quinta-feira, 19 de março de 2009

Greta Garbo à chinesa

Pouca gente sabe quem é Ruan Lingyu (院玲玉), considerada uma das maiores atrizes chinesas, ainda que tenha atuado por cerca de apenas 10 anos, em filmes mudos dos anos 1920 e 30. Eu integrava a turma dos ignorantes a respeito de. Conheci a moça no painel Comparando o Campo de Atuação, Filmes Asiáticos e o Ocidente, com o crítico de cinema e diretor escocês Mark Cousins, que ocorreu na Bookworm, o melhor lugar pra estar antenado aqui em Beijing - na minha modesta opinião, claro.



Lingyu nasceu em Shanghai em 1910. Foi ali que morreu, aos 25 anos, após uma ingestão exagerada de remédios para dormir. O suicídio teria ocorrido porque, além de ter uma vida amorosa conturbada, ela seria vítima das fofocas da mídia da época. Não que as pessoas se matem hoje em dia por causa disso, mas bisbilhotar a vida das celebridades ainda ocorre. Canseira.

Lingyu era a queridinha do cinema na China - e como Cousins disse, nos anos 30, Shanghai e Tokyo viviam épocas de ouro. O cortejo da atriz, dizem os registros, reuniu milhares de pessoas. Três garotas teriam também cometido suicídio durante o funeral. O jornal New York Times deu na capa a história, dizendo que era o maior cortejo do século.



Até hoje Lingyu é lembrada por quem entende de cinema - em Shanghai, um monumento homenageia a atriz, já que a lápide em si foi destruída durante a Revolução Cultural. Ela é considerada uma lenda, um patrimônio da cultura shanghainense.



Goddess (神女), de 1934, é considerada uma das melhores atuações da chinesa de origem cantonesa (e é um trecho deste filme que você pode assistir logo abaixo).



Cousins compara Lingyu a Greta Garbo e se pergunta por que o Ocidente não conhece a mocinha dos olhos puxados. Sabem, mesmo aqui se conhece pouco da história do cinema. Em qualquer loja de DVD ou camelô de rua, se encontra uma gama sem fim de últimos lançamentos nacionais e do mercado internacional. Agora, filmes mais antigos, prata da casa, quase nada.

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Bueno, mas depois de falar um pouco da diva do cinema (mudo) chinês e mostrar algumas fotos da bonitinha, deixo com vocês um pouco sobre o Cousins.

Todos os meses, ele escreve artigos sobre cinema na revista britânica Prospect. Neste, de 2004, ele fala especificamente sobre as produções da Ásia e conta, claro, a história de Lingyu (mas é tudo em inglês). No ano passado, ele foi curador da mostra internacional de documentários no 13°Festival É Tudo Verdade. Escolheu 10 filmes que "Mudaram o Mundo" e justifica os eleitos neste texto, mal traduzido para o português. Achei a linguagem chaaaata.

De qualquer forma, ele afirma o que depois eu vi reafirmando ao vivo, que filmes podem ser, sim, instrumentos de educação e informação, por meio dos quais as pessoas podem aprender sobre uma sociedade, comportamento, cultura, etc - mesmo quando estes não têm qualquer traço documental, já que aqui em Beijing discutíamos mais as obras ficcionais. Cousins arrancou gargalhadas as dizer quem nem sempre é preciso ler livros para se manter informado - e se desculpou por estar dizendo isso justamente dentro de uma livraria que promovia um festival literário para o qual ele havia sido convidado. :p

Fato é que, segundo ele, ao ir mais fundo na ironia, disse que quem lê, lê para parecer mais inteligente, lê para conhecer mais, se tornar mais culto. Ao passo que quem assiste filmes, o está fazendo apenas como lazer. Aliás, superconcordo com estas perspectivas do moço escocês - que, pena não ter levado uma câmera para fazer uma fotita, vestia confortavelmente um kilt, aquelas sainhas escocesas com pregas e padrão xadrez. Cousins, cheio de estilo e várias teorias, também já se rendeu à escrita, que fique claro. Ele é autor do livro The Story of Film, sem tradução para o português.

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Toque brasileirinho

O 14°Festival É Tudo Verdade ocorre agora, de 25 de março a 5 de abril, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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