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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Zou Bah!

Para você, o título aí de cima pode não fazer muito sentido, mas quer dizer "vamos lá", em chinês. O Bah do final só confirma uma lenda: a China é mesmo gaúcha (alguém já ouviu falar nesta lenda?).

Bueno, não importa. O que importa é que Beijing vai ficar ainda mais gaúcha no dia 5 de setembro, um sábado, quando as três gauchinhas Fernanda Morena, Paula Coruja e esta que vos escreve tomarão as pickups do Obiwan, bar bacana do mundo underground, cult ou qualquer que seja o rótulo moderninho que você queira dar. Sim, tudo isso existe por aqui.

A trilha sonora do passeio pelo indie rock e outras viagens musicais tem forte influência de casa - para matar a saudade e mostrar com quantos paus se faz rock and roll, já disse o Flávio Basso. Mas não é só de Cascavelletes que a gauchada alimenta iPods e quetais, então os gringos daqui curtirão ainda Cachorro Grande, TNT, Bandaliera, Ultramen, Damn Laser Vampires e outra penca de gente.

Enough of samba é o nome da festa, por razões óbvias. O pezinho na quadra, na roda faz parte da nossa cultura, mas está na hora de ampliar os horizontes do cavaquinho e do pandeiro, dum banquinho e violão da Bossa Nova.

Para botar um tempero neste mix bairrista, as moças vão mostrar novidades do rock n'roll, num passeio que vai das bandas chinesas P.K.14, Snapline, Tookoo e Carsick Cars às francesas Noir Désir, Les Innocents, M e Vive la Fête. Velharia também tem vez, porque AC/DC, Joy Division, The Clash, Beatles e Hendrix nunca fizeram mal a ninguém.

Minhas companheiras de balada também fervem na cena cultural chinesa – e mostram o que veem por lá na infosfera. Fernanda edita e produz o Bsides, site com versão em português (www.bsideschina.net) e inglês e chinês (www.bsideschina.com) sobre cultura pop e contemporânea, enquanto Paula mantém o olho atento no que rola por pelo www.comendodepalitinho.blogspot.com.

A criação do flyer da festa, que está circulando nas revistas, sites e bares de Beijing, também é dos pampas. A assinatura do layout é da Renata Dihl, do www.gaiacriacao.com.br.

Aqui, uma das revistas: http://www.cityweekend.com.cn/beijing/events/51682/?most_viewed=1

E, claro, sem o Melão, nada disso estaria acontecendo tanto assim.

:)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cervelle de pigeon

Esquenta em Beijing e a pedida é sair à rua. Bicicletas, amigos, quem sabe música e cervejinha antes ou depois do passeio. Pois foi este o programa do final de abril, com minhas amigas Paula e Tarsila e o francês Pierre, que de violão em punho nos brindou com Adieu minette, ou Adeus, garota.

A música de Renaud, um sessentão francês que bebeu da fonte do movimento estudantil de 1968 em Paris para começar a compor e protestar contra os hábitos da pequena burguesia, as injustiças sociais e todas estas outras futilidades da boa vida não proletária, tem uma ironia e um sarcasmo rasgados para falar destas garotas cabecinha de vento. Na versão francesa, "cérebro de pomba", expressão que dá título a este post.

Eu, cerebrinho avícola (com todo o respeito à classe penosa) fiquei com o som francês na cabeça, peguei uma câmera e saí por Beijing cantarolando à noite, pra tentar registrar a capital num quê de escuro, mas em temperaturas pra lá de agradáveis, como estas nas casas dos 20ºC que agora são comuns por aqui quando cai o sol.

O registro ruim somado à inabilidade no editor de vídeos não garante um resultado dos mais animadores. Mas é de coração, espero que cliquem.

Bici à noite from Janaína Camara da Silveira on Vimeo.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Burrocratices


Hoje precisava pegar o metrô duas vezes, para ir e voltar de Xuanwumen (宣武门), onde moro e trabalho. O destino seria Dawanglu (大望路), onde sigo firme e forte nas sessões de acupuntura. Superesperta, resolvi comprar dois cartões de metrô, a fim de poupar tempo na volta.

Chego no guichê eletrônico de Dawanglu, meu bilhete não funciona. Pergunto para uma moça, ela manda eu ir ao guichê, onde há uma fila para comprar os tíquetes. Foi-se o tempo poupado.

No guichê, a moça pergunta se comprei o cartão em Xuanwumen, e digo que sim. Ela gentilmente troca. E eu me pergunto: Se apesar de Beijing ter uma infinidade de linhas, o que você pode ver no mapa abaixo, uma viagem tem o mesmo valor, então por que cargas d'água só posso usar o bilhete que comprei em Xuanwumen em Xuanwumen e assim sempre para todas as outras estações?



Só pra constar, antes não comprava bilhetes porque tinha um cartão permanente, roubado junto à minha carteira.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Cachorrada



O registro aí acima é de um simpático cachorrinho aguardando pacientemente a sua vez no açougue. Tirada no último sábado em um hutong na região de Houhai chamado Mianhua Hutong, guarda pra mim uma autêntica tortura chinesa.

Não, não pense que o bicho irá para a faca dentro em pouco, ele é um amado bichinho de estimação. A coisa toda é que cachorro amarrado dentro do açougue, pobre cãozinho!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Comer, beber, ler


A Bookworm é o que mais se aproxima de uma Livraria Cultura aqui na China, com sede em Beijing e filiais em Chengdu e Suzhou. Você come, bebe, vê gente interessante e tem acesso a livros que nem o governo permitiria. Em inglês - ou caso você seja um associado, na língua em que você encomendar sua obra preferida. Associados, aliás, podem pegar emprestados os títulos do acervo da biblioteca.

