quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Comida de fora é pop

Acredite se quiser, tem muito chinês que jura de pé junto que a comida
ocidental é sem graça, preparada a qualquer modo, sem os segredos do
bom corte dos ingredientes e daqueles da feitura na hora - com tempo
de cozimento surpreendentemente curto - da culinária chinesa.

Mas comer pratos ocidentais para estes orgulhosos é chique. Simples
assim, não tente entender. Ou você acha que aqui McDonald's, KFC e
Pizza Hut são sucesso por quê? Neste último, apesar de filias às
pencas nas grandes cidades, muitas vezes se formam filas de espera. O
KFC é uma das escolhas preferidas para levar a gata para superagradar
num primeiro encontro - e com tanta gente tendo tanto primeiro
encontro, a rede cresce que é uma beleza, numa média de uma nova loja
aberta por dia no país em 2008.

O primeiro estrangeiro pós-Mao, no entanto, não foi um representante
de redes fast food norte-americanas. Beijing recebeu uma comida que
não fosse a chinesa durante a era comunista em 1954, cinco anos depois
da fundação da República Popular. O estreante foi o Moscou, referência
à capital dos amigos russos. Pois os quitutes da terra de Stálin eram
servidos para figurões do partido e convidados. E só. Ou você acha que
ambientes VIP são exclusividades capitalistas?

Em pouco tempo, o restaurante passou a receber os afortunados que
podiam pagar entre um e dois Renmbins - o dinheiro do povo, nome da
moeda chinesa - pela extravagância. Mas a festa durou pouco. Em 1963,
com o estremecimento das relações entre Beijing e Moscou, visto que os
outrora modelos comunistas no momento davam pitacos demais nos rumos
do Timoneiro, o Moscou fechou. Quer dizer, mudou de nome e de
cardápio, perdendo o status de estrangeiro. Qualquer referência não
chinesa era algo bem contrarrevolucionário nos tempos obscuros da
Revolução Cultural, diga-se de passagem, quando a imagem dos demônios
estrangeiros foi mais que propagada.

Agora, nos 60 anos da Nova China e nos 60 anos do estabelecimento das
relações diplomáticas entre os dois países - em 1949, a China de Mao
foi reconhecida por apenas 19 nações, entre elas a então União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS, lembra? ) -, o local reabriu,
retomando as características originais. O espaço é aberto para todos,
e em tempos de enriquecimento glorioso abençoado desde Deng Xiaoping,
certo que o público local pode ser bem maior. Ainda assim, pode ser
salgado, coisa de 200 Rembins para um casal, ou cerca de R$ 65 - algo
como um quarto do que ganha num mês a mocinha do caixa do KFC que
atende casais de pombinhos emergentes chineses. O capitalismo, ops, o
socialismo com características chinesas também tem área VIP.

***
Ah, o restaurante, para os que estão em Beijing

Restaurante Moscow ( 莫斯科餐厅)
135 Xizhimen Waidajie, Xizhimen - besides Beijing Exhibition Center
西直门外大街135号 - 北京展览中心旁
Telefone: 6835-4454

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