quarta-feira, 27 de maio de 2009

Direto do túnel do tempo

Ontem foi o festival dos Barcos de Dragão, popular no sul da China e quando as pessoas enfeitam barcos com dragões e os botam nos rios em homenagem a um poeta chinês que se matou há dois mil anos... Também comem um troço parecido com pamonha, inclusive enrolado em uma palha e nas versões doce e salgada, só que com arroz. Comi ontem o doce, que tem recheio de tâmara. Bom. Me amarraram uma fitinha no braco, e deveria tirar quando chovesse, na primeira chuva após a data, para que a ftiinha virasse um dragão. Acontece que a fitinha caiu esta noite. Tou com medo de eu virar um dragão. A coisa aqui já tá feia pro meu lado, os chineses nem me olham. Imagina virando um dragão...

Este texto foi escrito há cerca de dois anos, quando havia chegado aqui. Algumas coisas mudaram.

Hoje eu sei que o festival chama-se 端午节, ou Duanwu Jie. As pamonhas são 粽子, ou Zongzi, e o poeta homenageado é 屈原, ou Qu Yuan. A data, feriado desde 2008, é regida pelo calendário lunar chinês e cai sempre no quinto dia do quinto mês.

Como eu disse, o festival é bastante celebrado no Sul, mas como eu não sou boa de bússola, aproveito a folga para visitar Qingdao, cidade da província de Shandong, na costa leste do país. Juro que se aparecer algum barco de dragão na minha frente eu fotografo.
Gente, o tal poeta tá superpop, meio inspiração católica, sei lá, megaprodução. Pelo menos foi o que eu achei desta imagem aí do blog, que eu achei e descaradamente roubei daqui http://hiphotos.baidu.com/心莲飘香/pic/item/2232e3189338a15b42a9ade7.jpg.

Cegos, surdos e mudos

O 4 de junho é tema sensível na China. Tabu, mito, apagado da história oficial, barrado nos filtros internéticos governamentais. O 4 de junho marca o dia em que o exército chinês tirou da praça estudantes que estavam ali acampados havia cerca de um mês e meio. Eles queriam liberdade, abertura, talvez as diretas, apesar de aqui nunca ninguém ter me dito isso. Que eles quisessem as diretas, digo. Inclusive dizem que eles queriam tanto que acabaram se perdendo, perdendo força, perdendo apoio. Ao final, enfraquecidos, foram calados. Alguns mortos, outros presos, quiçá torturados. Uma data para ser esquecida pelo poder, que não só agiu de modo opressor e violento – e passou a ser cobrado por isso - como percebeu que mobilização popular pode ocorrer mesmo dentro de sociedades pautadas pelo controle central.

Dia desses, o New York Times troxe um artigo (http://www.nytimes.com/glogin?URI=http://www.nytimes.com/2009/05/22/world/asia/22tiananmen.html&OQ=_rQ3D2Q26refQ3Dasia&OP=63639785Q2F-VQ51E-Q5BQ2AGgQ2FQ2AQ2AQ5C_-_Q22Q22Q3B-Q22X-__-VQ2AQ2FQ60Q5B-UgQ7EU-__Q5CQ7EUdUdlQ51dQ238Q5ClQ60), aliás censurado para quem não está registrado, porque mesmo no território livre da internet o que vale é fazer grana, em que questionava a possibilidade de haver um novo 4 de junho na China. A aposta é que não.

Um resumo bem resumido da história mostra que o culpado pelo atual estado de acomodação em que se encontra a sociedade chinesa no que diz respeito a lutas por democracia e liberdade é da sociedade chinesa. Simples assim. Preocupados com carreira, empregos e aquisição de bens, os jovens de agora diferem daqueles que não tinham nada a perder quando foram lutar pelos seus direitos. Eles não tinham direitos, ou tinham poucos. E ansiavam por – mais – alguma coisa. Para quem quiser ser mais otimista, ou quem sabe cínico, pode atribuir apenas aos feitos do governo estas mudanças de humores e espíritos. Há 20 anos as políticas não estavam bem azeitadas, havia mesmo que se mudar. Hoje, para que mudar?

