. Certo é que o... mais? www.janajan.com

terça-feira, 26 de outubro de 2010

60 anos na guerra da Coreia

Os líderes chineses estão comemorando nesta semana os 60 anos do ingresso na Guerra da Coreia, episódio que deixou milhares de mortos e marcou a primeira demonstração de força do Exército chinês pós-Mao ante as forças militares dos Estados Unidos e da então União Soviética, isso entre 1950 e 1953.

 

Xi Jinping, recém alavancado ao posto de sucessor de Hu Jintao, apareceu junto ao presidente para felicitar os mártires chineses e dizer que o movimento de 60 anos atrás foi ... quer saber mais ? www.janajan.com, com direito a um timelapsezinho sobre a fronteira sino-norte-coreana singelamente editado por esta que vos escreve.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A última vila de Mao

Nanjie é um achado na China. A vila de 4 mil habitantes localizada na província de Henan guarda até hoje traços do maoísmo que pregava a coletivização do trabalho e a igualdade social. Ali, todos têm as mesmas casas, o mesmo salário e praticamente os mesmos benefícios, desde que cumpram requisitos que geram mais ou menos estrelinhas vermelhas em seu cadastro. Quanto mais estrelinhas, melhor – e os méritos são alcançados por bom comportamento comunista.

Visitei a vila em abril deste ano, em companhia do jornalista francês Daniel Bastard, que é o autor do vídeo logo abaixo ... mais em www.janajan.com

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O próximo presidente chinês

Beijing encerrou hoje a plenária de quatro dias que sedimenta o caminho para a formulação do 12º Plano Quinquenal (2011-2015) com a escolha do vice-presidente Xi Jinping como também vice-presidente da Comissão Militar Central, presidida pelo todo poderoso atual, Hu Jintao. Em tese, o ato indica que Xi será o sucessor de Hu, o quarto após Mao Zedong fundar a República Popular da China. Ainda houve Deng ... leia mais em www.janajan.com

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Liu Xiaobo é Nobel da Paz

O professor de literatura e escritor Liu Xiaobo (刘晓波), de 54 anos, é o Nobel da Paz 2010, o primeiro cidadão chinês a receber o prêmio. O anúncio desta sexta-feira em Oslo, capital norueguesa, é certamente a mais nova dor de cabeça de Beijing e mais um capítulo do embate entre o país e o Ocidente.

- Ele é o principal símbolo da ampla luta pelos direitos humanos na China – afirmou o presidente do Instituto Nobel, Thorbjoern ... mais em www.janajan.com

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bill e Buffett


Descubra em www.janajan.com o que os ricaços norte-americanos andaram fazendo em Beijing durante jantar com bilionários locais. A propósito, será que a comida foi boa e a conta cara? 

A China verde dá as mãos a ativistas

A cidade portuária de Tianjin, quase vizinha à capital chinesa, Beijing, é sede de 4 a 9 de outubro da última rodada de negociações preparatórias para a conferência das Nações Unidas sobre o clima em Cancun (COP 16), que acontece de 29 de novembro a 10 de dezembro, no México. É, portanto, uma das últimas oportunidades para alinhavar acordos internacionais importantes e que selem avanços no final do ano. Caso contrário, pode significar o enfraquecimento das convenções anuais, especialmente depois de o que se considerou o fracasso de Copenhagen.

Ante quase 3 mil delegados de cerca de 200 países, a China afina o discurso oficial aos dos ambientalistas, algo que pode soar tão estranho quanto cozinhar folhas de alface em molho apimentado – um clássico nos restaurantes de hotpot chinês. Em resumo, a questão verde (esqueçam o alface) é a seguinte: ... hum, acesse www.janajan.com e saiba qual é a questão.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O aborto e a Dilma

Os resultados das urnas no primeiro turno para a Presidência surpreenderam muita gente. Dilma Rousseff (PT) acabou com 46,91%, seguida de José Serra (PSDB), com 32,61%, e Marina Silva (PV), 19,33%.

Em épocas em que até uma vitória da petista era tida como um dos cenários possíveis já no primeiro turno, foi o momento para pensar nos porquês do resultado, considerado como fracasso por alguns – e pela cara de Dilma no último domingo, ela se inclui nesses alguns.

