quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

De trem


Na viagem a Chengde, a galera tava curiosa com os "laowai' (estrangeiros) que estavam ali (Crédito:Jana Jan,Chinainblog)

A Tati perguntou ali no blog dela que impressões eu tinha dos trens pela China, visto que Paul Theroux relata no livro Viajando de Trem Através da China muito do país de dentro do, dan, trem, como o próprio nome sugere.

Escrito há 20 anos, o livro diz que há banheiros imundos - e às vezes corredor também -, alto-falantes ligados, vagão-restaurante confuso e barulhento, beliche confortável, boa comida, garrafa térmica com água quente para se fazer chá e lindas paisagens pela janela.

Bem, já que fui perguntada, vamos responder. Eu andei quatro vezes de trem por aqui - ou melhor, sete, pois fui e voltei (à exceção de em uma das viagens, quando retornei a Beijing de ônibus). Vamos por ordem? Fui a Beidahe, 北戴河, (praia), Qingdao, 青岛, (praia e terra da Mariana), Pingyao, 平遥,(cidade cercada por muralha - não a Grande - e que guarda arquitetura das dinastias Qing e Ming) e Chengde,承德,(antiga residência de verão de imperadores, local da réplica do Templo de Potala, no Tibete).

Assim, Tati, tem gosto pra tudo. A ver...

Beidahe - 北戴河


Esta é a única do trem chique para Beidahe (Crédito: Manuel Martinez, Especial)

A viagem é de cerca de duas horas, partindo da Estação Beijing (Beijing Zhan, 北京站), no centro da cidade. Coisa de louco: o trem era bem melhor que muito avião. Poltrona confortável, moças de uniforme bem cortado nos servindo, um luxo só. Esta viagem fiz com meus colegas e amigos de Xinhua Manuel e Oliver. Melhor impressão impossível! O trem é um luxo na China, esqueça as impressões de há 20 anos. Ou não...

Segunda jornada: Qingdao - 青岛


Achei que não caberia tanta gente no vagão, mas o povo aguentou firme de pé até Qingdao (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

Com uma super boa impressão da viagem anterior, partimos eu, Mariana, o Brian (marido da Mariana), Manuel e Helena, que trabalha no departamento de francês da Xinhua, para Qingdao. O que seriam oito horas de trem, não é mesmo? A Mariana já havia nos avisado que não havia camas disponíveis (sem chance de, nesta vez, experimentarmos se os beliches eram ou não confortáveis). Mas depois da ida a Beidahe, qualquer poltrona seria melhor do que as que encarei na vinda do Brasil pra cá.

Hm... Chegamos ao trem, assentos duros para a gente, ou seja, esqueça o reclinável. Os bilhetes haviam sido vendidos aos montes, o que significava muita gente em pé ao nosso lado, o que impediria, mais tarde perceberíamos, aquela espichada boa nas pernas. Tive de ir ao banheiro uma vez e foi engraçado. Pulei por cima de um monte de gente que já tinha se entregado ao sono atirado pelo corredor mesmo. E tem foto do banheiro. Não digo imundo, mas é o tradicional buraco no chão - pouco espaço, o trem balança... olha, boa experiência para testar o equilíbrio.


O banheiro é este buraco e quando o trem está parado, não pode usar! (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

O trem está longe de ser imundo, não gostei desta palavra. Mas a farofada tão familiar aos brasileiros corre solta no vagão, certo. E fica todo mundo meio família lá pelas tantas. Tem gente que joga conversa fora com o vizinho, joga carta, forma novos amigos... Uma festa sobre trilhos madrugada a dentro. E um teste para quem está acostumado só a conforto...


Com caminha: ida a Pingyao - 平遥



Para ir a Pingyao, a estação é a Oeste, ou Beijingxizhan (北京西站). Por favor, preste atenção no que diz os luminosos (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

Fui a esta cidade bonitinha (e recomendadíssima) com a Viviana e o Nathan. Quer dizer, o trecho de trem, percorri só com ela, pois o Nathan conseguiu perder, pois saiu tarde do trabalho e acabou preso no trânsito. Logo... pontualidade na saída do trem!