Este universo literário-gastronômico-etílico está aberto diariamente das 9h à 1h e eu só fui conhecer na semana passada. Sorte ou azar, ainda não sei. Certo é que posso gastar lá muitos e muitos kuais, como é chamado o dinheiro chinês na gíria, tipo mango, pau, pila. Pensando assim, sorte que poupei um monte de grana.

Sorte que fui a tempo até a Bookworm - que significa traça, mas, na gíria, designa devoradores de livro. Quer dizer, na prática também, anyway. O a tempo eu já explico. É que de 6 a 20 de março o local vai celebrar o Festival Literário, evento que trará à China escritores libaneses, norte-americanos, jornalistas, poetas, chineses, outros estrangeiros, uma porção de gente bacana. A programação é tão extensa que pretendo ir falando sobre ela aos poucos.

Agora, se você for curioso, pode clicar aqui para estudar por si próprio e decidir se terás ciúmes de mim nestes dias. Eu teria. Seria o maior azar se não tivesse pintado pela livraria na hora certa.

Aliás, o que nos ensina a Bookworm:

"Não há amor mais honesto do que o pela comida", Bernard Shaw

"Vinho é a coisa mais civilizada do mundo", Ernest Hemingway

"Ler para viver", Gustave Flaubert

**

Apesar de os autores aí acima serem bem conhecidos do público ocidental, é a quantidade de gente destas bandas daqui ou que fala sobre a China e arredores o que mais me prendeu à livraria. Eu estou lendo agora, por exemplo, Socialism is Great, da chinesa Lijia Zhang. A história é sobre ela mesma, como deixou um trabalho em uma fábrica de foguetes em Nanjing para se tornar jornalita. Eu ainda estou no início, mais eu conto depois, prometo também. Lançado em 2008, não creio que haja versão em português.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Um restaurante

Dali Courtyard 北京 (caracteres que significam Beijing) é um dos melhores restaurantes a que já fui na capital chinesa. Por menos de R$ 40, incluindo uma bebida, você faz um passeio gastronômico pelo sudoeste do país, mais precisamente à província de Yunnan, que faz fronteira com o Vietnã. Dali é o nome de uma cidade da região.

O restaurante fica no hutong Xiaojingchang, na região de Gulou, próximo a Nanluoguxiang, uma das ruas de bares e restaurantes mais cool da cidade. Ficar dentro do hutong, as antigas vilas da capital, neste caso, significa ser construído numa casa que preserva o mesmo design daquelas construídas séculos atrás, conhecidas em chinês como siheyuan (四合院) - nome que se refere aos quatro pontos cardeias, leste, sul, norte, oeste. Em termos bem simples, é uma caixa com um jardim no meio. E mais explicações ficam para outro post, porque agora nós vamos falar de comida.

Dali tem mais de 4 mil anos de história e reúne 25 minorias étnicas da China, entre as quais a Bai é a maioria, representando 65% da população. Hoje, a cidade é paraíso de hippies mochileiros, um tanto pela natureza, outro tanto pelo astral, que dizem ser ótimos. Eu nunca fui. Ainda!

Fato é que a comida de lá é maravilhosa. Ou a comida de lá servida em Beijing. Se você pensa em uma comida chinesa muito saudável, certamente irá procurar pelos sabores de Yunnan.

O restaurante a que fomos tem uma regra especial. Você não escolhe os pratos, apenas informa aos garços se tem alguma restrição alimentar. Não tendo, prepare-se para uma um banquete de delícias. Ontem começamos com uma salada de tofu em lascas, numa espécie de talharim, temperado com vinagre e hortelã. Tivemos ainda carne de gado, macarrão de arroz frio temperado com pimentas vermelhas e... um camarão a vapor temperado com folhas de limoeiro que vou te contar. Come-se de joelhos.

O mais legal do restaurante é ir no verão, quando a gente senta ao ar livre. O único truque é ligar para reservar, sob pena de você chegar e bater com a cara na porta. Se estiveres em Beijing, aqui está o site. Pegue o telefone e vá com fome, muita fome. Ah, para beber, a cerveja Dali é a pedida.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pintou clima



Beijing teve três dias de neve seguidos, de terça a quinta-feira, tempo suficiente para a paisagem mudar e a gente ficar com o maior jeito de criança pelas ruas, de câmera na mão querendo registrar tudo. Ok, falo por mim, mas é inevitável esta sensação boba que chega junto aos flocos brancos.

Para nevar, sabe você, é necessário a temperatura adequada somada a uma umidade também, veja só, adequada. E, bem, esta última não é exatamente o forte de Beijing. Depois que a neve se foi, agora o índice já está em 29%.



Mas numa cidade em que existe o Centro de Comando de Modificação do Clima, seus problemas praticamente acabaram. São Pedro, ou o equivalente a ele nestas bandas asiáticas, garantiu nuvens e frio por um dia. O Centro não teve dúvidas. Aproveitou a mãozinha e pediu o braço inteiro. Conseguiu ampliar os dias de precipitação graças ao bombardeio de nuvens com cápsulas de iodeto de prata.



O objetivo principal era acabar com a seca. Para se ter uma idéia, Beijing ficou 110 dias sem chuva, até 12 de fevereiro. Foi a maior estiagem em 38 anos. A chuva - ou neve - veio exatamente no dia da Água da Chuva, uma das 24 divisões solares de acordo com o antigo calendário solar-lunar chinês, data em que normalmente chove. São bons estes caras, né?



As fotos que ilustram este post foram tiradas na manhã desta quinta-feira, a caminho do trabalho, à exceção da primeira, tirada à noite, quando voltava pra casa depois de uma bela cervejada.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A neve do 19º andar



Ontem voltei pra casa com neve, minha roupa ficou branquinha. Hoje ao acordar, me deparei com este cenário branco, tão raro na Beijing que, na maior parte do tempo, é seca, seca. Para se ter uma idéia, havia mais de 100 dias que não chovia por aqui, período interrompido por um mísero diazinho e uma chuvinha mais ou menos semana passada.