Pergunte a um jovenzinho sobre a Praça e ou ele não saberá, ou fingirá que não sabe ou nem se interessa em saber. Pergunte a um quarentão e se ele quiser falar, talvez diga que saiu da praça por um dos únicos corredores pelos quais ainda se podia passar, ouvindo tiros pelas costas e vendo gente ferida pelo chão. Você, como estas pessoas que trazem estas imagens registradas, pode ter uma ideia do que aconteceu clicando no vídeo abaixo. Por aqui, obviamente, ele está censurado – e vai ao ar vez que outra graças a subterfúgios que ativistas encontram para divulgar por aqui o que os hoje papais e mamães fizeram. Mas divulgar pra quem?



Às vezes tenho a impressão de que há uma gana desesperada para calar algumas vozes. Mas minha dúvida é: se estas falassem em alto e bom tom, teria gente disposta a ouvir? Tem tantas vezes que em nome do – próprio – bem-estar é tão mais fácil fechar os olhos. E segue o baile.

Ontem, no baile enquanto eu comemorava os três anos da escola de samba SambAsia, cujos músicos são meus amigos, vi na plateia o roqueiro Cui Jian, fã assumido do ritmo brasileiro e que se deu mal ao tocar para os estudantes na praça. Isso há 20 anos, quando os acordes do então mocinho se limitavam ao 1,2,3,4 roqueiro. Para falar a verdade, ele voltou com tudo à capital chinesa somente no ano passado, quando fez um show ao lado dos ritmistas chineses da batucada brasileira.

Fiquei viajando nesta conexão maluca, de estar ao lado do roqueiro sambista que se esforçava para garantir um outro requebrado ao som de Timbalada num momento em que o mundo que debate China se volta para os fatos de há 20 anos. E de este moço de boné e bebedor de cerveja sem medo de errar feio no sapateado ser um dos ícones da época. Mas não fui falar com ele, jamais teria coragem – sim, quando estamos acostumados a não ouvir, também temos uma tendência a emudecer – de perguntar o que ele sentiu tocando na praça. Hoje, ao pesquisar sobre o show, descobri que ontem foi o aniversário de 20 anos do concerto. Exatos 20 anos.

Quando Cui Jian subiu ao palco, lá e 1989, os estudantes já estavam acampados há mais de um mês, já houvera greve de fome. O movimento havia ganhado a simpatia de intelectuais país afora, sindicalistas, gente comum, policiais, monges, empresários, que foram até ali doar comida para quem não tinha embarcado na greve. Era velho, jovem, criança, todo o mundo. Muitos deles foram ver o seu Cui Jian. E o Cui Jian viu muito desta gente. Qual a sensação de ter feito parte? E qual o peso de não poder tocar mais no assunto?

De repente, lembrei das Diretas, aquelas que papai e mamãe, pelo menos os meus, tomaram parte no Brasil. Depois lembrei do Fora Collor. E com um quê de decepção, lembrei que o alagoano é senador, indicado para atuar na CPI que agora investiga a Petrobras. Nada mal para quem deixou o governo porque estava envolvido em falcatruas. E lembrei da lambança do Rio Grande do Sul atual e de que há coisa de duas semanas, ou pouco mais ou menos, manifestantes levaram velas à praça pedindo o impeachment da governadora. Nem quero me envergonhar de que havia pouca gente, até porque a gente tem sempre tantas outras coisas a fazer, né, como pensar na carreira, em como ganhar mais dinheiro, em todas estas um milhão de coisas. Muito menos cogito que alguém na sociedade democrática e livre brasileira tenha tachado os manifestantes de desocupados. Nãnã. Ninguém teria coragem.