Na viagem, de 12 horas, encarei a primeira caminha: um compartimento com seis pequenas camas - beliches de três "andares". Era verão, saímos cedo, vi paisagens lindas, sim! Curtam as fotos. Não temos foto da mesa, mas, sim, as térmicas para abastecer as garrafinhas de chá estavam presentes. Prometo fotografá-las da próxima vez.


Legal este verde no caminho a Pingyao, né? (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

O legal é que o compartimento é compartilhado supernaboa, sem estresse nenhum mesmo! Em todas as vezes que viajei, nunca cheguei a ir ao restaurante, então não sei como é este vagão. Mas passam vez que outra tiozinhos vendendo comidas, especialmente macarrão instantâneo. O que a gente comprou tava uma bela... porcaria! Quem manda não saber ler nada de chinês pra tentar imaginar o sabor, né?


Olha o carrinho com o jantar e as bebidas, gente (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

Ah, outra coisa, o trem parava e parava e parava, motivo para a viagem ter sido de 12 horas. Mas desta vez, uma tia sempre passava pra avisar em que estação estávamos chegando. Dormir que foi bom, difícil, bem difícil. O pára, apita, arranca, apita, pára, arranca torna a tarefa mais difícil...

Ah, o Nathan? Conseguiu comprar uma passagem num trem pouco depois do nosso e nos achou já em Pingyao. Ele foi sentado...

A última - que viagem - a Chengde, 承德


Achei lindo o rosto e o estilo antigo deste chinês, não descansei enquanto o Cláudio não emprestou a máquina pra eu registrar o tiozinho (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

Minha última aventura de trem começou uma viagem já na hora de comprar os bilhetes. Resolvi, eu e meu mandarim perfeito, comprar sozinha a passagem na estação. Iríamos eu e Cláudio, um amigo brasileiro que conheci aqui - conhecido há pouco tempo na época. Bem que achei estranho que uma passagem para um trecho de quase cinco horas custasse só 20 kuais (menos de US$ 3), mas tudo bem. Já ao chegar à Xinhua, meus colegas disseram: "Olha, aqui está escrito que tu não tem assentos, as passagens são para viajar de pé".

- Hm... Melhor avisar o Cláudio, vai que ele desiste, né? - pensei.

Bom, sem conseguir telefonar pra ele, o jeito foi avisar bem perto da hora de sair. Tudo ótimo, ele topou a indiada. Entramos num vagão mega-lotado, só com os tais assentos nada reclináveis e ficamos de pé. Por menos de 15 minutos. Eis que uma chinesa de um inglês mínimo expulsou, praticamente, dois chineses dos seus lugares pra que a gente pudesse sentar (na verdade, eles estavam deitados nos bancos e tiveram de dividir o espaço com a gente).

Era um povo supersimples. Com certeza, compramos as passagens mais baratas. E as companhias foram um barato. Com certeza aqueles dois estrangeiros viajando junto a gente simples era uma novidade. Nos deram sementinhas pra comer, ofereceram baijiu (um aguardente meeeeeeega forte que eu polidamente recusei) e queriam nos dar cigarro, muito cigarro. Sim, azar pras plaquinhas de proibido fumar. A fumaça corria solta. Havia também plaquinhas pedindo pras pessoas não escarrarem, ou cuspirem, no chão. Isso, eu realmente não vi. E, outra vez, dispenso o imundo. Agora, claro, depois de um monte de baijiu, um monte de sementinha, um milhão de cigarro, limpo é que o vagão não seria, exatamente.

A gente curtiu horrores a experiência de viajar num vagão megapovo, mas na volta pra Beijing, domingo à noite, cansados, viemos nas caminhas aquelas que experimentei com a Viviana. Mais confortável. E quente. A calefação no inverno funciona que é uma beleza! O preço? Três vezes mais, coisa de US$ 9, ora pois.


Com este casal, treinei o meu então bem mais escasso mandarim. Descobri que eles moram em Tiajin (天津), se não estou completamente errada, cidade que receberá partidas de futebol na Olimpíada (Crédito: Jana Jan/China in Blog)

Hm... este post me deixou com vontade de falar mais sobre trens, de falar um pouco de cada um dos lugares pra onde os trens me levaram. Tati, culpa tua!
;)

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