Agora, as condições climáticas garantiram uma nevinha, que, vez ou outra, é tri charmosa, ainda mais se eu pensar que no Brasil eu nunca vejo os floquinhos (aliás, uma das coisas mais engraçadas a se descobrir em relação à neve, é que os flocos são mesmo como os desenhos mostram, ou seja, tem extermidades que se dividem em uma espécie de estrela. E têm uma textura de isopor.

Hoje a humidade relativa do ar está em 86% - um montão, se pensares que há dias em que este índice cai para menos de 20%, a neve é leve e, pelo que vejo na previsão, amanhã continuaremos a ter floquinhos na cabeça.



Ah, ontem à noite, vindo de bike pra casa, descobri que neve nos olhos incoda. Tive de botar meus óculos escuros pra andar. Pedalando e aprendendo.

As duas fotos foram tiradas na hora em que acordei, de dentro do meu quarto, que fica no 19º andar.

Massinhas chinesas

Dia desses fui a um restaurante chamado Loft MianKu (escrito assim em madarim: 面酷), um local onde se comem massas (mian) oriundas da província de Shanxi (山西). A região, famosa pela produção de carvão, também responde pelos mais deliciosos vinagres da China. E vinagre é assunto sério nestas bandas. Vai com a massa, com saladas, com jiaozi - os famosos gyoza, como ficaram popularizados no Brasil.


O restaurante tem um astral muito peculiar. As paredes são pintadas num clima meio grafite. Panelas imensas com água fervendo lembram os restaurantes de lamen (ラーメン) que encontramos às pencas no Japão - pra quem está em São Paulo, a dica é ir ao gracinha Aska, na Liberdade.



Voltando a Beijing, o MianKu se notabiliza pelas massas feitas na hora, o que inclui modelar os pedaços em frente aos clientes. De um pedaço considerável de massa saem deliciosos espaguetes, bastando para isso que o cozinheiro antes se dedique a um intrincado estica e puxa - a expressão notabilizada pela Xuxa, vejam só.

Para quadradinhos, pega-se uma tira e vai-se arrancando nacos quadrados até que todo o pedaço tenha ido parar dentro d'água. Outro show. Tem foto aí abaixo, mas ao vivo é bem melhor. Quem diz isso acho que é o Faustão. Nossa, que fase a minha.



Uma das especialidades da casa é o macarrão de espinafre. Um fio comprido, comprido é cozido junto (sério, as massas ficam menos de dois minutos na água fervente, al dente, al dente!) e depois colocado inteiro no prato. Comprido é tipo uns 2 metros, imagino. Pois no dia do aniversário, o vivente tem de comer o fio de massa de cabo a rabo sem quebrá-lo ou mordê-lo, a fim de garantir que terá uma vida longa e sem percalços. Haja coração! Ai, não, Galvão Bueno só poderia aparecer por aqui pra indicar que esta é a rua onde fica o Aska, no número 466 (e pra quem perdeu o fim da meada, o Aska é o restaurante de lámen em São Paulo).

Bueno, o MianKu tem características chinesas que vão além da feitura das massas e do vinagre como condimento especial. O horário é o de jantar chinês, o que significa que é melhor nem pensar em ir até lá se já tiver passado das 21h30min. O preço segue os padrões chineses e, com duas cervejinhas por pessoa, a refeição custa uma média de 60 kuais, ou em torno de R$ 20.

Aqui abaixo, você vê dois tipos de massa, a de espinafre e um espaguete. Ao lado, estão diferentes molhos que acompanham. Você pode escolher entre sabores como refogado com carne de gado, beringela em conserva, entre outros. A pequenina chaleira - marrom que se vê na foto - traz o vinagre.



Pulinho no Japão

Se pela China as massas de Shanxi fazem sucesso, no Japão são as de Kyushu que têm boa reputação. O nome remete à ilha mais ao sul do arquipélogo, considerando-se as principais do país, que incluem ainda Hokkaido, Honshu e Shikoku.

O lámem de lá é o tonkotsu ramen (os japas escrevem ramen, e em katakana fica assim: ラーメン), massa também al dente cozida num ensopado consistente de porco. Na hora em que o prato é servido, dá-lhe fatias de porco para completar o visual e o sabor.

Quem estiver por Tokyo ou de viagem marcada para lá, é bom guardar o nome Kyushu Jangara Ramen, que em japonês é escrito assim 九州じゃんがらラーメン. Espalhado pelos principais bairros da capital japonesa, como Harajuku e Shibuya, a rede é simplesmente deliciosa - Taihen oishi desu!

Dica: o cardápio vem só em japonês e escolhido o prato, você faz o pedido no caixa e paga antes. Depois fica atento até o cozinheiro chamar.


De volta pra casa




Depois do passeio oriental, observe como terminou a noite no MianKu.




Enquanto os meninos que antes preparavam a massa matavam a fome,



outros davam um jeito de deixar tudo limpo pro dia seguinte.



Achei o maior barato a limpeza. Juro.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

No mundo da lua



Quer um passeio rápido, fácil e barato de fazer em Beijing e ainda superinteressante, vá ao Antigo Observatório da Cidade, o Guguanxiangtai, ou 古观象台.

Pra chegar, basta pegar o metrô linha 2 até a estação Jianguomen, sair pela saída C e você vai dar de cara com a construção que se transformou no primeiro museu da república chinesa. São peças da astronomia antiga, algumas das quais datam dos idos - e que idos! - de 1400 e tantos, num mix de sabedoria astronômica chinesa com os conhecimentos trazidos pelos jesuítas já nos séculos 17 e 18.