Eis que um dos motivos apontados para o crescimento de Marina no final da corrida eleitoral e para o declínio de Dilma foi o fato de a segunda ter se posicionado a favor do aborto, enquanto a primeira é contra e ousa, no máximo, discutir a legalização por meio de um plebiscito (fala sério, plebiscito esse só para reforçar o status reaça da sociedade brasileira, que orgulhosamente exibe uma das leis mais proibitivas do mundo em relação a esta questão, tratando-a como crime).

Enquanto nos apoiamos em preceitos éticos e morais e a religião permeia o debate ... mais em www.janajan.com

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A ilha da discórdia e a desagradável morte do panda

Senkaku (尖閣諸島) ou Diaoyutai (钓鱼台群岛)?

Ambos os nomes referem-se ao mesmo local, um complexo de oito ilhotas inabitadas que soma 6,3 quilômetros quadrados de terra, a 120 milhas náuticas de Taiwan e a 200 milhas náuticas tanto da China continental quanto da porção setentrional japonesa de Okinawa.

Você escolhe quem apoiar e adota a primeira denominação, nipônica, ou segue os preceitos do mandarim e escolhe a segunda. A área historicamente pertence a um e a outro país, conforme a versão adotada. Desde 1970, é questão frequente nas disputas territoriais sino-japonesas por características peculiares, como reservas de petróleo e oferta abundante de pescados. Você vai de kaoyu ou de sushi? Embora o último seja mais famoso em terra brasilis, gastronomicamente eu bem que fico na dúvida sobre qual dos dois é mais gostoso (e, em tempo, kaoyu pode ser singelamente traduzido como peixe assado, mas acrescente pimenta a gosto – e por aqui há bastante gosto).

Falar em temperar, Taiwan gosta de botar um temperinho extra nesse molho e também ... hum, quer ler mais? Acesse www.janajan.com

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Céu azul brinda Beijing com dias incríveis

Beijing está linda nesta última semana.

A temperatura oscila entre agradáveis 12 e 25 graus, uma perfeição brindada pelo céu azul. 

Estamos em meio a dias atípicos - não só pela folga que tivemos da incômoda poluição. Na última quarta-feira foi feriado nacional em virtude do festival de Meio Outono, a noite em que a lua cheia é a mais cheia na China no ano, e no dia 1º de outubro se comemoram os 61 anos da República Popular da China. A cidade está florida, canteiros estão em todas as esquinas e praças de Beijing. 

O céu azul pode ser bênção divina a esse país que só cresce e quer moldar uma orientação mais ecológica que, na verdade, não tem. Então é preferível acreditar que não se trata de bênção alguma, mas que o trabalho seja do Escritório de Modificação do Clima, a repartição chinesa em que deve ser mais legal trabalhar, desde que você não se sinta desconfortável com o fato de que talvez esteja contribuindo ainda mais enfaticamente para a explosão do planeta. Sério, qualquer hora isso tudo vai pelos ares - ares poluídos ainda por cima. 

Então eu apostaria que os mocinhos dos escritórios de modificação do clima país afora acharam por bem ter o dia de Meio Outono lindo, que é quando familiares e amigos fazem visitas uns a outros para ofertar bolinhos de lua, o que está longe de ser delícia, mas é tradição. Agradeço tanto pelo coelhinho da Páscoa trazer chocolate. Se é para engordar, que as calorias valham a pena, né? 

Enfin, deixa para lá as calorias. Agora será a hora de celebrar a unificação do camarada Mao, a revolução proletária, a reforma e abertura, o socialismo com características chinesas, a economia que só cresce, etc, etc. O céu vai continuar azul.

Para compartilhar tamanha felicidade ante uma semana, quem sabe 10 dias de dias maravilhosos, eis uma foto tirada ontem no 798, um antigo complexo fabril militar - na verdade, algumas unidades ainda funcionam - construído na década de 1950 por engenheiros especialmente importados da então Alemanha Oriental que optaram pelo estilo Bauhaus nas construções. Pois ante uma estratégia que levou muitas das unidades à bancarrota, na década de 1990 o lugar passou a abrigar artistas plásticos. Abandonados, alguns galpões foram alugados pelos tais artistas porque eram espaçosos, com muita luminosidade e incrivelmente baratos. O galpão da 798 abrigou a primeira galeria do lugar e acabou por batizar toda a região, com exposição permanentes ou temporárias e aberto o ano todo.

