terça-feira, 5 de maio de 2009

检疫, a palavra da discórdia

Você tem medo da gripe A (H1N1)? A China tem. Tanto que tomou medidas duras para tentar barrar o vírus no país do que antes era chamada a gripe suína, ou 猪流感, zhuliugan, por aqui. Agora ficou 甲型H1N1流感, ou gripe A(H1N1). Juro.

Talvez seja excesso de zelo por conta do trauma provocado pela SARS, que, como contou a Cláudia Trevisan no blog dela sobre a China, contaminou 8.096 pessoas e matou 774 em 29 países e regiões em 2003. Até agora, a tal Síndrome Respiratória Aguda Grave é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a mais séria doença contagiosa dos tempos recentes.

A SARS fez o maior número de vítimas na China e em Hong Kong. Hong Kong confirmou um caso da gripe que assusta agora. O paciente é um mexicano de 25 anos que chegou ao país no último sábado, passando por Shanghai. Pronto. Palavra de ordem: 检疫, ou jianyi, que quer dizer quarentena. Quarentena nele e nas pessoas que estiveram próximas. Grita dos países de quem ficou retido. Tem de mexicano a canadense nesta situação, passando pelos próprios chineses.

A China, gato escaldado, não quer nem saber se está reagindo drasticamente ou não e não parece se preocupar com os rótulos de antipática, racista ou radical. Para não parecer tão insensível, ofereceu ajuda humanitária de US$ 5 milhões ao México. Em dinheiro foram US$ 1 milhão, já transferido. O restante é em material de apoio. Até agora, dois aviões chineses levaram à Cidade do México kits com máscaras, termômetros e que tais. Não sei a situação da tripulação.

O governo local se defende. Segundo a subdiretora do Departamento Municipal de Saúde de Beijing, os confinados recebem flores e frutas, além de poderem se comunicar com o exterior, ver TV, ouvir música, ler livros e acessar internet. Então tá. Como pagamento, além do tempo dispendido em quartos de hotéis e de hospitais, têm de passar por exames duas vezes ao dia.

E segue o baile. Enquanto os humanos tentam lutar contra a gripe para que não se torne pandemia, os produtores de carne suína vão também pagando o pato por aqui. O preço da carne de porco caiu de 13,41 yuans, ou US$ 1,96, por quilo em janeiro para 9,88 yuans em abril, ou US$ 1,45.

A OMS, no entanto, vive advertindo. Comer porco, desde que bem cozido, não traz mal ao homem. Mas é a velha história de zelo e tals. A China, por via das dúvidas, suspendeu importações da carne e de derivados suínos do México e outras localidades dos Estados Unidos.

Sim, como vocês perceberam, não basta estar com um baita problema de saúde pública para resolver, é preciso ter encrencas econômicas envolvidas, convidadas inesperadas na ressaca mundial pós-crise.

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