terça-feira, 17 de novembro de 2009

twitter是什么?

No dia em que o presidente norte-americano, Barack Obama, conversou com estudantes no Museu de Ciências e Tecnologia de Shanghai, ou seja, nesta segunda-feira, a pergunta "O que é twitter", a mesma que dá título a este post, foi a maior ocorrência no Google chinês. A segunda foi 奥巴马上海, caracteres que em português se traduzem como Obama Shanghai.

O encontro de Obama com a juventude foi tão propagandeado quanto negociado entre as partes chinesa e norte-americana. O resultado, um teatro mal ensaiado - no qual todo o mundo embarcou em papéis mal interpretados. 

Obama já era celebridade entre os jornalistas e twitteiros chineses na véspera da visita de quatro dias ao país, que inclui além de Shanghai, a capital, Beijing. Na manhã de segunda, praticamente não havia outro tema no twittermundo destes pagos. E a coisa se desenrolou ao longo do dia, muitas das vezes acompanhada da hashtag #obamacn, quando a limitação de 140 caracteres por post permitia. E tão estrela quanto Obama, só o twitter mesmo.

O presidente respondeu a oito perguntas durante encontro de uma hora (começou às 12h50min, horário local), a maioria enviada por internautas por meio de um fórum aberto pela agência estatal chinesa. A questão sobre a venda de armas pelos Estados Unidos  a Taiwan estava lá, segundo a própria Xinhua havia cantado a pedra no sábado. A pergunta teria sindo feita por um suposto jovem empreendedor taiwanês com negócios em Shanghai que via os lucros aumentarem, mas estava preocupado com uma possível ajuda alheia à ilha que insiste em não ser China. Tipo, "senhor presidente, o senhor bem vê que todos estamos crescendo, os taiwaneses estão bem felizes com os laços junto à parte continental, então assuma de uma vez por todas que os EUA não apoiam qualquer movimento independentista da ilha". Obama não respondeu nem sim, nem não, mas reafirmou a soberania chinesa e a política oficial de Uma Só China, a que bota sob o mesmo chapéu todos os territórios que não eram antes ou aqueles que ainda não querem ser chineses - apesar de que a estas alturas, com tanto poderio político-econômico, eu bem acho que o que vale é alguma liberdade a mais de expressão e de preservação cultural, porque viver à sobra de Beijing nem é tão mal. Chame de universo paralelo ou nova conformação do poder mundial, mas se você acha que a China já invadiu seu mundo, você ainda não viu nada, a coisa tá só começando. E tem muita gente que não quer perder os benefícios de estar na crista desta onda. 

Digamos que o Obama também não e, apesar de estar do lado de lá da força, agora fala em diálogo forte, cooperação pragmática e todas estas expressões caras à diplomacia e que se traduzem em esforços para estabilizar a economia mundial, conter os perigos das mudanças climáticas e garantir a não proliferação de armas nucleares - com especial atenção para dois países especialistas em aprontar neste plano, o Irã e a Coreia do Norte. Hoje, depois de encontro com o colega chinês, Hu Jintao, ambos assinaram uma declaração conjunto que abrange um leque amplo de temas - estes aí de cima e outros mais -, numa retórica um tanto conhecida, um chover no molhado sobre o qual ninguém pergunta.

Ninguém mesmo. Na ENTREVISTA COLETIVA que se sucedeu à assinatura do documento, os repórteres foram avisados de que não poderiam fazer... perguntas. Gargalhada geral na platéia, me contam meus amigos correspondestes. Engraçado mesmo, não fosse também trágico.

A China tem suas formas clássicas de encenar grandes circos. Obama protagonizou um destes. Lembram do encontro com estudantes de que falei no início deste post? Pois muitos que estavam ali, principalmente aqueles que fizeram perguntas, pertenciam à Liga Jovem Comunista, tipo assim, aquela parcela de gente que já cresce com futuro brilhante, seguindo a cartilha oficial. Uma menina que não disse o nome, porque não é boba, garantiu à reportagem do New York Times que foi instruída durante quatro horas antes do encontro com Obama sobre o que deveria ou não falar. Eu sei que o link é grande e o texto é inglês, mas se você ficou curioso sobre o que o jornalão norte-americano tá contando hoje sobre a visita, pode clicar aqui http://www.nytimes.com/2009/11/17/world/asia/17prexy.html?pagewanted=1&_r=1&th&emc=th.

Bueno, de tudo o que se disse, o mais importante foi o fato de Obama dizer que não usa o twitter - momento em que respondeu à única pergunta escolhida pela embaixada norte-americana aqui na China e que poderia causar algum desconforto. A pergunta era clara: os internautas chineses têm direito à acessar o twitter, na opinião de Obama? Mais uma vez, ele não disse que nem sim, nem não, só que acredita no fluxo livre de informações que, em última análise, apesar de permitir a publicação de críticas, serve para fortalecer ou ajustar pontos de vista e políticas. E o mais revelador: ele mesmo não usa o twitter, por se achar desajeitado e ter dedos grandes para digitar no celular. 

Tipo assim, o @barackobama também é teatrinho? Parem as máquinas que eu quero descer.

As fotos foram roubadas do especial oficial sobre o presidente, que você pode conferir aqui, feito pela toda poderosa Xinhua www.chinaview.cn/obama0911. Obama na Cidade Proibida, que fez questão de conhecer na fria tarde de terça-feira (fez 1°C hoje, a máxima, eu digo) na primeira visita a Beijing e Obama com os estudantes em Shanghai, quando mostrava o tamanho dos dedos. Acho que era isso, assim espero, pelo menos.

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