Hoje a região é conhecida como o Soho nova-iorquino, ninguém mais mora lá porque os aluguéis estão pela hora da morte, mas tudo o que você quer ver de bom em termos de arte chinesa estará lá. Dá para achar em outros lugares também, mas lá é meio parada obrigatória. Para gente como eu que já mora aqui, é ideal para uma escapadela da cidade e para comer comidinha boa, tomar café barato e ficar distribuindo ois para os amigos. Porque uma galera acaba tendo a mesma ideia.

Me dá a batata

A batata, o tubérculo de origem peruana descoberto pela Europa através dos espanhóis ainda lá pelos idos de 1.500 e tanto, já aportou à China décadas atrás como solução para a fome em algumas áreas. No entanto, nunca perdeu entre os locais o status de comida de estrangeiros – imortalizada na apresentação frita e sequinha das redes de fast food, como KFC e Mcdonalds.

Agora, a inocente batata, que assume ares de delícia chinesa em pratos como o tudousi, ou tiras de batatas cozidas temperadas com vinagre e pimenta e que em mandarim se grafa 土豆丝


Ops, interrompemos esta transmissão para informar que se você gostou e quer continuar a ler, pode acessar www.janajan.com.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um novo sitezinho


Agora para brincadeiras, assunto sério e até trabalho, há um simpático endereço que eu, se fosse você, clicaria: www.janajan.com .  

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Futuro Líder

A Coreia do Norte está prestes a indicar o próximo sucessor na linhagem Kim, na única dinastia comunista de que se tem notícia. Kim Jong-un, o filho mais novo do Querido Líder, Kim Jong-Il, deverá ser o escolhido.

O encontro que poderá indicar a sucessão deveria ocorrer no início de setembro, mas foi adiado. Agora, a agência oficial norte-coreana, a KCNA, anunciou que a conferência do Partido dos Trabalhadores da Coreia ocorrerá dia 28, quando será eleita a cúpula do partido. Ninguém sabe ao certo o que exatamente será anunciado e que papel caberá a Jong-Un, mas espera-se que este seja o primeiro passo rumo à sucessão.

Jong-Un deve ter menos de 30 anos e provavelmente estudou na Suíça na adolescência, embora alguns especialistas em Coreia do Norte sugiram que o caçula do Querido Líder nunca tenha saído do país. Até hoje, circula apenas uma foto dele pela internet, e o antigo chef de Jong-Il, um japonês que adotou o nome fictício de Kenji Fujimoto, descreve o menino como o preferido do pai. Fujimoto escreveu um livro de memórias sobre os 13 anos em que foi o chef do ditador. Especialistas acreditam que muito do que se conta seja mesmo verdade. E o japonês conta que Jong-Un tem muito a ver com o pai: fisicamente e psicologicamente. Ele teria herdado o estilo cruel e implacável do pai, diz Fujimoto.

Observadores estão antentos à movimentação da reunião inédita desde 1980. Ainda que o futuro líder ainda seja considerado novo por muitos, é preciso prepará-lo. A saúde de Jong-Il se deteriora desde um suposto derrame sofrido em 2008. Na ocasião, quando se afastou do palco político, o poder efetivamente ficou nas mãos do cunhado Jang Song-taek, casado com a irmã mais nova do então convalecente, por alguns meses. Song-taek também deve ser nomeado para algum cargo importante na cúpula partidária da próxima terça-feira. E, se for necessário, será o responsável por conduzir Jong-Un pelos caminhos do governo numa eventual transição, apostam estudiosos no tema.

  • Sob o arco-íris da montanha sagrada

O próprio Jong-Il foi nomeado sucessor do Grande Líder Kim Il-Sung aos 38 anos, em 1974, mas o poder mesmo, só assumiu com a morte do pai, em julho de 1994. Até hoje ele não é presidente, cargo que cabe ao fundador da República Popular e Democrática da Coreia, o nome oficial do país. Coube a ele o título de Querido Líder e os louros de ter nascido na montanha sagrada de Baektul, sob um duplo arco-íris. Mas presidente ele não é. O presidente é morto, aliás, mas é eterno.

A história real indica que o segundo governante da Dinastia Kim tem a Rússia como país natal, uma vez que seus pais estavam exilados na fronteira sino-russa com a Coreia para brigar contra a invasão japonesa. Enfim, para que se apegar a detalhes se o arco íris da montanha sagrada é tão mais poético.