Um dos instrumentos menina dos olhos é a Esfera Armilar (foto abaixo), criado pelos chineses e que teve papel fundamental durante as navegações, pois como mostra as coordenadas celestiais, servia para que os navegadores soubessem de sua posição aproximada em relação aos astros. É praticamente um bisavô dos telescópios, que, a partir de anéis articulados nos pólos, traz representações do equador, dos meridianos e dos paralelos, por exemplo.



Esta tal esfera armilar é tão importante para as expedições que virou símbolo do português Dom Manuel I - o rei português durante cujo reinado foi descoberto o caminho marítimo para as Índias e o valoroso Brasil, terra em que se plantando tudo dá. Aliás, até hoje a esfera compõe o brasão de armas de Portugal, que está na bandeira do país. Ela também já tremulou no pavilhão do Brasil Império, simbolizando as conquistas e a influência lusa em todo o mundo.

Outros dois ângulos da esfera:





Mas deixemos tanto papo familiar para voltarmos à China.

O observatório foi aberto em 1442, durante a dinastia Ming (1368-1644), na mesma época da inauguração da Cidade Proibida, quando a capital foi transferida para Beijing. À época, ficava colado a um dos muros de proteção da cidade - hoje, com a expansão da capital, a localização é supercentral.

Além da esfera armilar, feita em 1436, foi instalado uma esfera simplificada, que tinha as mesmas atribuições da primeira, mas era constituída de um mecanismo mais simples. Esta, foi desenvolvida em 1439 e você pode ver ali na foto abaixo. Além disso, havia um globo terreste e um relógio de água - para contar as horas e os dias do mês, construído quatro anos depois.



Em 1900, quando o local já estava bem mais preparado, Beijing foi invadida por tropas de oito países diferentes. França e Alemanha ocuparam o observatório. Os franceses confiscaram vários dos objetos - que misturavam o barroco à ciência astronômica chinesa - até a embaixada, devolvendo-os um ano depois. Já os alemães levariam cinco dos objetos para "casa", só os devolvendo em 1921, finda a I Grande Guerra Mundial.



O observatório funcionou ininterruptamente até 1929, quando foram criadas unidades em Shanghai e na Montanha Púrpura. Depois de instituída a República Popular da China, em 1949, o local passou a ser o braço histórico do Planetário de Beijing, só reaberto ao público em 1983.

Abaixo, outra esfera, com os detalhes que poderiam ser barrocos, mas com características mais do que chinesas.







Bichos



Os animais, na astronomia chinesa antiga, representam os quatro pontos cardeias e dividem as posições das estrelas, como mostra este esquema na foto acima. Pra se coordenar, lá vão as explicações:

- Dragão Azul: Leste
- Pássaro Vermelho: Sul
- Tigre Branco: Oeste
- Tartaruga Preta: Norte

Tudo bem que o desenho está em preto e branco, mas vocês podem imaginar o azul, o vermelho e o branco do dragão, do pássaro e do tigre, né!

**
Eu disse que o passeio era barato. Pra terminar este post gigante, a informação. O ingresso pra visitar o observatório custa 10 yuans, ou algo em torno de R$ 3 e R$ 4.

Figuras chinesas

Morar na China é viver eufemismos.

Bem, chegar aqui significa conhecer e incorporar uma gama incrível de novas habilidades, da gastronomia ao andar de bicicleta em meio a este trânsito maluco. Fora as questões práticas do dia a dia, talvez seja importante prestar atenção no quanto os eufemismos permeiam a sociedade. Eles podem ser a chave para uma vida tranquila por aqui. Pensando bem, eu classificaria o tema como outra das questões práticas do dia a dia.

Incorporar os eufemismos e conviver com eles pode ter dois impactos fortes: você pode se tornar cínico ou adotar uma postura um tanto quanto hipócrita em relação a tudo que o cerca. Entendê-los como fundamentos de uma sociedade que não é a minha me parece o melhor caminho. Sem meias palavras e sigo em frente, me resignando quando não tenho outra escolha.

No último sábado, fui com a Cláudia Trevisan ao distrito de arte 798, um antigo chão de fábrica da época de Mao que hoje abriga de galerias a restaurantes - e recebe democraticamente artistas de rua com violãozinho e voz chata e estridente na calçada, além de ambulantes.

O local, no qual a arte contemporânea começou a aparecer entre 2002 e 2003, já recebeu mais turistas do que a Cidade Proibida em 2007. Lá nos deparamos com a exposição Solution Scheme, ou um esquema para a solução, série de fotos em que a prostituta Yu Na é dirigida pelo fotógrafo Xu Yong, que ganhou fama na China ainda na década de 1990 ao fotografar hutongs, o emaranhado de casas e ruelas que abrigavam os altos funcionários de governo nas dinastias Qing e Ming em Beijing e que hoje servem de moradia para gente de classe mais baixa, especialmente.

Mas voltemos à Solution Scheme e aos eufemismos. As fotos trazem Yu Na nua, no comando das cenas, em que vários homens atuam como coadjuvantes. É ela quem tem o disparador na mão (claramente presente nas imagens) e escolhe o momento exato do clique. Na descrição em inglês, entendemos que se trata de uma prostituta dirigida por um artista. Na versão em chinês, ela é apresentada como uma acompanhante (getingzuotaixiaojie, ou 歌厅坐台小姐) - garota que trabalha em bares, boates e casas de karaoke, mas que, necessariamente, nao precisam fazer sexo com o cliente. Eufemismo, ainda que descarado. Ou imagens valem mais do que mil traduções?



Conversei com dois amigos chineses e fiz a mesma pergunta: Qual o significado de 歌厅坐台小姐? Um prontamente me disse que se tratavam de garotas pagas para fazerem sexo. O outro me "vendeu" a tese de se tratar apenas de acompanhantes. Seja qual for o caso, ainda na versão em inglês da apresentação da exposição, os artistas deixam claro que a prostituição é tema tabu na sociedade chinesa. Alguém duvida?