De tudo isso, concluo, claro, que nada é mais valioso que minha liberdade de falar, escrever e votar. E a sua também deve ser. Pena que muitos de nossos compatriotas não saibam o que fazer com isso. E que a gente nem se importa, para falar a verdade.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desejo e Perigo atrasados

Salas de cinema de São Paulo e Rio exibem desde a última sexta-feira a produção Desejo e Perigo (2007) (http://www.bvi.com.tw/movies/lust_caution/main.html), de Ang Lee, o cara que sempre será lembrado por Brouckback Mointain ou, menos honroso, por Hulk - que eu não vi e nem pretendo.

Passei a tarde agora lendo sobre o filme e me deparei com críticas - todas em português - que exaltam a beleza do filme e outras que dizem se tratar de uma obra certinha, capaz de trazer elementos de suspense, amor, além de conter uma ambientação histórica impecável e só. Para mim, o só já significa tudo.

Sim, concordo que uma história de amor é meio demais para retratar um jogo tão complicado como aquele envolvendo um espião que delata, tortura e não está nem aí na Shanghai ocupada pelos japoneses da década de 1940. E o filme é por aí. Nem vou dizer que a personagem era uma mocinha tonta que se destaca por seus dotes pra que você não perca a vontade de ver. Até porque vale muito a pena.

Eu vi duas vezes, ambas no cinema, e isso que por aqui cinema está longe de ser barato, coisa de R$ 20, R$ 30, dependendo da sala. A primeira, logo depois de ser lançado e ter provocado polêmica pelas cenas de sexo e de violência - tem um assassinato na trama -, foi em Hong Kong. Estava curiosa pela versão sem cortes e resolvi gastar o pouco tempo que tinha na cidade enfiada duas horas e meia numa sala escura. Adorei.



De volta à capital chinesa, faltou mesmo o sexo e o assassinato. Mesmo que os cortes sejam assinados pelo próprio Ang Lee, faltou vigor. E, neste ponto, discordo de quase todos que dizem se tratar de um filme erótico. Pra mim, a intimidade da menina e do malvadão só se revela na cama, e vai fazer todo o sentido depois.

Na época, logo vi DVDs piratas sendo vendidos pelas ruas de Beijing. Sem cortes, diga-se. Foi uma bela lição sobre o modus vivendi chinês. A gente proíbe o que considera ruim e faz de conta que todos aceitarão os limites. E todos fingem que não sabem como ultrapassá-los. Até acho que a grande maioria não sabe, mas isso é outra história.

Desejo e perigo em chinês é 色,戒, que em mandarim lemos Shai Jie. Aí vai o trailer, em português mesmo.



Uma das cenas mais sensuais pra mim, não eróticas, é quando a atriz, Wei Tang, canta 天涯歌女,ou a Cantora Errante, que pode ser lido como Tianya Genu, para o amante, vivido por Tony Leung Chiu Wai. Aliás, graças ao filme, comecei a achar o cara O cara sensual da China, isso que ainda nem vi todos os filmes do Wang Karwai que ele faz, como Amor à Flor da Pele. Bueno, segue esta palhinha pra vocês.



A música originalmente foi cantada por Zhou Xuan, atriz chinesa famosa lá longe. Olha a performance de 1937 aí, gente.



Aliás, as duas personagens vestem qipao (旗袍), que é como são chamados os maravilhosos vestidos chineses, criação de Shanghai, onde se passam as duas tramas apresentadas rapidamente nas imagens acima.

Drops

Wei Tang (http://www.tang-wei.org/) foi banida da mídia chinesa após protagonizar as cenas de sexo e hoje vive em Hong Kong.

