quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quem bate?

13h, hora do banho, já que trabalho às 14h30min. Estava saindo do box, fiquei sem luz. Quem leu há poucos dias o blog, lembra que não pude voltar pra casa porque meu prédio estava sem energia, sem elevador, eu sem energia para subir 19 andares.

Lembrando disso, bateu certo panicozinho e alguém bate à campainha. Melhor atender, né? Vai ver é um moço que vai me explicar o que está acontecendo e resolver o problema.

Ainda perguntei:

- 谁啊?- Ou, Shei a? (uma expressão que significa "quem é", na qual o "a" final está ali por puro cacoete linguístico comum aos moradores de Beijing).

O moço do lado de fora respondeu muitas coisas que totalmente escapam à minha compreensão, mas entendi o 公司 (gongsi) do final, ou seja, companhia, empresa. Abri a porta, deixei entrar, não entendi xongas, liguei pra dona da casa, também chinesa, com quem pouco me comunico e deixei os dois conversando. Ela explicou alguma coisa que eu não entendi e então, fiquei olhando pro moço, que não ia embora.

Talvez nesta altura seja conveniente eu explicar que como eu havia recém saído do banho, eu estava vestindo uma camiseta e tinha uma toalha enrolada à cintura (sim, eu faço coisas ridículas na China que no Brasil não faria nem sob tortura, do tipo, abrir a porta mal vestida. Mas, poxa, imagina ter de descer 19 lances de escada... Eu jurava que era urgente).

Bueno, o cara não ia embora. Eu não entendia o que ele queria, a não ser cobrar 4 mil kuais, um montante que dá aí uns R$ 500, numa conversão grosseira e preguiçosa que fiz agora de cabeça. Liguei pro meu escritório, a fim de que alguém servisse de tradutor pra mim. Expliquei a situação pro meu chefe, que falou com o chinês e depois veio falar comigo, ao telefone:

- Jana, eu acho que ele é um ladrão.

- Ah, tá. Que que eu faço com um ladrão dentro da minha casa agora?

Bueno, a coisa era que o cara era de uma empresa de reforma de casas e apartamentos e não iria embora sem receber o dinheiro, grana que a dona ficou devendo pra ele. A dona não iria lá para pagar para o cara, eu precisava sair para trabalhar, o cara não saia da minha casa, meus colegas falavam comigo, com a dona, com o cara, tudo por telefone. Eu de toalha, já nervosa, quase ficando com um certo medo. Pedi pra chamarem a polícia.

A estas alturas, eu já gritava com o cara, num mandarim sofrível. Ele me dizia:

- Daqui não saio, daqui ninguém me tira. A dona vai chegar em cinco minutos.

- Eu não tenho cinco minutos. Eu preciso trocar de roupa. Você pode esperar ali fora, não pode esperar dentro do apartamento - eu respondia.

- 不明白 - ou, bu mingbai, que é não entendi, insistia.

E eu replicava que ele entendia, sim. E voltava a dizer:

- 我没有五分钟。 我想换衣服。 你可以等外边。 不可以等房子里边 - que é justamente "Eu não tenho cinco minutos. Eu preciso trocar de roupa. Você pode esperar ali fora, não pode esperar dentro do apartamento", ou "Wo meiyou wu fenzhong. Wo xiang huan yifu. Ni keyi deng waibian. Bu keyi deng fangzi libian". Sacou o mandarim?

Isso já era aos gritos, eu meio que empurrando a criatura e segurando a toalha já que, totalmente exasperada, a última coisa que eu poderia fazer naquele momento era jogar a toalha.

Passados uns 40 minutos, com a promessa de que a polícia subiria ao meu apartamento (a gente tem uma base da polícia dentro do nosso condomínio, exatamente em frente ao nosso prédio), alguém ligou para o chinês maluco, suposto ladrão, e ele foi embora.

Troquei de roupa, bateu a polícia. Minha explicação foi maluca, eu não sabia dizer tudo isso em chinês, liguei de novo pro meu chefe, que explicou o que tinha ocorrido, agradeceu a gentileza dos policiais e eu desci com os dois moços. Eles me ofereceram um cigarrinho, prontamente recusado, e eu fiquei contando que era brasileira, morava há um ano e meio em Beijing, era jornalista e não tinha tempo de estudar chinês, em resumo, as únicas coisas que sei dizer.

A dona é uma caloteira, eu agora não abro mais porta para estranhos e ainda fico me perguntando por que minhas semanas não podem passar sem uma emoção doméstica.

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