***

Eu precisava de uns dias de folga, e teria de tirá-los adiantado, pois ainda não os tenho. Tentei todas as negociações possíveis, mas não houve jeito. Resignei-me. Hoje me ligaram do Departamento Pessoal para avisar sobre meu cartão de saúde, que está pronto desde JUNHO. Estamos em FEVEREIRO.

Moral da história: a ligação ocorreu hoje apenas para que eles se certificassem de que eu não viajei escondida, tendo eventualmente negociado com instâncias inferiores. Dizer que meu cartão estava pronto foi um eufemismo. Poderia ter sido simplesmente: "Que bom que você está aí, não viajou".

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Esqueça o Youtube


Os sites chineses populares por aqui não são Youtube ou Google, muito menos Orkut. Aqui se assiste vídeo no Youku, se faz buscas no Baidu. Redes sociais, não sei, mas que o Facebook até que tem adeptos por aqui, ah, isso tem.

Pois hoje buscando no Baidu, descobri inúmeros vídeos sobre o incêndio que atingiu o prédio do hotel Mandarin Oriental logo atrás da nova sede da CCTV, no centro econômico e financeiro de Beijing.

Ontem, ao chegar ao local, foi fácil perceber todo o mundo capturando imagens com telefones e câmeras. Hoje a rede está inundada de flagras.

O governo chinês hoje se pronunciou oficialmente sobre as causas do fogo. Uma empresa contratada para fazer um show pirotécnico do topo do prédio de 40 andares teria usado artefatos proibidos. No incêndio, não houve vítimas, mas um bombeiro que atuou no combate ao fogo morreu na manhã desta terça-feira em decorrência de problemas respiratórios. Outros seis bombeiros estão internados, além de um trabalhador da construção civil.

O que eu ainda não ouvi falar é sobre o destino do prédio.

***
As imagens sáo da página do Baidu sobre o incèndio de ontem.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Hotel no complexo da CCTV arde em chamas em Beijing


Beijing – e a China inteira – celebra hoje o Festival das Lanternas, comemoração de origem milenar que marca o fim dos festejos do Ano-Novo Chinês e última data em que é possível soltar fogos de artifício na região central da Capital. E talvez um destes fogos tenha dado início a um incêndio que, pelo que vi, destruiu um prédio de 40 andares que daria lugar a um hotel da rede Mandarin Oriental, marca de luxo.

O edifício fica no novo complexo da CCTV, a rede estatal de televisão chinesa cujo projeto arquitetônico é aclamado como uma das maravilhas contemporâneas. Quem assina é o holandês Rem Koolhaas. Certo é que deveria estar pronto antes da Olimpíada, mas não deu, a área toda ainda estava vazia. Motivo por que se acredita que não haja vítimas.

A hipótese do fogo provocado por petardos pra mim ainda é muito remota. A gente sai pela rua e tem foguinho de tudo quanto é lado. Difícil um acertar justamente um dos prédios modelo de arquitetura e urbanismo contemporâneo. Ou só uma triste coincidência, ainda mais no último dia em que a brincadeira era permitida. Mais, só no ano que vem.

Correndo para pegar um táxi e ver as chamas, um fogo estorou bem perto de mim, dentro do meu condomínio, fazendo com que uma janela de um apartamento simplesmente se estilhaçasse. Pensei: onde estou me metendo...

O táxi parou a cerca de dois quilômetros do prédio que ardia em chamas. Corri como uma louca, mas quando cheguei, se o fogo ainda estava longe de ser controlado, pelo menos não se viam mais labaredas gigantes, como eu soube que teve ao ver vídeos e fotos de pessoas que haviam chegado bem antes do que eu. Atravessando um viaduto para acessar a região, apinhada de chineses tentando entender o que acontecia próximo a um dos símbolos da cidade – fincado no centro financeiro de Beijing – alguns avisavam: feiji lai le, feiji lai le, que significa que vinha vindo um avião. Realmente algo se movia no céu, e acho que deveria ser um helicóptero da polícia. As referências ao 11 de Setembro e um temor de ataque terrorista, acho, no entanto, acabam sendo inevitáveis.

Já perto do complexo, um vaivém de carros da polícia e ambulâncias, além de viaturas do corpo de Bombeiros, dava um tom de filme. Surreal, na minha frente. Mesmo tendo chegado mais de 21h à região de Guomao – cuja tradução é World Trade Center -, ainda não havia um cordão de isolamente, e os curiosos, que somavam milhares, sem ser exagerada, andavam pra lá e pra cá fazendo imagens, conversando com as pessoas, observando. Jornalistas de todo o mundo brotaram e se perguntavam o que poderia estar acontecendo.

Velhos, jovens, adultos, crianças, policiais, freelancers, fotógrafos, repórteres de todas as mídias estavam todos ali, alguns dos quais me provocando inveja. Sem um smartphone ou algo que o valha, estava no local da cena, mas nem sequer o Twitter eu poderia atualizar. Fiquei pensando o quanto somos já dependentes da informação instantânea, mesmo que ela não contenha o número de vítimas, as causas do fogo, o que vai acontecer com o prédio.



Mais, daqui a pouquinho.

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A primeira imagem é minha, mas cheguei quando as chamas já estavam meio que sob controle e, além disso, minha maquininha é bem ruim.

A segunda imagem é de um especial sobre o caso publicado pelo site chinês Tencent QQ, um dos mais famosos do país. Detalhe: o especial está no ar desde cerca de três horas depois do início do fogo.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Adeus Ano Velho



Simples assim: basta clicar em qualquer dos blogs aí ao lado que falam sobre a China e verás que estão contando sobre as comemorações do Ano-Novo chinês.