Escanteado, mas não calado


Poderia ter havido negociação. A afirmação do ex-primeiro-ministro chinês Zhao Ziyang bota lenha na fogueira e reacende a ira dos meandros do poder comunista em Beijing, que gasta boa parte do tempo e dos esforços para se livrar do fantasma da Praça da Paz Celestial. Zhao se refere aos estudantes que acamparam em frente à Cidade Proibida e só saíram dali expulsos pelo Exército de Libertação Popular, alguns deles, mortos – entre centenas e até 2 mil mortos, ainda não se sabe a cifra exata -, em 4 de junho de 1989.
As declarações estão no livro póstumo Prisioneiro do Estado – O Diário Secreto do Premie Zhao Ziyang, lançado nesta terça-feira nos Estados Unidos e em Hong Kong, onde a obra de 306 páginas ganhou versão em chinês. Na parte continental do país ela está proibida.

Os editores aproveitaram os 20 anos do massacre para publicar o livro, até agora o relato mais crítico à cúpula política no comando da República Popular da China vindo de um integrante do primeiro escalão.

Zhao ascendeu ao Politburo em 1977, pinçado pelo então presidente Deng Xiaoping, sucessor de Mao, depois de garantir reformas profundas que fariam a indústria de Sichuan crescer 81% em três anos, mesmo período em que a agricultura deu um salto de 25% na província. Em 79, já era vice-primeiro-ministro e seis meses depois, nomeado premiê. Zhao era ambicioso e tinha como meta transformar a China numa social-democracia até 2000. Começou, conta no livro, implantando a política de reforma e abertura, que transformou o país no chão de fábrica mundial. Os louros, claro, até hoje são do então presidente, Deng.

No final da década de 1980, o que eram flores se revelou um problemão. O superaquecimento da economia trouxe inflação e descontentamento. O culpado? Zhao, óbvio. Para completar, quando os estudantes tomaram a praça, lá foi ele conversar com o povo – e nesta foto, vocês podem ver que ao lado esquerdo de Zhao, com megafone em punho, está uma figura que viria a se tornar tão importante quanto, o atual primeiro-ministro Wen Jiabao.

No debate com os estudantes, o primeiro-ministro selava seu fim político e viveria os próximos 16 anos sob prisão domiciliar, em Beijing, tirado de cena. Claro que o partido sabia do simbolismo da figura de Zhao e quando este morreu, em janeiro de 2005, um comitê foi criado às pressas para monitorar possíveis manifestações populares. Os ideais democráticos de 1989 não se revelaram, no entanto. A prudência do Politburo ainda fez com que houvesse um controle dos viajantes à capital na época, evitando um afluxo de gente do interior, além de proibir que a notícia da morte fosse veiculada em rádio e TV.

Gato escaldado tem medo de água. É que todo o movimento em 1989 surgiu a partir do luto pela morte de Hu Yaobang, outro integrante do Politburo que defendia reformas que poderiam desembocar em uma política mais democrática. Hu morreu em 15 de abril de 1989, depois de sofrer um ataque cardíaco durante reunião do partido. No dia 17, um grupo de estudantes foi à Praça homenageá-lo com flores e faixas. E àquela manifestação de pesar foram juntando-se mais flores, mais estudantes e, principalmente, mais faixas.

Nos dizeres, nem sempre Hu era o tema. A democracia era, pedidos de liberdade de expressão eram, o fim do sistema de unidades de trabalho, em que os empregos passavam de pai para filho, como um tesouro praticamente genético que dava ao governo o poder de gerenciar não só a vida profissional dos não cidadãos, como a privada, também era. E de tantas faixas, flores e estudantes surgiu uma tese, publicada no Diário do Povo de 26 de abril, a voz do partido chinês. Articulado por Li Peng, camarada linha dura e próximo a Deng, o editorial taxava a manifestação de anti-partido e anti-socialista. Decretado, pois, quem eram mocinhos e bandidos na história.