A história oficial a ser contada para Jong-Un ainda é desconhecida, assim como a real e, principalmente, como a política que o jovem pode adotar. Em uma nação voltada ao militarismo e afeita a contendas nucleares, é melhor abrir o olho mesmo. Fujimoto-san talvez não esteja 100% correto no livro – editado apenas em japonês e coreano -, mas se ele acertou que Jong-Un era o queridinho do Querido Líder, por que não desconfiar de que se trate de um jovem cruel? Ademais, ele é o  jovem que tem pela frente o desafio de alinhar economicamente o país, que sofre com escassez de recursos e onde nem a comida é suficiente.

A esperar por terça-feira.

Os otimistas estão chegando

O brasileiro é o segundo povo mais otimista do mundo. Adivinhe quem são os primeiros? Os chineses. Bem, pelo menos isso é o que conta uma pesquisa realizada entre 10 de abril e 6 de maio pelo instituto norte-americano Pew Research Center.

 O motivo para a alegria? Acertou quem disse que foi a economia. Entre  os brasileiros, 50% estão satisfeitos com a situação geral do país. Entre os chineses, este índice pula para 87%. Mas tudo bem, quem sabe, chegaremos lá.

A frase é batida, mas é verdade: as relações entre os dois países só faz crescer. Tudo bem que os chineses têm uma baita vantagem também financeira nesta balança. E vai ver que é daí que advém a vantagem otimista também. Afinal, eles estão 27 pontos percentuais a nossa frente nesse quesito, ainda que em pesquisa a gente esteja habituado a margens de erro de dois ou três pontos percentuais para cima ou para baixo. Já dá uma diferença, mas que eles continuariam na frente, ah, isso eles continuariam.

O tal affair sino-brasileiro que só cresce já desperta curiosidade mundo afora – há quem diga que talvez também desperte inveja, mas isso é especulação. O Financial Times dia desses publicou matéria em que analisa essa relação crescente entre duas das maiores economias em desenvolvimento. O futurologismo do jornal aponta: pode se tornar a aliança mais poderosa na economia global em uma década.

Não é pouca coisa. Os dois países já são os maiores parceiros comerciais. As companhias chinesas que haviam feito investimentos diretos de US$ 5,5 bilhões fora do país em 2004 aumentaram este montante para US$ 56,5 bilhões no ano passado. Você já sabe que em se tratando de China, os números, até os de crescimento, são um tanto escandalosos, não é? Pois há projeções de que os tais investimentos diretos cheguem a US$ 100 bilhões em 2013. Sim, antes da Copa, aquela com a qual sonhamos para alavancar nossa economia. Eu começaria a aprender mandarim em vez de só inglês, viu. A gente nunca sabe quando será necessário atrair um capitalzinho e fechar um negócio da China.

O Brasil não fala em Ásiadependência, mas fato é que 70% do dinheiro estrangeiro investido no país no ano passado era de origem asiática. A América Latina, segunda região em investimento, respondeu por 15%, anuncia a matéria do Financial Times. Nossa porção chinesa é a seguinte: em 2009, garantimos US$ 92 milhões dos cofres das gigantes chinesas. Ou fizemos bem o dever de casa, ou a China começou a enxergar um ótimo parceiro, pois neste ano o governo brasileiro estima que atrairá US$ 10 bilhões da mesma fonte. Sério mesmo? Eu acho que a iniciativa é chinesa.

Difícil prever os mecanismos destas conexões cada vez mais estreitas, mas, de novo, um mandarinzinho básico não faria mal. Repita comigo: Ni  hao, que escrito em caracteres fica 你好. Com tanto otimismo sobrando por aí, garanto que você nem perceberá que a empreitada talvez seja difícil. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Chiang que conquistou a China

DEM. Esta é a marca por trás de muitas marcas chinesas. Uma companhia de branding, design de interiores e de projetos de ponto de venda que há dois anos aportou em Shanghai, vinda de Taiwan.

Até aí tudo bem. Os negócios entre ambos os lados do estreito – o eufemismo utilizado para que não seja necessário explicar se se trata de dois países, um país ou qualquer outro detalhe geográfico que o valha – só fazem crescer em tempos de pujança econômica. O enrosco, hoje, é primordialmente político.