A festa é a mais importante para os chineses, é o momento de encontro familiar e descanso. São sete dias de lazer, não importa se há crise ou não. O país para. Ou quase isso. Na verdade, ocorre uma movimentação para lá e para cá de proporções chinesas: gente que não acaba mais embarcando e desembarcando de trens, ônibus, aviões, botes, jangadas. Bicicletas. É gente que viaja para encontrar parentes, gente que viaja com os parentes para conhecer destinos turísticos.

Apenas Beijing recebeu 3,24 milhões de visitantes no feriadão, 20% a mais do que no ano passado. Em termos de rendimento, foram 15% de incremento no setor turístico. Nada mal, não?

É bem verdade que eu não tenho fotos das comemorações. Sabia da confusão que estaria nas ruas e não fiz nenhuma questão de enfrentar multidões a -5C. Amigos contaram que estava difícil pegar o metrô, que houve quem desistisse de conhecer a Cidade Proibida e a o Templo do Céu devido às filas intermináveis. E isso que os locais mais populares durante o Festival da Primavera foram as instalações feitas para sediar a Olimpíada do ano passado. Quem passeou pelas feiras em Beijing, tradicicionais durante este período e que podem ser traduzidas como uma mega festa do interior, com barraquinhas, circos de bizarrices e ambulantes vendendo toda a sorte de bugigangas, também relata superpolação pelos parques.

Meu plano de uma programação mais zen em meio ao frenesi comemorativo chinês, no entanto, não foi totalmente satisfeito. Seguindo a tradição de estourarem fogos de artifício para espantar os maus espíritos no ano que chega, o que se percebe ao longo da semana é uma artilharia incessante de petardos, sejam eles coloridos ou apenas barulhentos. Aliás, se é o barulho que espanta os espíritos, nada mais natural imaginar que as cores e formas dos espocos são meros acessórios, caem bem à noite. Mas se é pra começar o ano com o pé direito (será que chinês tem esta expressão? Preciso perguntar) o que vale é o alarde sonoro. E viva a pólvora!


Findos os festejos, todos de volta ao trabalho. E, daí, sim, espanto. Hoje é domingo e quem folgou ao longo de sete dias, agora bota a mão na massa. O domingo virou dia útil e a pirotecnia exarcebada está na lembrança.

Agora não tem mais desculpa. Começamos mesmo a ano, é hora de cumprir as resoluções que eu havia tomado lá no distante 31 de dezembro, mas que posterguei porque haveria outra virada para ter como desculpa.



***

France Connexion

A Anne-Laure, uma francesa que trabalhou comigo aqui no ano passado, explicou que, de um ponto de vista puramente francês, você ainda tem até o dia 31 de janeiro para desejar tudo de bom no ano novo. Algo como ter todo o primeiro mês do ano para se acostumar com a ideia de que temos de mudar o ultimo dígito na hora de datar documentos (no ano que vem, serão dois) e de darmos uma desculpa àquela preguiça tantas vezes implacável que nos faz NÃO mandarmos email, telefonarmos ou encontrarmos os amigos queridos logo nos primeiros dias de janeiro.

Seguem os desejos e as explicações da Anne:

D'un point de vue purement français, le 31 janvier est assurément le dernier moment pour vous souhaiter espoir, joie, amour, vaillance, ardeur et douceur, légèreté et profondeur (entre autres bonnes choses dont l'inventaire exhaustif prendrait jusqu'à l'an prochain).

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A primeira foto deste post é da Alma, tirada no 19°andar, onde eu moro com a Paula. Foi durante a nossa comemoração de ano-novo, como conta, em espanhol, outra Alma.

A foto sob fumaça é minha do Cris e da Maíra, quando meus irmãos vieram comemorar o ano-novo chinês comigo. Estávamos em Sanlitun, rua boêmia da cidade.

Por último, tem um clique da Mariana, feito pouco antes de irmos a Sanltiun, quando fomos até a casa dela para celebrarmos com pirotecnia a chegada do Ano do Rato.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Ah, a Olimpíada

Hoje o departamento de turismo de Beijing divulgou que o Ninho de Pássaro, o estádio onde ocorreram as cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada do ano passado na capital chinesa é um dos destinos preferidos dos turistas neste feriado de Festival da Primavera na cidade. Em cinco dias, o parque já recebeu 80 mil turistas.

Lembrar do Ninho de Pássaro, me fez lembrar o período olimpíco na cidade, a expectativa das pessoas, a minha, do mundo. Então resolvi publicar aqui um vídeo feito para o extinto China in Blog, em que eu e a Aida, minha tradutora, saímos para saber o que os chineses esperavam do evento esportivo.

Passeamos por um hutong, que são os bairros por assim dizer em que viviam funcionários importantes do governo há coisa de 600 anos em Beijing, mas que hoje abriga, na maioria, camadas mais baixas da população. Abriga também um charme e um encanto únicos, com cheiro de Beijing de antigamente, com jeito de cidade pequena, com algo que me faz cair de amores por hutongs.

Bueno, vamos ao vídeo

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quem bate?

13h, hora do banho, já que trabalho às 14h30min. Estava saindo do box, fiquei sem luz. Quem leu há poucos dias o blog, lembra que não pude voltar pra casa porque meu prédio estava sem energia, sem elevador, eu sem energia para subir 19 andares.

Lembrando disso, bateu certo panicozinho e alguém bate à campainha. Melhor atender, né? Vai ver é um moço que vai me explicar o que está acontecendo e resolver o problema.

Ainda perguntei:

- 谁啊?- Ou, Shei a? (uma expressão que significa "quem é", na qual o "a" final está ali por puro cacoete linguístico comum aos moradores de Beijing).

