segunda-feira, 18 de maio de 2009

Lula aqui


Lula e Hu durante a Olimpíada, foto de Ricardo Stuckert, Agência Brasil

A estas alturas, Lula e dona Marisa já jantaram com o excelentíssimo presidente da República Popular da China, Hu Jintao, casado com sabe-se lá quem. Acabei de me dar conta que não sei o nome da primeira-dama da China, sequer sei se ela existe. Mas deve existir.

Falemos, pois, do que interessa. O jantar no Jardim Imperial da Casa de Hóspedes do Estado, ou Diaoyutai (钓鱼台国宾馆) (http://www.chinadyt.com/index.htm) foi o primeiro compromisso oficial de Lula na viagem de três dias à China. Provavelmente, o mais diplomático, se considerarmos que este não previa o fechamento de contratos, anúncios de parcerias e cooperações bilaterais e etc. Mas diplomacia pode ser tudo, especialmente em se tratando do maior parceiro comercial do Brasil, status conquistado pela China em abril, quando o país asiático desbancou 80 anos de hegemonia norte-americana.

Gestada desde o ano passado, a viagem de Lula à China foi a segunda em um ano, pois o presidente esteve por aqui para a abertura da Olimpíada, em agosto último. No entanto, é a segunda visita em cinco anos à China na busca de parcerias estratégicas. Os objetivos são financeiros, deixe-se claro, mas também políticos, numa tentativa de afinar os discursos e jogar com mais força e em conjunto no cenário internacional. O papo de unir forçar Sul-Sul e etc. Nada mais oportuno.

O mundo vive a crise. A crise gerou previsões catastróficas. As exportações brasileiras para a China aumentaram 64,7% no primeiro quadrimestre em relação ao mesmo período do ano passado. A China passou os Estados Unidos como maior destino de produção verde e amarela. Opa, bom sinal. Tão promissor que Lula trouxe na pauta propostas como a de os países selarem contratos em moeda nacional, numa operação batizada como swap no jargão economês e que, em tese, escanteia o dólar e permite que os bancos centrais dos países envolvidos enviem dinheiro local um ao outro. Peso pesado político.

Ao presidente brasileiro cabem outras tarefas árduas, como convencer a China a comprar frango e suíno brasileiros, além de garantir acordos para áreas como tecnologia, biotecnologia, biocombustíveis e petróleo. A estratégia parece boa, já que Lula veio munido de um plano quinquenal, expressão tão recorrente no vocabulário político chinês, que estabelece as metas para o país em grandes congressos nacionais do Partido Comunista da China a cada cinco anos e depois lança os tais planos quinquenais, os verdadeiros guias do desenvolvimento por estas bandas. Como comentava ontem com amigos, melhor do que falar a língua é conhecer os meandros da cultura sociopolítica de um país para garantir bons negócios.

Amanhã Lula deve estar com a cartilha do mandarim na ponta da língua, seja esta recitada com ou sem tradutor. A agenda presidencial brazuca inclui encontros com a nata do poder chinês, a começar pelo primeiro-ministro, Wen Jiabao, que ocorrerá em Zhongnanhai, complexo onde vivem os figurões do partido. Dali, Lula seguirá para o Grande Palácio do Povo, onde se encontra com o vice-presidente, Xi Jinping, retribuindo a visita do chinês ao Brasil no final do ano passado, com o presidente da Conferência Consultiva do Povo Chinês, Jia Qinglin e, finalmente, com Hu. Antes de outro jantar entre a dupla Sul-Sul, ocorrerá uma sessão de assinaturas de acordos, que, se saírem do papel, podem significar números ainda mais animadores do que os 64,7% que alavacaram a China à posição de compradora número 1 do Brasil. A ver.

Ainda nesta terça-feira, o presidente concede entrevista à estatal chinesa de televisão CCTV e participa da cerimônia de inauguração do Centro de Estudos Brasileiros da Academia de Ciências Sociais da China, além de almoçar com empresários dos dois países.

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