Pois é no campo político que está a ironia em relação à DEM. O nome do dono diz muita coisa: Demos Chiang. Sim, a família tem peso na história chinesa. Ele é bisneto de Chiang Kai-shek (1887-1975), que fugiu da China em 1949 após uma longa guerra civil que culminou na fundação da República Popular da China, o modelo comunista à Mao Zedong. Chiang era o presidente chinês, à frente do Partido Nacionalista, o inimigo da revolução proletária que culminaria cerca de 30 anos depois no socialismo com características chinesas – o mecanismo que permite muita coisa, até a reconquista de Shanghai pelos Chiang.

Rapidinho em 1949 mais uma vez, é desde esta data que Taiwan se declara independente, que a China declara Taiwan chinesa e que o estreito ganhou status de eufemismo. Cruzá-lo é cada vez mais fácil. E é nesse intercâmbio intenso que se resgatam e redescobrem traços da cultura milenar chinesa, justamente um dos pilares da DEM. Parace mesmo que Demos curte a função de cruzar fronteiras e construir pontes.

O rapaz educado no Ocidente também se diz arauto da mistura fina entre modelos ocidentais e orientais. Um resgate patriótico, interpreta o China Daily, jornal oficial chinês em inglês – e onde o jovem empresário figura como destaque. Tanto Chiang biso quanto Mao e seus seguidores pudessem duvidar do feito, mas o jornal parece satisfeito ao mostrar que a maior parte dos negócios de Demos ocorre na porção continental do país (a China, menos Taiwan, Hong Kong e Macau). E o moço, claro, é só satisfação.

Entre os clientes, tanto do escritório em Taipei quanto do de Shanghai, estão Sony, Swatch, Motorola e Lenovo. Em solo chinês, a DEM foi responsável pela recém lançada Shanghai Vive, linha de cosméticos de luxo. Foi a empresa também que incluiu uma fênix chinesa nos carros de Fórmula 1 da Renault, além de brincar com pincéis chineses na principal loja da Louis Vitton em Kaohsiung, em Taiwan.

Para ler a matéria publicada no China Daily, em inglês, siga o link: http://www.chinadaily.com.cn/usa/2010-08/31/content_11234004.htm

Aqui, você confere a empresa: http://www.dem-global.com/en/

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pressões da vida moderna

A manhã chinesa começou com outro caso de horror em jardins de infância do país. O agressor identificado como Wu Huanmin, de 48 anos, matou sete crianças - cinco meninos e duas meninas - e uma professora, voltou para casa e se suicidou. Ainda há um adulto e outras 11 crianças feridas, duas delas em estado grave. 

O caso das 8h desta quarta-feira na pequena vila de Lichang, na província de Shaanxi (a mesma famosa pelos Soldados de Terracota, localizados em Xi'an) é o quinto semelhante ocorrido em menos de dois meses. Segundo um especialista, cujo nome não é revelado, ouvido pela agência oficial de notícias, a Xinhua, as causas dos crimes são as pressões da vida moderna. Bela explicação para um crime ainda sem explicação. 

O primeiro da série, em 23 de março, teve o médico Zheng Minsheng como protagonista, num ato - desesperado? - após perder o emprego e a namorada. 

Como na China as armas de fogo são ilegais - e ainda que existam clandestinamente, não são fáceis de serem compradas - todos os casos envolvem mortes a facadas ou marteladas, um traço ainda mais cruel do que seria o desespero da tal pressão da vida moderna. 

Para mim, impossível não traçar um paralelo com uma característica que, embora seja baseada apenas em observações minhas por aqui, sem que sequer tenha lido ou ouvido alguma opinião mais efetiva a respeito, chama-me muito a atenção: os chineses, em geral, mais do que uma habilidade para copiar o comportamento alheio, o fazem quase como uma necessidade premente e inadiável. Ou não haveria outro jeito de descarregar as pressões da vida moderna que atacando criancinhas em jardins de infância?

O governo já prometeu a ampliação da segurança no entorno de escolas e jardins de infância e, ainda que circule extraoficialmente, a ideia seria atirar para matar supostos agressores. 