O moço do lado de fora respondeu muitas coisas que totalmente escapam à minha compreensão, mas entendi o 公司 (gongsi) do final, ou seja, companhia, empresa. Abri a porta, deixei entrar, não entendi xongas, liguei pra dona da casa, também chinesa, com quem pouco me comunico e deixei os dois conversando. Ela explicou alguma coisa que eu não entendi e então, fiquei olhando pro moço, que não ia embora.

Talvez nesta altura seja conveniente eu explicar que como eu havia recém saído do banho, eu estava vestindo uma camiseta e tinha uma toalha enrolada à cintura (sim, eu faço coisas ridículas na China que no Brasil não faria nem sob tortura, do tipo, abrir a porta mal vestida. Mas, poxa, imagina ter de descer 19 lances de escada... Eu jurava que era urgente).

Bueno, o cara não ia embora. Eu não entendia o que ele queria, a não ser cobrar 4 mil kuais, um montante que dá aí uns R$ 500, numa conversão grosseira e preguiçosa que fiz agora de cabeça. Liguei pro meu escritório, a fim de que alguém servisse de tradutor pra mim. Expliquei a situação pro meu chefe, que falou com o chinês e depois veio falar comigo, ao telefone:

- Jana, eu acho que ele é um ladrão.

- Ah, tá. Que que eu faço com um ladrão dentro da minha casa agora?

Bueno, a coisa era que o cara era de uma empresa de reforma de casas e apartamentos e não iria embora sem receber o dinheiro, grana que a dona ficou devendo pra ele. A dona não iria lá para pagar para o cara, eu precisava sair para trabalhar, o cara não saia da minha casa, meus colegas falavam comigo, com a dona, com o cara, tudo por telefone. Eu de toalha, já nervosa, quase ficando com um certo medo. Pedi pra chamarem a polícia.

A estas alturas, eu já gritava com o cara, num mandarim sofrível. Ele me dizia:

- Daqui não saio, daqui ninguém me tira. A dona vai chegar em cinco minutos.

- Eu não tenho cinco minutos. Eu preciso trocar de roupa. Você pode esperar ali fora, não pode esperar dentro do apartamento - eu respondia.

- 不明白 - ou, bu mingbai, que é não entendi, insistia.

E eu replicava que ele entendia, sim. E voltava a dizer:

- 我没有五分钟。 我想换衣服。 你可以等外边。 不可以等房子里边 - que é justamente "Eu não tenho cinco minutos. Eu preciso trocar de roupa. Você pode esperar ali fora, não pode esperar dentro do apartamento", ou "Wo meiyou wu fenzhong. Wo xiang huan yifu. Ni keyi deng waibian. Bu keyi deng fangzi libian". Sacou o mandarim?

Isso já era aos gritos, eu meio que empurrando a criatura e segurando a toalha já que, totalmente exasperada, a última coisa que eu poderia fazer naquele momento era jogar a toalha.

Passados uns 40 minutos, com a promessa de que a polícia subiria ao meu apartamento (a gente tem uma base da polícia dentro do nosso condomínio, exatamente em frente ao nosso prédio), alguém ligou para o chinês maluco, suposto ladrão, e ele foi embora.

Troquei de roupa, bateu a polícia. Minha explicação foi maluca, eu não sabia dizer tudo isso em chinês, liguei de novo pro meu chefe, que explicou o que tinha ocorrido, agradeceu a gentileza dos policiais e eu desci com os dois moços. Eles me ofereceram um cigarrinho, prontamente recusado, e eu fiquei contando que era brasileira, morava há um ano e meio em Beijing, era jornalista e não tinha tempo de estudar chinês, em resumo, as únicas coisas que sei dizer.

A dona é uma caloteira, eu agora não abro mais porta para estranhos e ainda fico me perguntando por que minhas semanas não podem passar sem uma emoção doméstica.

奥巴马入主白宫


Os sete caracteres aí de cima devem ser lidos assim: Aobama ruzhu BaiGong. Pra quem precisa de tradução, aqui vai: Obama dono da Casa Branca.

Nesta terça-feira, o afrodescendente se tornou o 44°presidente norte-americano, mas isso todo o mundo já sabe, tamanha a repercussão da posse em Wanshington. Só no local, segundo li em jornais por aí, havia 2 milhões de pessoas enfrentando o frio para ver o moço de perto.

Em Beijing, a Obama Mania garantiu faturamente extra a bares que nem sempre estão lá muito lotados durante a semana. O Saddle Cantina, por exemplo, apostou numa comemoração para a posse, com telões ligados a todo o volume e o resultado foi uma casa abarrotada. Estive lá por dois minutos e decidimos ir ao Lugas Villa, logo atrás do Saddle, ambos no bairro boêmio de Beijing, Sanlitun.

Ali três telões estavam ligados à transmissão da BBC, cujo som estava conectado ao sistema da casa. Volume máximo, outra casa cheia (mas não lotada) e silêncio total durante o discurso de Obama. Na plateia, chineses, norteamericanos, canadenses, indianos, franceses, portugueses, brasileiros e mais um monte que eu talvez soubesse, caso perguntasse prum público estimado - por mim, claro - numas cem pessoas.

Bush foi vaiado, Obama ovacionado, mas a sensação que ficou do discurso foi de uma fala morna, que não teria o impacto daquele de Lula em 2003, quando o petista tomou posse no Congresso Nacional. Pelo menos assim lembravam os brasileiros presentes.

Eu discordo. Pelo menos uma frase está nos discursos dos dois eleitos: A Esperança Venceu o Medo. Frase de efeito? Sim, mas é ela que simboliza a mudança, que marca a escolha pelo diferente - o caso do petista no Brasil, do afrodescendente nos Estados Unidos. Na verdade, interessa muito mais o que Obama fará na Casa Branca (já que é o dono do local, segundo o termo cunhado pelos chineses) do que a fala diante da família Bush, dos seus seguidores e de seus opositores. Ali, ele tinha de ser elegante, polido, burocrático, sim, e inteligente o suficiente pra apontar caminhos.

