terça-feira, 1 de setembro de 2009

A república é pop

Daqui a exato um mês, a China completa 60 anos de República Popular. No dia 1°de outubro de 1949, Mao proclamou a tal para uma platéia estimada em 1 milhão de pessoas na Praça da Paz Celestial, a que por aqui conhecemos como Tiananmen.

Era só o começo de tempos de mudanças, tantas que hoje o país avaliado, estudado e entendido dentro e fora dos limites geográficos chineses é aquele pós-Mao, como se tudo o que tivesse vindo antes - e é bastante coisa, você bem sabe que estes pagos têm histórias milenares - fosse uma prévia ou as bases para a Nova China, o nome dado pelos comunistas ao ascenderem ao poder.

Fato é que a República Popular da China hoje nem tem tanto de popular, mas é pop. No Brasil, a gente diria que dá Ibope - apesar de eu, pessoalmente, achar que ainda falta muito para o Brasil acordar para o tamanho da importância chinesa, com certeza. Mas isso é outra história.

O papa é pop. A China é muito mais. O papa é o sucessor de Pedro. A China é a melhor amiga, até já anunciou que no dia 1°de outubro não vai chover em Beijing, graças a iniciativas do Departamento de Modificações do Clima - sim, isto existe nos quadros (des)funcionais do governo municipal da capital chinesa -, quando a cidade verá uma parada de proporções tão ou mais suntuosas do que a abertura da Olimpíada. O diretor artístico é o mesmo daquele 8 de agosto, o do ano passado, o cultuado Zhang Yimou.

São 200 mil pessoas envolvidas, num espectáculo que irá contar a história do país, além de ter apresentação (do poderio) das Forças Armadas. Há 10 anos não existe a tal parada. Desta vez, ela se chamará "A Pátria e Eu Avançamos Juntos". Avançam a passos largos, apesar de o primeiro ensaio geral ter deixado o centro da cidade, numa extensão de 8 quilômetros pela avenida principal, a ChangAn, parado entre o início da noite da última sexta até o começo da tarde de sábado, e o mesmo valendo para a linha 2 de metrô, sistema circular que passa pelo coração beijinense. Manobras ousadas, tanto ao gosto chinês. Ou você acha que é mole interromper o vai-vém de uma região movimentada numa cidade de 16 milhões de habitantes? Ah, se pensarmos nos 1,3 bilhão que oficialmente habitam este solo, nem é tanto assim.

Sobre os festejos de 1°de outubro o que a gente sabe até agora é que há dois telões gigantes em frente ao retrato de Mao. O retrato de Mao tem 6 metros de altura. Eu que não entendo nada de proporção, arrisco que os tais telões têm entre 30 e 50 metros de altura. A gente também sabe que o presidente, Hu Jintao, fará um discurso histórico. E sabe que terá festa com fogos de artifício. O resto eu não sei, mas imagino. Vai ter um medo incrível de que haja boicote, ataque terrorista e etc e a segurança estará bem reforçada. Para adentrar na Praça, só credenciado e convidado. Entre amigos a gente comenta que os convidados serão parentes próximos de integrantes das estruturas burocráticas do poder do Partido Comunista da China, gente que nem de longe representa qualquer perigo para o status quo. Uma festa para o povo ver na TV, mídia que combina mais com o gosto popular. Bem diferente dos dias de Mao na Praça, bem diferente do que imaginaria ser uma festa democrática no Brasil. No comunismo, perceberam, líderes e privilegiados têm espaço vip. Igualdade tem destas coisas.

O aniversário de daqui a um mês será o momento de afirmação do partido no poder. Vai ser uma propaganda voltada para dentro, e o apoio popular talvez surpreenda quem está de fora. Pra uma nação que vem de um histórico de fome e miséria, os erros e acertos do atual governo são sempre lembrados por quem é a favor, é contra, ou moderado. Uns lembram mais erros, outros lembram mais acertos, mas é fato que mesmo quem não está contente percebe avanços em serviços básicos de saúde, transporte, saneamento, nível de vida, poder de compra e tantos outros que tais que olhar para trás quase provoca um apoio ainda que furtivo e mal disfarçado ao atual partido. O que incomoda mesmo, parece, é o sistema. Uma mão de ferro de controle que mistura o público ao privado e vê na omissão e manipulação de informações a redenção para uma sociedade pacífica e harmoniosa, ainda que não haja a medida de justiça razoável para muitos. Mas as injustiças de antes eram outras tão injustas que...

De hoje e até 1°de outubro, ou um pouco mais, sempre há a ressaca das festas, convido você para acompanhar um pouco deste burburinho, num olhar estrangeiro, mas limpinho, sobre os 60 da RPC. Sempre neste mesmo webbatenderereço.

Até amanhã, camaradas.

Nenhum comentário: