quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tempos de festa popular sem povo e com paranoia

A contagem é regressiva. Está tudo pronto para a celebração dos 60 anos da fundação da República Popular da China. Tudo mesmo, até os textos de o que vai acontecer amanhã, 1° de outubro, quando Beijing para para que o mundo e o povo chinês vejam o poderio militar e econômico que a mão forte do Partido Comunista moldou no país.

Nada deverá estragar a festa, nem o tempo. Apesar de os dois dias que antecedem a parada terem sido cinza, a promessa do governo é que amanhecerá céu azul. Se amanhecer, eu conto a vocês e ficarei pensando seriamente que esta gente brinca de Deus. Controle sobre a vida das pessoas eles já tem faz tempo.

Desde às 12h desta quarta-feira, a principal avenida da cidade está com todo o comércio fechado. Todo o comércio da Chang'An significa uma pá de coisa, e considerando-se que nela estão as maiores empresas e os escritórios multinacionais, isso quer dizer muita gente usando laptops, netbooks e outras geeks gadgetices para continuar trabalhando em meio a uma cidade que demonstra também na intervenção cotidiana o quanto pode. Aliás, para os moradores, a ordem é de que não se abram as janelas que dão para a avenida.

Por ali, a partir da manhã desta quinta-feira desfilarão os feitos e as conquistas dos últimos 60 anos da China, numa festa que incluirá Hong Kong, Macau e Taiwan, estas duas primeiras celebrando à volta ao continente. O espetáculo popular em que o povo ocupa o papel de telespectador - todos vão ouvir as mensagens de casa, já que o acesso à Praça só será garantido por escassos convites - ainda promete acabar em carnaval, o que eu tou recebendo para ver.

Um carnaval com 60 carros alegóricos, alas, avenida. Mas sem povo. A paranóia aqui tá grande. Amanhã, no grande dia, todos os pilotos estrangeiros que atuam em empresas chinesas estão proibidos de cruzarem o espaço aéreo nacional. O aeroporto de Beijing ficará fechado das 9h às 12h. Nos caças que darão o ar da graça, mísseis prontos para o disparo trarão ogivas ativas. Os pilotos, estes da Força Aérea chinesa e chineses, já foram instruídos a não dispararem. Me sinto muito mais tranquila. Este será o 14° desfile militar da era pós Mao, mas o segundo em que os mísseis estarão prontos a disparar. A gente nunca sabe, né. A primeira, ocorreu justamente na parada de fundação, quando o Partido Nacionalista ainda não tinha sido totalmente derrotado no continente. Tempos de ameaças.

Esta paranóia ou mania de perseguição que deixa o país sempre alerta lembra um pouco a coisa do gato escaldado ter medo de água. E gato aqui se chama mao, numa mera coincidência.

A véspera do aniversário da república rende histórias inusitadas. Objetos cortantes, perfurantes, machucantes, estilos facas, tesouras e familiares não podem ser mais vendidos em Beijing já há coisa de duas semanas e  até o fim das comemorações. Tudo para evitar violências – estilo o ataque que aconteceu no dia 17 de setembro em Dashilan, perto da Praça da Paz Celestial, e que deixou dois mortos. Claro, quem mataria alguém usando uma faca usada, tirada da cozinha de casa, não é mesmo?

Turistas estrangeiros ao Tibete, não depois de 24 de setembro, não antes de 10 de outubro. Quem já está por lá, pode ficar. Mas que não está, fica para a próxima.

Tanta coisa que até fica difícil lembrar. O bloqueio mais evidente, no entanto, é o da internet, que afeta estrangeiros e locais, num controle que recrudesceu nos últimos dias, quando mesmo o batalhão que costumava lançar mão de VNPs e proxy viram seus subterfúgios sucumbirem aos censores, no que se chama Great Firewall of China. Minha aposta é que logo, logo, tudo será restabelecido, até porque depois dos 60 anos o que a China quer é mostrar os ares de modernidade, sustentabilidade e urbanismo consciente na onda da Shanghai 2010, a Expo Mundial que na internet começará ainda neste ano, num ambiente em 3D, que tem perfil no twitter e no Facebook. Não, você não está enganado. Estes dois últimos ainda não funcionam por aqui.

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