O objetivo, dizem especialistas, seriam amedrontar os manifestantes que, acovardados pelo status de inimigos, recolheriam-se à sua insignificância. Engano. A mobilização só fez crescer. E Zhao insistindo em negociação. Até que numa reunião na casa de Deng, relatada no livro, se decide decretar lei marcial e acabar com a balbúrdia. Este é um dos pontos em que Zhao inova, ao desdizer registros não oficiais, diga-se, sobre a decisão que culminou na expulsão via exército. Zhao sustenta que não houve votação entre os integrantes do Politburo sobre a questão, fato que contraria até mesmo as regras partidárias. Para mim, não faz diferença alguma se alguém antidemocrático não votou. Mas parece que aí estaria mais uma prova da arbitrariedade dos grandões chineses.

Zhao fala mesmo e fala demais. Tenta mostrar que Deng não tem nada de arquiteto das reformas, atribuindo a si muito das mudanças. Tudo isso foi gravado em cerca de 30 fitas, secretamente, claro, que saíam de casa clandestinamente. Bao Pu, responsável por traduzi-las para o inglês e um dos editores do livro, conta que levou anos para resgatar todo o material. Pu é filho de Bao Tang, assistente político de Zhao e que passou seis anos na cadeia após o episódio da Praça.Imagino, mesmo sem ter lido, que os esforços tanto de Zhao para gravar às escondidas quanto de Bao para reunir e traduzir o conteúdo valem super a pena. Botei o livro na lista de obras que lerei. E quem gosta de história política contemporânea ou tem curiosidade sobre a China deveria fazer o mesmo.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Lula e os 13 acordos com Hu

13 acordos sino-brasileiros , entre os quais US$ 10 bilhões em empréstimos do Banco de Desenvolvimento da China para a Petrobras, numa operação que deverá ajudar a brasileira a desbravar o pré-sal. E agora vai.

De brinde, a instalação de uma unidade da montadora chinesa Chery, (http://www.cheryinternational.com/), negócio que já havia sido anunciado, mas que agora parece ter data para começar. E será ainda neste ano. O que falta é definir o Estado que receberá a fábrica, mas como o Rio Grande do Sul está fora, a Yeda pode se livrar de ouvir, eventualmente, que mandou a Chery embora. Na real, ela tem outras tantas coisas para se preocupar.

Parece que foi mesmo produtiva a visita de Lula a Beijing – que só acaba amanhã. O petista celebrou junto ao colega chinês, o Hu Jintao, o fato de a China ter ultrapassado os Estados Unidos como maior parceiro comercial do Brasil. E tome fôlego.

Analistas de mercado dizem que os resultados positivos que alavancaram as compras do pais chinês são fruto do pacote de estímulo do governo do Partido Comunista da China para escapar da crise. Na onda do dinheiro vivo, vieram investimentos pesados em infra-estrutura e, logo, a necessidade de compra de minério de ferro. E da necessidade de combustíveis, diga-se petróleo. Santa coincidência. Ao lado da soja, que também bombou no mercado asiático, estes são os produtos brazucas que mais vendem por aqui.



O governo chinês mostrou que tem bala na agulha para deixar a crise para os outros e acabou por ajudar o Brasil. Tem mais. Hoje mesmo os bambambans do poder beijinense anunciaram que a China crescerá 8% em 2009, custe o que custar. E tem caixa para isso, uma vez que até agora, nem foi preciso usar todo o investimento previsto no pacote de estímulo de 4 trihões de yuans. E de onde veio esta desmesura de dinheiro tem mais, se preciso for.

Claro que nem tudo são flores pra Lula. Ele volta pra casa com dois temas a fazer. Um se refere à venda de aviões da Embraer para uma companhia chinesa. Há problemas de internacionalização dos produtchénhos. O outro, as vendas de carne bovina e suína para China. A galera aqui é chegada num porquinho, consumindo 40% da produção mundial – e os suinocultores brasileiros estão loucos para fisgar os glutões. Não é todo o dia que se descobre um quitute apreciado por um mercado de 1,3 bilhão de bocas. Ainda não foi desta vez que os chineses embarcaram nos porcos brasileiros, mas quem sabe avança.