A morte ronda quem se sente pressionado, digamos. Hoje também foi o dia do anúncio do sexto caso de suicídio envolvendo funcionários da gigante de componentes eletrônicos Foxconn, um conglomerado de origem taiwanesa cuja planta em Shenzhen, no sul da China, emprega 300 mil pessoas. Todos os casos ocorreram ali. 

A Foxconn, que pertence ao grupo Hon Hai, produz equipamentos para a Apple e Sony, por exemplo. Além de extensas jornadas de trabalho e salários que podem não ser necessariamente motivo de inveja, a empresa prima por sigilo, dado ao alto grau de complexidade e sofisticação dos equipamentos que produz. Qualquer vazamento de informações de projetos conjuntos que realiza com as bambambans de gadgets e quetais poderia significar agito no mercado, quebra de contrato e algo por aí. Quem trabalha por ali é submetido a controle estrito. Fichinha. Os tais 300 mil empregados já vivem uma rotina sob slongas do fundador do conglomerado, Terry Gou, cujas fotos adornam paredes de um prédio aqui, outro acolá, tipo cantinas e outros essenciais à vida desta comunidade trabalhadora.

E seguem a imitação de tendências, estas tais tendências vindas das pressões da vida moderna, como disse o amigo especialista anônimo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Dia da Cultura Brasileira na China

Olha que bacana,
no último domingo, dia 9 de maio, a gente reuniu uma galera, mais de 200 pessoas, no 2 Kolegas, um bar com espaço ao ar livre aqui em Beijing para o Dia da Cultura Brasileira. Começamos às 14h com joguinhos pras crianças, teve homenagem para as mães, feijoada, pão de queijo, roda de capoeira, samba e professora de samba. A noite terminou, ou começou, com esta que vos escreve nas pick-ups (ahan), numa festa que foi das 19h à meia-noite.

Ficou um registro em fotos, que se parecem meio vídeo, que vocês podem conferir aqui.

Se der vontade, a próxima edição vai ser 13 de junho, também minha despedida da cidade. 
:(

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Estamos em luto, entendeu

Hoje se completa uma semana do terremoto de 7,1 graus na Escala Richter em Yushu, distrito de minoria tibetana na província chinesa de Qinghai. Segundo os números oficiais, pelo menos 2.064 pessoas morreram e há 175 desparecidos. Para ajudar no resgate, 8 mil soldados do Exército de Libertação Popular estão no local.

Não bastassem todas as cicatrizes pós tremor, o tempo frio - com tempestades de neve e de granizo - se alia à altitude, são quase 3,9 mil metros, para complicar a situação. Sem energia elétrica, com pouca infra-estrutura, o povoado nas montanhas, perto do Tibete, irá se recuperar a duras penas. 

Em uma semana, a pacata Yushu se transformou em palco de batalhas mais intricadas que apenas as operações de resgate exaustivas, esforço que reúne os soldados, monges, população local e exclui qualquer ajuda humanitária exterior. A China agradeceu via Ministério das Relações Exteriores o oferecimento de ajuda internacional, mas disse que tem número suficiente de gente para dar conta do recado.

O tibetano que define a população local atrai holofotes e acende debates, provoca paixões e garante decisões e considerações algumas vezes precipitadas. O Dalai Lama anunciou que queria vir apoiar a população local. Falou, mas não pode vir. Assim como quase toda a ajuda do exterior. Repórteres estrangeiros por lá ficam testemunhando o que podem, dizendo que a comitiva do presidente, Hu Jintao, barrou até a passagem de ambulâncias, por alguns momentos. 

Uma reedição do luto e dos esforços durante o terremoto de Sichuan, aquele que deixou quase 90 mil mortos em maio de 2008. Na TV, se repetem os esforços para arrecadar doações. Hoje, todos os canais são um só, tudo está fechado, ninguém se diverte. 

Luto forçado. Na internet chinesa, nem o Google, que andou protagonizando embates com o governo central devido à censura, escapou à regulamentação estatal e suspendeu o serviço de donwloads de músicas - que assim como serviços de jogos online, bate papo ou qualquer outra atividade que signifique diversão, estão inacessíveis ao longo de todo o dia. Até o site de compras online, o Taobao, gigante que seria uma espécie de Amazon local, exibe as cores preto e branco.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Parece, mas não é

Deu no China Daily, o jornal chinês em inglês: os anônimos que têm as caras das celebes. O Ronaldinho chinesinho tá um charme.

