terça-feira, 17 de março de 2009

O cabeleireiro e o taxista

Dia desses estava no cabeleireiro, o mesmo a que vou desde o ano passado, e ele perguntava o que eu andava fazendo, há quanto tempo não aparecia e outras cositas más. Aproveitando todo o meu chinês, disse que estava estudando bastante, havia passado férias no Brasil, motivos estes o do desaparecimento há cinco meses. E eis que ele desfila um rol de fonemas totalmente sem sentido para mim.

Digo que não entendi lhufas. E ele, claro e direto:

- É, realmente precisas estudar mais chinês.

Acabou comigo, o cara! Conversa vai, conversa breca, conversa vem, ele me disse que eu precisaria falar com as pessoas, ter amigos, para aprimorar meu mandarim. Eu disse que seria impossível, que não conseguia ainda formar frases com sentido, me fazer entender em mandarim.

- E nós dois estamos falando o quê? - perguntou o fofo Lu Wei, cujo nome ocidental é Vicky.

Não precisei pensar muito para dizer que era mandarim.

- Viu? - retrucou ele, emendando: tu sabes falar. E, aliás, eu sou teu amigo.

TRI FOFO! Ganhou a cliente pra sempre.

Pois hoje, dia de resgate da bicicleta, quem me fez feliz foi um taxista. A bici estava abandonada desde domingo em frente a um restaurante russo, o Moscow, porque havia furado o pneu de trás bem na hora em que eu estava atrasada para um painel sobre literatura chinesa na Bookworm. Depois da aula, fui buscá-la.

Primeiro, o moço taxista, 师傅 na linguagem oral - a gente lê os dois caracteres como shifu e o significado é mestre (vai dizer, no Brasil a gente também chama o capataz, o motorista, o garçom, todo o mundo de mestre, não é? Menção honrosa para os mestres que tiram um chope supimpa) -, foi o primeiro a concordar em botar minha bicicleta no porta-malas, mesmo que isso significasse ir com a tampa aberta. Em algumas situações, adoro as confusões e as permissões a que as pessoas se propõe no terceiro mundo.

Ele não sabia onde eu morava, expliquei mais ou menos e fomos indo. Quase perto de casa, quando eu disse a famosa frase, "na próxima sinaleira, à direita", ele soltou um superelogio, pelo menos pra mim, que estou tentando me mexer um pouco pra ver se deixo de ser gorda:

- Você pedalou até lá?

- Sim, o restaurante fica perto da escola onde estudo mandarim, vou todos os dias, de segunda a sexta.

Não expliquei que o pneu tinha furado no domingo, quando eu estava indo a um encontro literário. Meu chinês não permite. Mas pensando bem, tou orgulhosa da minha vida atleta e do pouco mandarim que já falo. Daqui a pouco, chegará a hora de fazer amigos. Que tudo!

2 comentários:

kika disse...

mas o cabeleireiro está certíssimo, ter amigos chineses e praticar mais tanto falar quanto escutar é essencial pra melhorar o mandarim.
no entanto, me incluo no mesmo grupo que tu, sem amigos chineses tanto por achar que ainda falta estudar muito pra me comunicar decentemente com eles, quanto por que acho difícil encontrar coisas em comum com os locais, ou seja, rapidamente falta assunto.
não descarto que um pouco seja frescura e outro pouco preconceito e seguindo nessa linha digo que pra homens estrangeiro é bem mais fácil aprender o idioma, já que chove meninas dispostas a ajudar.
hoje mesmo na aula um colega contou que quando vai em alguns lugares e fala algo em chinês é elogiado (até aí ok, também acontece com a gente de vez em quando) e que além disso com frequência as meninas pedem o número do celular dele, etc. hehe
na real acho que o fenômeno homens estrangeiros + chinesas não é segredo pra ninguém que já tenha passado por aqui.

Jana Jan disse...

Pois é, as meninas são mesmo fãs dos meninos ocidentais. Já ouvi as mais diversas explicações pro fenômeno. Acho que vai da química à curiosidade pelo diferente, passando por desejos nem tão sentimentais assim, como o sonho de uma grana e'ou de uma vida melhor.

Acho que a diferença cultural é imensa também. Mas creio que a falta de assunto se dá mais pela diferença linguistica mesmo. Agora mesmo saí com um amigo que fala mal inglês que trouxe um amigo que só falava chinês. A gente se comunica, mas fica uns lapsos de silèncio e outros tantos de malentedidos que acaba cansando todo o mundo. Mas voltei feliz por ter conseguido falar um pouco mais, mas tudo muito básico, sabe?

O negócio é continuar tentando. Sobre chineses, até hoje só fiquei com um - que, aliás, só namorou estrangeiras, nunca chinesas - e uma vez fui cantada por outro. Tirando isso, nada, nadinha.

:)