Neste sentido, acho que ele tocou em temas que precisava. A crise por que passam os Estados Unidos agora é comparada à de 1929, então não estamos brincando de eleger um presidente negro para mudarmos a cara do poder estadunidense. Estamos realmente diante de desafios que exigirão dele maturidade e competência. Uma palavra em todo o discurso me tocou, curiosidade. É desse valor, disse Obama, que os norte-americanos precisam para enfrentar os desafios e chegarem ao sucesso. Curiosidade aliada a trabalho duro e honestidade, coragem e justiça, tolerância, lealdade e patriotismo.

Pra mim, é mais do que bonito falar em curiosidade. E, sim, tolerância ao lado da curiosidade, como usou Obama no discurso, é tudo o que faria do mundo um lugar melhor, na minha visão. Barulho ele já começou a fazer. Poucas horas depois de ser efetivamente o presidente, ele já pediu que os processos conduzidos ante comissões militares da Base de Naval de Guantánamo fossem suspensos por seis meses. Seriam 21 casos, um dos quais envolve cinco homens acusados de tramar os ataques de setembro de 2001 - momento emblemático do governo de Bush filho, em que a guerra ao terrorismo passou a ser a desculpa oficial para ocupações em outros países e aperto nas regras relativas a estrangeiros no país.

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A imagem deste post é uma reprodução do site especial que a CCTV, a televisão estatal chinesa, fez sobre a posse do Obama, que às vezes vem acompanhado só do Barack, às vezes do H. e, como ele usou na hora do juramento antes da posse, do Hussein que traz no nome.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sabado estarei de casa nova

A terceira aqui em Beijing, a primeira que escolhi com a marida Paula. O apartamento é uma gracinha, no meio do bairro muçulmano da capital chinesa. Os chineses muçulmanos vêm, na maioria, da região autônoma de Xinjiang. O que tem lá... bem, ainda não sei bem, nunca fui.

Mas o que tem aqui de melhor é a culinária daquela região. Já era fã do dapanji, um prato de galinha e massa regado com muito, muito molho de tomate. Sem contar os churrasquinhos de carne de ovelha e os modos como eles preparam arroz, muitas vezes misturados à carne ou legumes, com destaque pra cenoura.

Pois ontem eu e a Paula descobrimos ao lado de casa o kaobaozi, uma maravilha que consiste em minis-pastéis de forno com recheio de carne de ovelha num tempero pra lá de no ponto. Viramos absolutamente fãs. Sem contar o seguinte, no restau, a cerveja é gelada.

Nos avisaram que não teríamos problemas no bairro muçulmano, a menos que gostássemos muito de carne de porco. O maior super da região não vende...

Então, bem-vindos a uma nova viagem dentro da mesma cidade, às vésperas das férias. Tou na contagem regressiva. Falta um pouquinho mais de um mês, bem pouquinho!

domingo, 1 de junho de 2008

Houhai de noite e de dia


Lago congela mesmo no inverno, mas agora é aí que se anda de pedalinho
Foto: Moya Buxton/Especial China in Blog

Praticamente regra. Pegue qualquer guia sobre Beijing e se depare com um roteiro obrigatório para curtir a noite: Houhai (后海). A região de lagos - são dois - é central e cercada por bares e restaurantes. Agito na certa.

Mas eu, moradora da cidade, discordo um pouco sobre Houhai como destino pra balada. Acho uma mistura musical meio demais (agora no verão, principalmente, há um monte de grupos tocando com sons que "vazam" para a rua, e não é possível ouvir nem a música do bar que o vivente escolheu, nem a do boteco vizinho).

Também acho os preços altos - uma cerveja long neck sai por até R$ 10, e às vezes, mais do que isso. E a gastronomia deixa a desejar, salvo honrosas exceções, como a Pizzaria Hutong (bom, mas quem vai querer pizza se está recém chegado aqui?) ou o vietnamita No Name (comida apimentada e nem tanto, preço sempre salgado).

Mas tudo bem, melhor não desencorajar totalmente. A região é agradável, ponto. Agora, pra mim, o segredo está em curtir Houhai de dia. Foi lá que passeei de riquixá com a Tati, assim que ela chegou por aqui. No lago, ainda é possível andar de barquinho, pedalando e pedalando. Seria andar de pedalinho?

No inverno, outra diversão garantidíssima: patinar. Olha, esta é uma das coisas mais difíceis que tentei, a tal de patinação no gelo. Na boa, não consegui mesmo. A foto aí foi de sacanagem, o povo não estava caindo de maduro. Eu mesma, que não consegui sair do lugar, praticamente, só levei um tombão uma vez. Mas a foto ficou legal. Ainda do tempo em que meus irmãos estavam de férias comigo - e pagaram o mico coletivo junto a outros amigos daqui.

domingo, 18 de maio de 2008

Táxis adaptados em Beijing

A frota de táxi de Beijing ganhou 70 táxis adaptados para facilitar o acesso de portadores de deficiência. Com assento traseiro melhor e acesso facilitado a cadeirantes, os veículos poderão ser solicitados por telefone - mas o número ainda não foi divulgado.

A iniciativa foi de uma das companhias de táxi da capital chinesa e visa atender a demanda durante a Olimpíada e a Paraolimpíada. Mas o serviço continuará na cidade - e poderá até aumentar, se houver demanda.

O valor cobrado é o mesmo dos táxis atuais, ou seja, de 2 yuans por quilômetro rodado, algo em torno de R$ 0,40. O serviço já comeca nesta terça-feira.