O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega à China neste domingo para a primeira visita de Estado ao país com um objetivo: construir uma cooperação pragmática, segundo adiantou em discurso na sexta-feira à noite no Japão, na primeira escala da turnê de nove dias à Ásia. O que exatamente isso significa eu não sei, mas é como se se manter aliado à China fosse cada vez mais importante. Obter a confiança de uma das mais novas lideranças globais, indiscutivelmente ganhadora de muito terreno no plano político asiático e africano, para citar apenas duas regiões sobre as quais o Partido Comunista Chinês (PCC) estende os tentáculos, é tarefa das prioritárias.
Aliás, eu não sei exatamente o que esta agenda toda pretende, mas eu sei quem sabe, a Cláudia Trevisan, então faça o favor de ler a matéria dela de hoje no Estadão, cujo link é este mesmo que segue aqui http://tinyurl.com/yc2ee2v.
Voltemos ao Obama. Obama começou a delinear os frutos positivos que busca colher deste périplo ainda em junho, quando informou ao Dalai Lama, que visitaria Washington em outubro, de que não o receberia na Casa Branca – a primeira vez que isso acontece desde 1991, quando Bush, o pai, deu início às recepções presidenciais ao líder espiritual em cada uma de suas idas à capital norte-americana. Melhor não cutucar a onça com vara curta – o que poderia ser até piada pronta, caso os chineses tivessem esse ditado por aqui.
Obama, ao contrário, já começou adulando o governo chinês em solo japonês.
- Os Estados Unidos não querem conter a China, ao contrário, o surgimento de uma China próspera e poderosa pode ser uma fonte de força para as nações – disse Obama, que um dia depois estaria com o colega chinês, Hu Jintao, em Cingapura, durante encontro da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec, na sigla em inglês), grupo de 21 economias da Ásia, criado há 20 anos.
Cingapura pode ser um termômetro do que está por vir em Shanghai e Beijing. Troca de carinhos e pouca prática. O que os líderes acordaram é que não haverá grandes consensos em dezembro durante a Conferência do Clima de Copenhagen, que acontece de 7 a 18 do mês que vem e sobre a qual o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, alçava ao status de fundamental para o avanço do Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Obama e os amigos, no entanto, se comprometeram em empenhar grandes esforços políticos para a conclusão da Rodada de Doha em 2010 – outro destes planos mundiais de melhoria para todas as nações que nunca anda, que já nasceu emperrado, em 2001, no Catar, ainda que tenha como objetivo derrubar barreiras comerciais entre os países, em cartilha moldada e abençoada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Aliás, todos os membrinhos bonitinhos da Apec e convidados especiais também juraram não lançar mão de protecionismo, que só faz o bem a curto prazo, mas a gente precisa pensar grande. Papo aprendido na cartilha, super bonitinho.
Mais bonitinho do que isso, só a foto oficial do evento – a que abre este post e sobre a qual a assessoria do encontro não colaborou, só botou a versão em baixa resolução no site (www.apec2009.sg) - em que os presidentes aparecem vestidos com roupa local. Aliás, voltando ao Obama, ele já avisou que quer ver todos de camisa floreada e saia de palha na versão hawaiana do encontro, para a qual os convidou em 2011. Ele está que é todo prosa junto aos olhinhos puxados. Numa declaração dúbia, sobre a qual ninguém arrisca dizer se Obama garante que os EUA estarão nessa ou se apenas quis dizer que acha a ideia super, o presidente foi só elogios ao tal Acordo de Parceria Estratégica Trans-Pacífico, tipos um super acordo de livre mercado da Apec, que já angariou as adesões do Chile, da Nova Zelândia, de Cingapura e de Brunei (ô, agora vai). Seria só mais um dos passos do grupo, que, segundo expectativa da China, pode lançar mão de uma área de livre comércio já no ano que vem, justamente a Ásia Pacífico. Alguém duvida que neste turbilhão de planos os chinesinhos assumiriam o protagonismo? Os EUA que se cuidem.
Pois hoje, acho que pensando no bem dos norte-americanos, a Times deu como capa dicas preciosas aos atuais donos do mundo, mas talvez não por muito tempo no posto: Cinco coisas que os EUA podem aprender com a China (http://tinyurl.com/yjbn8f7) e os chineses. São elas: ser ambicioso, reconhecer a importância da educação, cuidar dos mais velhos, guardar mais dinheiro, olhar além do horizonte. De repente caiu comigo aqui a ficha que a fórmula bem que poderia ser copiada pelo Brasil.
O texto de Bill Powell, há cinco anos na China, mescla políticas governamentais a características culturais chinesas, numa mistura de público e privado que tem tudo a ver com a nova ordem estabelecida pelo PCC. E viva o socialismo com características chinesas, para bater na mesma tecla que você, leitor do bloguinho, já deve ter cansado de ler.
Anyway, Powell começa agressivo, ressaltando o vigor juvenil da nação de 5 mil anos, ante uma apatia presente no capitalismo careca e de dentes frouxos dos Estados Unidos – as metáforas dele até são outras, mas você entendeu. A coisa começa pela ambição, em dois exemplos significativos da força chinesa: o fôlego sem fim para a construção de ferrovias cortando o país de leste a oeste e a promessa de que até 2015, toda a frota de ônibus das 13 maiores cidades chinesas serão equipadas com veículos elétricos – sinal de que a ambição chinesa enxerga além do horizonte, o último dos tópicos destacados pelo repórter da Times, garantindo liderança em recursos logísticos e preocupação ambiental.
Quando se fala em educação, então, alem dos espantosos mais de 90% de índice de alfabetização, o repórter destaca a importância que é dada a questão, muito devido à pressão absurda enfrentada pelos filhos únicos mas que, em última análise, será responsável por formar profissionais ao menos bilíngues, quiçá poliglotas, em diversos ramos. Como o texto destaca, a China é a fábrica do mundo não pela mão de obra barata, mas pela mão de obra qualificada (tá, e barata, vamos combinar). Bueno, a questão educacional é bom nem comentar, que dá arrepios, se compararmos ao Brasil. Enquanto dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2008 mostra que 97,9% das crianças entre sete e 14 anos estavam matriculadas no Ensino Fundamental – ok, bacana -, a pesquisa 2009 revela que na faixa de 25 anos a 64 anos, aqueles com mais de 11 anos de estudo representavam 23,8% desta fatia da população, um quadro bem modesto diante dos 88% alcançados pelos EUA e pela Rússia. Apesar de não ter os dados chineses, tenho medo de ficar vermelha outra vez. Nem procurei muito.
Bueno, voltando aos holofotes obamaniáticos na China, o que se espera dele nesta segunda é um encontro com jovens em Shanghai, onde serão apresentadas algumas questões enviadas por internautas a um fórum organizado pela agência estatal chinesa, a Xinhua. As perguntas vão de estapafúrdias curiosidades acerca de quem paga os modelitos desfilados por Michelle, a se os EUA venderão armas a Taiwan. Em espaços não moderados pelo governo, o que os internautas queriam mesmo saber era se Obama pressionaria pelo fim de tanta censura internética. Neste ponto, talvez quem esteja sendo pragmático mesmo seja o governo chinês que, segundo rumores, proveria ao todo poderoso norte-americano usuários com acesso especial à web, a fim de que Obama ficasse online nos seus perfis de twitter e facebook, tão caros à eleição do presidente e à manutenção de seus status enquanto figura pública fofa.
Há uma semana
Um comentário:
E o pior foi o próprio Obama admitir que nunca usou o twitter. Mas pelo menos ele criticou a censura da internet aí pras bandas da China no encontro com os estudantes.
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