Daqui a exato um mês, a China completa 60 anos de República Popular. No dia 1°de outubro de 1949, Mao proclamou a tal para uma platéia estimada em 1 milhão de pessoas na Praça da Paz Celestial, a que por aqui conhecemos como Tiananmen.
Era só o começo de tempos de mudanças, tantas que hoje o país avaliado, estudado e entendido dentro e fora dos limites geográficos chineses é aquele pós-Mao, como se tudo o que tivesse vindo antes - e é bastante coisa, você bem sabe que estes pagos têm histórias milenares - fosse uma prévia ou as bases para a Nova China, o nome dado pelos comunistas ao ascenderem ao poder.
Fato é que a República Popular da China hoje nem tem tanto de popular, mas é pop. No Brasil, a gente diria que dá Ibope - apesar de eu, pessoalmente, achar que ainda falta muito para o Brasil acordar para o tamanho da importância chinesa, com certeza. Mas isso é outra história.
O papa é pop. A China é muito mais. O papa é o sucessor de Pedro. A China é a melhor amiga, até já anunciou que no dia 1°de outubro não vai chover em Beijing, graças a iniciativas do Departamento de Modificações do Clima - sim, isto existe nos quadros (des)funcionais do governo municipal da capital chinesa -, quando a cidade verá uma parada de proporções tão ou mais suntuosas do que a abertura da Olimpíada. O diretor artístico é o mesmo daquele 8 de agosto, o do ano passado, o cultuado Zhang Yimou.
São 200 mil pessoas envolvidas, num espectáculo que irá contar a história do país, além de ter apresentação (do poderio) das Forças Armadas. Há 10 anos não existe a tal parada. Desta vez, ela se chamará "A Pátria e Eu Avançamos Juntos". Avançam a passos largos, apesar de o primeiro ensaio geral ter deixado o centro da cidade, numa extensão de 8 quilômetros pela avenida principal, a ChangAn, parado entre o início da noite da última sexta até o começo da tarde de sábado, e o mesmo valendo para a linha 2 de metrô, sistema circular que passa pelo coração beijinense. Manobras ousadas, tanto ao gosto chinês. Ou você acha que é mole interromper o vai-vém de uma região movimentada numa cidade de 16 milhões de habitantes? Ah, se pensarmos nos 1,3 bilhão que oficialmente habitam este solo, nem é tanto assim.
Sobre os festejos de 1°de outubro o que a gente sabe até agora é que há dois telões gigantes em frente ao retrato de Mao. O retrato de Mao tem 6 metros de altura. Eu que não entendo nada de proporção, arrisco que os tais telões têm entre 30 e 50 metros de altura. A gente também sabe que o presidente, Hu Jintao, fará um discurso histórico. E sabe que terá festa com fogos de artifício. O resto eu não sei, mas imagino. Vai ter um medo incrível de que haja boicote, ataque terrorista e etc e a segurança estará bem reforçada. Para adentrar na Praça, só credenciado e convidado. Entre amigos a gente comenta que os convidados serão parentes próximos de integrantes das estruturas burocráticas do poder do Partido Comunista da China, gente que nem de longe representa qualquer perigo para o status quo. Uma festa para o povo ver na TV, mídia que combina mais com o gosto popular. Bem diferente dos dias de Mao na Praça, bem diferente do que imaginaria ser uma festa democrática no Brasil. No comunismo, perceberam, líderes e privilegiados têm espaço vip. Igualdade tem destas coisas.
O aniversário de daqui a um mês será o momento de afirmação do partido no poder. Vai ser uma propaganda voltada para dentro, e o apoio popular talvez surpreenda quem está de fora. Pra uma nação que vem de um histórico de fome e miséria, os erros e acertos do atual governo são sempre lembrados por quem é a favor, é contra, ou moderado. Uns lembram mais erros, outros lembram mais acertos, mas é fato que mesmo quem não está contente percebe avanços em serviços básicos de saúde, transporte, saneamento, nível de vida, poder de compra e tantos outros que tais que olhar para trás quase provoca um apoio ainda que furtivo e mal disfarçado ao atual partido. O que incomoda mesmo, parece, é o sistema. Uma mão de ferro de controle que mistura o público ao privado e vê na omissão e manipulação de informações a redenção para uma sociedade pacífica e harmoniosa, ainda que não haja a medida de justiça razoável para muitos. Mas as injustiças de antes eram outras tão injustas que...
De hoje e até 1°de outubro, ou um pouco mais, sempre há a ressaca das festas, convido você para acompanhar um pouco deste burburinho, num olhar estrangeiro, mas limpinho, sobre os 60 da RPC. Sempre neste mesmo webbatenderereço.
Até amanhã, camaradas.
Há uma semana
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