Lula começou o dia na imprensa, ao publicar um editorial no China Daily (http://www.chinadaily.com.cn/opinion/2009-05/19/content_7790017.htm), jornal estatal chinês em inglês. Ali, o presidente diplomaticamente reforçou o papel de peso dos dos países em desenvolvimento no cenário mundial. Como economias em franca expansão, China e Brasil parecem mesmo estar na dianteira. Mês que vem, outros dois parceiros do bloco Brasil, Rússia, China e Índia, os Bric, têm encontro em Moscou. A ver quem fala mais alto.
Falar em falar, para além dos acordos financeiros e comerciais, que é o que interessa, Lula reforçou a necessidade de mais entendimento cultural entre chineses e brasileiros. Eu estou aqui me esforçando. O cartunista do China Daily também.



segunda-feira, 18 de maio de 2009

Supersister contra Net Nanny

Você já entendeu que a China tem inúmeras restrições quando o tema é falar abertamente, né? Pobrezinha da Tânia por aqui, que me entendam os gaúchos telespectadores da TVCom. Pois bem, não bastasse desde março sermos privados da companhia do Youtube e de seus vídeos maravilhosos, desde sexta-feira passada, 15 de maio, estamos sem blogger e blogspot.

A delícia de situação é provocada pelo filtro chamado Net Nanny, ou a babá virtual, uma espécie de madrasta má, para dizer a verdade. Ela não gosta de algo, faz cara feia e nem disfarça. Manda parar de brincar. Sem choro. Mas como eu tenho meus vícios, e um deles é este blog, estou abusando de minha querida irmãzinha (http://www.mairinhanomundodalua.wordpress.com/) para que ela publique estes textos. E segue o baile.

Pergunta:

A Net Nanny vai fechar os olhos para as peraltices online novamente depois de junho ou só depois de outubro?

Lula aqui


Lula e Hu durante a Olimpíada, foto de Ricardo Stuckert, Agência Brasil

A estas alturas, Lula e dona Marisa já jantaram com o excelentíssimo presidente da República Popular da China, Hu Jintao, casado com sabe-se lá quem. Acabei de me dar conta que não sei o nome da primeira-dama da China, sequer sei se ela existe. Mas deve existir.

Falemos, pois, do que interessa. O jantar no Jardim Imperial da Casa de Hóspedes do Estado, ou Diaoyutai (钓鱼台国宾馆) (http://www.chinadyt.com/index.htm) foi o primeiro compromisso oficial de Lula na viagem de três dias à China. Provavelmente, o mais diplomático, se considerarmos que este não previa o fechamento de contratos, anúncios de parcerias e cooperações bilaterais e etc. Mas diplomacia pode ser tudo, especialmente em se tratando do maior parceiro comercial do Brasil, status conquistado pela China em abril, quando o país asiático desbancou 80 anos de hegemonia norte-americana.

Gestada desde o ano passado, a viagem de Lula à China foi a segunda em um ano, pois o presidente esteve por aqui para a abertura da Olimpíada, em agosto último. No entanto, é a segunda visita em cinco anos à China na busca de parcerias estratégicas. Os objetivos são financeiros, deixe-se claro, mas também políticos, numa tentativa de afinar os discursos e jogar com mais força e em conjunto no cenário internacional. O papo de unir forçar Sul-Sul e etc. Nada mais oportuno.

O mundo vive a crise. A crise gerou previsões catastróficas. As exportações brasileiras para a China aumentaram 64,7% no primeiro quadrimestre em relação ao mesmo período do ano passado. A China passou os Estados Unidos como maior destino de produção verde e amarela. Opa, bom sinal. Tão promissor que Lula trouxe na pauta propostas como a de os países selarem contratos em moeda nacional, numa operação batizada como swap no jargão economês e que, em tese, escanteia o dólar e permite que os bancos centrais dos países envolvidos enviem dinheiro local um ao outro. Peso pesado político.