A galeria inteira você encontra neste link (http://www.chinadaily.com.cn/photo/2010-04/01/content_9677516.htm) e, são, por motivos óbvios, com estrelas chinesas majoritariamente.

terça-feira, 23 de março de 2010

Um país, dois sistemas: Um Google

O Google resolveu botar fim à contenda com o governo chinês, aberta em janeiro deste ano, quando a gigante norte-americana unilateralmente resolveu banir a auto-censura, desviando os serviços do Google na China continental para os servidores de Hong Kong. Agora, quando você digita www.google.cn, aparece no seu browser www.google.com.hk.

O anúncio, previsto para a segunda, 22 de março, tirou o sono dos chineses. Em terras orientais, ainda se respirava o que poderia ser o sereno da madrugada não fossem os rescaldos da tempestade de areia vinda da Mongólia Interior, que acabou por deixar a capital chinesa amarela na segunda - e que, como um prenúncio do comunicado googleano, também se abateu sobre a ilha, ainda que, em geral, seja apenas assunto interno do continente. 

Voltemos ao Google. A empresa norte-americana fez o anúncio já na terça, 3h, no horário de Beijing, despertando os oficiais à frente da questão. Quem acordou em hora de gente e foi para a internet ler as notícias chinesas em inglês, logo viu na capa do China Daily o que seria a reação oficial. 

"A Google violou sua promessa escrita feita ao entrar no mercado chinês ao retirar os filtros no serviço de busca e acusando a China em insinuações sobre supostos ataques de hackers", diz o comunicado. Bonitinho esta coisa de violar a promessa escrita, né.

Para os executivos da Google, a manobra, além de parecer legal, é razoável. A ver. Óbvio que já há boatos de que, em retaliação, o governo pode bloquear acesso tanto ao serviço de Hong Kong quanto ao serviço norte-americano, como já fez com Youtube, twitter, Facebook. Um serviço estrangeiro a mais ou a menos não faria a menor diferença. Ou faria?

Bueno, faria, sim. Ao expor em janeiro os motivos da possível saída, a Google acendeu discussões mundo afora, afinal não é todo o dia que uma empresa, ainda que bem das pernas, ao que parece, desiste de um mercado potencial de quase 400 milhões de usuários, segundo números atuais (e que só crescem). Em termos gerais, caso você não lembre da história, a Google disse que sairia porque cansara de censurar termos proibidos - a lista aquela que qualquer ocidental ligado em China já deve saber de cor, coloque aí Massacre da Praça Tiananmen e Dalai Lama. Tipo assim, a empresa teria ficado pê quando descobriu supostos ataques a contas de e-mail nos Estados Unidos de dissidentes ou pessoas ligadas a movimentos de direitos humanos na China. A empresa deu até o endereço de onde supostamente teriam partido os ataques, uma universidade em Shanghai e uma escola técnica secundária da província de Shangdong. Tudo oficialmente negado pelas autoridades chinesas, claro.

Para além do que seria um escândalo de ciberataques e espionagem, o caso Google x China é considerado histórico por desnudar a questão da censura dentro e fora do país. Criado o caso, ainda revela outra face, uma certa preferência do governo chinês por empresas nacionais, dificultando a entrada de negócios estrangeiros. Sim, é óbvio que isso também é veemente negado por Beijing, não se preocupe. Caso haja preferências, elas não são explícitas. Ou não eram. 

Um fato é certo. Ao debandar para Hong Kong, a Google nos lembra de o quão esquizofrênica é a relação da China com a parte não continental do país. Explicando. Hong Kong deu vida à expressão Um País Dois Sistemas, o mecanismo que permite regalias aos moradores da ilha ao passo que está sob o governo central de Beijing. 
Também permite ali o capitalismo do mal sem qualquer disfarce e serve de entreposto de importações e exportações, que encontram naquelas paragens praticamente paraísos de isenção fiscal ou taxas preferenciais antes de aportarem nos destinos finais - perfeito para chineses e estrangeiros que fazem negócios . Isso tudo porque, caso você não lembre, Hong Kong era uma concessão inglesa. Só retornou ao domínio chinês em 1997, processo que levará a uma total unificação somente em 50 anos. Talvez o Google venha dar dicas de qual dos dois sistemas prevalecerá em 2047, mas não custa nada sonhar que seja o mais democrático hongkongnense, né.