segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

No mundo da lua



Quer um passeio rápido, fácil e barato de fazer em Beijing e ainda superinteressante, vá ao Antigo Observatório da Cidade, o Guguanxiangtai, ou 古观象台.

Pra chegar, basta pegar o metrô linha 2 até a estação Jianguomen, sair pela saída C e você vai dar de cara com a construção que se transformou no primeiro museu da república chinesa. São peças da astronomia antiga, algumas das quais datam dos idos - e que idos! - de 1400 e tantos, num mix de sabedoria astronômica chinesa com os conhecimentos trazidos pelos jesuítas já nos séculos 17 e 18.

Um dos instrumentos menina dos olhos é a Esfera Armilar (foto abaixo), criado pelos chineses e que teve papel fundamental durante as navegações, pois como mostra as coordenadas celestiais, servia para que os navegadores soubessem de sua posição aproximada em relação aos astros. É praticamente um bisavô dos telescópios, que, a partir de anéis articulados nos pólos, traz representações do equador, dos meridianos e dos paralelos, por exemplo.



Esta tal esfera armilar é tão importante para as expedições que virou símbolo do português Dom Manuel I - o rei português durante cujo reinado foi descoberto o caminho marítimo para as Índias e o valoroso Brasil, terra em que se plantando tudo dá. Aliás, até hoje a esfera compõe o brasão de armas de Portugal, que está na bandeira do país. Ela também já tremulou no pavilhão do Brasil Império, simbolizando as conquistas e a influência lusa em todo o mundo.

Outros dois ângulos da esfera:





Mas deixemos tanto papo familiar para voltarmos à China.

O observatório foi aberto em 1442, durante a dinastia Ming (1368-1644), na mesma época da inauguração da Cidade Proibida, quando a capital foi transferida para Beijing. À época, ficava colado a um dos muros de proteção da cidade - hoje, com a expansão da capital, a localização é supercentral.

Além da esfera armilar, feita em 1436, foi instalado uma esfera simplificada, que tinha as mesmas atribuições da primeira, mas era constituída de um mecanismo mais simples. Esta, foi desenvolvida em 1439 e você pode ver ali na foto abaixo. Além disso, havia um globo terreste e um relógio de água - para contar as horas e os dias do mês, construído quatro anos depois.



Em 1900, quando o local já estava bem mais preparado, Beijing foi invadida por tropas de oito países diferentes. França e Alemanha ocuparam o observatório. Os franceses confiscaram vários dos objetos - que misturavam o barroco à ciência astronômica chinesa - até a embaixada, devolvendo-os um ano depois. Já os alemães levariam cinco dos objetos para "casa", só os devolvendo em 1921, finda a I Grande Guerra Mundial.



O observatório funcionou ininterruptamente até 1929, quando foram criadas unidades em Shanghai e na Montanha Púrpura. Depois de instituída a República Popular da China, em 1949, o local passou a ser o braço histórico do Planetário de Beijing, só reaberto ao público em 1983.

Abaixo, outra esfera, com os detalhes que poderiam ser barrocos, mas com características mais do que chinesas.







Bichos



Os animais, na astronomia chinesa antiga, representam os quatro pontos cardeias e dividem as posições das estrelas, como mostra este esquema na foto acima. Pra se coordenar, lá vão as explicações:

- Dragão Azul: Leste
- Pássaro Vermelho: Sul
- Tigre Branco: Oeste
- Tartaruga Preta: Norte

Tudo bem que o desenho está em preto e branco, mas vocês podem imaginar o azul, o vermelho e o branco do dragão, do pássaro e do tigre, né!

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Eu disse que o passeio era barato. Pra terminar este post gigante, a informação. O ingresso pra visitar o observatório custa 10 yuans, ou algo em torno de R$ 3 e R$ 4.

4 comentários:

Unknown disse...

Jana, agora já sei onde será minha primeira parada quando for pro oriente!
Imagina virar uma madrugada observando o céu nesse lugar...a vista da cidade deve ter mudado radicalmente desde 1442, mas o céu está igual!As cartas celestes (se tiver alguma lá) ainda podem ser usadas.
Jana é muita cultura,
Beijing pra ti e até o verão!

Jana Jan disse...

O problema é a poluição, que atrapalha este olhar para o céu. Mas, ainda assim, quando as condições estão boas, estava lendo lá no observatório, eles organizam alguns eventos noturnos. Deve ser bem legal mesmo. Pena que eu não entendo nada...

Anônimo disse...

Janinha agora tá dando aula? adorei o post... e é por essas coisas que tenho vontade de voltar a Beijing.

Beijos

Jana Jan disse...

Ah, pois é. Janaína é curtura.