quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Um pouquinho de comunismo

Ontem à noite conheci um restaurante que, na tradução, pode ser chamada Clássico Vermelho, ou 红色经典 (hongsejingdian), título de um dos hinos populares do maoísmo. O restaurante de Beijing é mais um do estilo, que tem como principal atrativo show de música, dança e pequenas esquetes que lembram os tempos do Mao. Pelas paredes, dizeres e cartazes, inclusive os que lembram a Revolução Cultural. Nada de grandes reflexões, a coisa é diversão.

Enquanto você paga um preço mínimo pela comida, o que a gente no Brasil chamaria de consumação e que equivale a cerca de US$ 10, assiste aos atores. Um bando de jovenzinhos que até encarnam os demônios japoneses (isso eu entendi e eles falam assim mesmo) e os inimigos do Partido Comunista, aqui conhecido como Guomintang (国民党), aqueles que foram retirados do poder depois da revolução do timoneiro - aquela mesmo que levou à fundação da Nova China em 1949 e que resultou em trapalhadas ou experimentos de dimensões que só a China pode oferecer, como a morte de milhares de pessoas por fome durante o Grande Salto Adiante ou pela violência perpetrada entre 1966 e 76, a época da famigerada Revolução Cultural, a época de maior culto ao líder, menor liberdade de expressão e pensamento e, em tese, maior ícone do fervor patriótico chinês.

Pois foi este fervor que me deixou arrepiada. Velhos, crianças, adultos, adolescentes e até bebezinhos, estes ainda sem nem entender o que se passava, estavam todos lá bem felizes acenando e respondendo às palavras de ordem da moçada no palco. Juro que fiquei com medo e este mix de orgulho com o frescor da história recente me fez, por alguns instantes, entender que é possível manipular massas. Claro, as demonstrações eram um momento de descontração, mas uma descontração que me constrange. Celebrar um passado que significou a morte de tanta gente não me parece normal. E um passado hoje posto em dúvida até pelo único partido no poder desde 1949, o comunista, que de comunista tem pouco ou quase nada.

Nos dizeres de longa vida ao pensamento de Mao Zedong e ao Partido Comunista da China, estão incluídos tantos outros elementos... Que diga a Coca-Cola, símbolo máximo do capitalismo nestas bandas chinesas, presente em um sem número de registros pop contemporâneos que fazem referência à abertura da China. Seja ela qual for.

Bueno, estas foram as minhas impressões, e você bem pode ter as suas. Vindo a Beijing, inclua um destes restaurantes no seu roteiro. A comida nem é boa, mas neste país de paradoxos, contradições e hipocrisias mil, para que se preocupar com detalhes, não é. Ah, é difícil chegar ao local, então mesmo com o endereço amigo aí abaixo, vale dar uma ligada para a atendente, que pode explicar tudo direitinho ao taxista.

红色经典

266 Baijialou, Dongwuhuan,
Chaoyang
东五环白家楼266号
Abre das 9h30min às 14h30min e das 16h às 21h30min

6574-8289

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