Ao presidente brasileiro cabem outras tarefas árduas, como convencer a China a comprar frango e suíno brasileiros, além de garantir acordos para áreas como tecnologia, biotecnologia, biocombustíveis e petróleo. A estratégia parece boa, já que Lula veio munido de um plano quinquenal, expressão tão recorrente no vocabulário político chinês, que estabelece as metas para o país em grandes congressos nacionais do Partido Comunista da China a cada cinco anos e depois lança os tais planos quinquenais, os verdadeiros guias do desenvolvimento por estas bandas. Como comentava ontem com amigos, melhor do que falar a língua é conhecer os meandros da cultura sociopolítica de um país para garantir bons negócios.

Amanhã Lula deve estar com a cartilha do mandarim na ponta da língua, seja esta recitada com ou sem tradutor. A agenda presidencial brazuca inclui encontros com a nata do poder chinês, a começar pelo primeiro-ministro, Wen Jiabao, que ocorrerá em Zhongnanhai, complexo onde vivem os figurões do partido. Dali, Lula seguirá para o Grande Palácio do Povo, onde se encontra com o vice-presidente, Xi Jinping, retribuindo a visita do chinês ao Brasil no final do ano passado, com o presidente da Conferência Consultiva do Povo Chinês, Jia Qinglin e, finalmente, com Hu. Antes de outro jantar entre a dupla Sul-Sul, ocorrerá uma sessão de assinaturas de acordos, que, se saírem do papel, podem significar números ainda mais animadores do que os 64,7% que alavacaram a China à posição de compradora número 1 do Brasil. A ver.

Ainda nesta terça-feira, o presidente concede entrevista à estatal chinesa de televisão CCTV e participa da cerimônia de inauguração do Centro de Estudos Brasileiros da Academia de Ciências Sociais da China, além de almoçar com empresários dos dois países.

Hordas

Existe uma discussão besta sobre quem é turista, quem é viajante, esta coisa que, em resumo, divide aqueles que buscam grupos para ter segurança e comodidade e aqueles que curtem a viagem do planejamento à realização, optando pelo prazer de não ter de seguir regras e orientações. Eu integro o segundo grupo, à exceção da parte do planejamento.

Bueno, dito isso, existe uma turma de turistas que sempre andou em bando munido de máquinas fotográficas por aí, fez fama e deu início ao mito de que por trás de cada flash clicado por um oriental, ali está um japonês.

Fato é que hoje tem muita gente de olhinho puxado ganhando o mundo com outro passaporte, o chinês. Eles também andam em bandos, fazem algazarra, clicam tudo ao primeiro olhar. E a fama sobra pros vizinhos. Ninguém manda achar que todos eles são iguais. Os orientais, eu digo.

Pois hoje o jornal Jakarta Post, da capital indonésia, traz uma reportagem que deixa os japoneses em primeiro lugar de origem dos turistas a Bali. Nenhuma novidade. Os autralianos aparecem em segundo, e os chineses ocupam a honrosa terceira ocupação, mas com um dado interessante. É a nacionalidade que mais cresce nos portões de imigração em Denpasar, o aeroporto de Bali.

Assim, em março, Bali recebeu 21.492 turistas chineses, um aumentinho de 88,16% em relação a março do ano anterior. Para cutir a ilha, prepare o seu mandarim e, acima de tudo, aprenda que por trás de uma lente oriental pode estar um chinesinho. Não chame de japa porque pode desandar o caldo diplomático.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pra TV

Hoje a agência estatal chinesa de notícias, a Xinhua, divulgou uma singela nota. A CCTV, a televisão estatal chinesa, lançará um canal em português. Prazo brasileirinho: demorará entre um e dois anos para que a emissora entre em operação (tipo assim, há uma bela distância entre uma previsão e outra).

A característica da nota seguia os moldes do jornalismo chinês. Nenhum detalhe, nada de aprofundar a informação que, aliás, foi gerada via escritório de Brasília, a partir de dados da portuguesa Lusa.

A CCTV tem endereço de luxo, o prédio cujas torres inclinadas se encontram no alto, tipo o que nos faz pensar que a coisa toda está ou de cabeça pra baixo ou prestes a desabar. Mas esta seria apenas uma ótica simplista e carente de qualquer senso estético ou valor arquitetônico. Quer dizer, eu não tenho nenhum nem outro, mas vai que algum fã do seu Rem Koolhaas venha parar no blog, ou ele mesmo, afinal nunca se sabe quando um arquiteto holandês pode entender português, não é mesmo? Aliás, vai ver é por isso o Roupa Nova cantava tão empolgado "Eu te abraçava, tu e o holandês,/ e perguntava "tu e o holandês?"/ Beijar você um sonho a mais não faz mal".

O endereço é tão de luxo que o povo trabalhador ainda nem se mudou para lá. Pelas contas originais, deveria ser antes da Olimpíada, mas como vimos, não rolou. Os jogos já acabaram há quase um ano e nada. Claro que agora o motivo é resolver o que fazer com o prédio do Oriental Hotel localizado no complexo e que se consumiu-se todinho em chamas no último dia do Festival da Primavera aqui. Pirotecnia pura.

A ver quem vem primeiro, o canal em português ou a mudança pra casa nova. A TV já exibe canais em inglês, francês e espanhol e prepara o árabe. O russo, assim como o tuga, está na lista. Aliás, pra duas línguas tão parecidas, acho que poderiam contratar a mesma equipe.

***

Depois de imaginar que este post tenha acabado com qualquer chance de ser contratada pela dita emissora tamanho festival de nonsense (aliás, querido leitor, chegou até aqui?), deixo uma singela homenagem dos tempos olímpicos aos holandeses. Som na caixa, Roupa Nova.

Paixão chinesa



O que são estes quadradinhos? São meus objetos de paixão, alvos dos meus cliques fotográficos, inspiração pro meu post de primeiro aniversário na China. Para ler sobre o que estou falando, basta clicar na imagem abaixo.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Monastério Suspenso

Em chinês o lugar é chamado de 悬空寺, mas você pode ler Xuankong Si. Ao traduzir, chegaremos à revelação, Monastério Suspenso.

A cerca de 50 quilômetros de Datong, a gente chega ao local depois de cruzar uma estrada sinuosa, abarratoda de caminhões pesados. Ultrapassar os 40km/h é quase impossível, os veículos, nem conto.

Quando se chega ao destino, chega-se a 恒山, cujo som sai Heng Shan. Eis uma das cinco montanhas sagradas da China, a mais setentrional delas, formada por 78 picos, cujo mais alto soma 2.190 metros. A montanha por si só merece uma visita especial. Além de ser a casa de maravilhas arquitetônicas dedicadas aos cultos taoísta, budista e confucionista, escondem-se por ali florestas de árvores centenárias. Tem ser vivo de até mil anos, reza a lenda publicada nos guias sobre a região.

Velho mesmo é o tal Monastério Suspenso - e dizem que parecido com ele, há vários outros pela montanha. Este que se equilibra preso sabe-se como ao paredão de pedra a coisa de 50 metros da base tem uma história de 1.500 anos, tipo as grutas dos 51 mil budas de que falei há poucos dias. Sim, ambos são obras datadas da tal Dinastia Wei do Norte. Povo criativo, aquele.

No post anterior sobre Datong, eu já havia dito que o melhor é pegar um táxi para os passeios, preço combinando ainda na saída do hotel e válido para o dia inteiro. Nosso trajeto entre as grutas e o monastério levou quase duas horas. Ali, os ingressos custaram 30 yuans, pois estamos na baixa temporada - na alta, do final de maio a outubro, custam 60.

Agora deixo vocês com as fotos, que são bem mais delícia. E depois volto para falar do último local visitado, o pagoda de madeira mais alto e mais antigo da China.