Eu resumiria a história de Xinjiang assim: os uigures não querem fazer parte da China, mas eles fazem e são discriminados como cidadãos de segunda classe, relegados à classe servil na terra em que nasceram. Um horror.
Mas simplificar pode ser tão perigoso quanto estúpido, e eis que temos uma rede intrincada de detalhes e fatos que encerram em violência um descontentamento antigo e uma disputa racial latente. O que sobram são vítimas.
Concretamente temos uma sociedade cuja convivência pacífica é forjada. É fato que os han, maioria chinesa, migraram para Xinjiang sob promessas do governo no poder pós 1949 de prosperidade. Em termos numéricos, os han que eram 6% na região há 60 anos, hoje somam quarenta e tantos por cento, há quem diga que é mais.
Não bastassem ser forasteiros, são eles também os donos, os detentores do poder político e aqueles que têm no governo central respaldo para perpeturem sua língua e cultura, haja vista que o mandarim é língua oficial, presente tanto nos bancos escolares quanto nas provas e exames de admissão em universidades e empregos públicos. Uigur não tem nem o mandarim como língua primeira, muito menos o sistema baseado em caracteres para ler e escrever. Uma atrapalhação e um passo atrás desde o nascimento na luta pela tal conquista de status social.
Aí explode uma violência sem fim por lá e
- os han culpam os uigures
- a mídia chinesa culpa os terroristas (uigures, em outras palavras)
- a mídia estrangeira toma as dores dos uigures
- muito estrangeiro acha que han é malvadão.
Então a gente começa a pensar nas histórias pessoais, como a que o New York Times trouxe nesta quinta-feira (http://www.nytimes.com/2009/07/09/world/asia/09han.html?_r=1&th&emc=th), e se dá conta que a realidade quando bate à nossa porta, ela é muito mais cruel.
O jornalista Edward Wong entrevistou um casal que perdeu o filho han nos confrontos de domingo. O casal não tem dinheiro, vendia fruta no mercadinho perto de casa. Nunca se sentiu confortável por ali e só mudou para Urumqi, a capital de Xinjiang, com o sonho de vencer na vida.
Ralam de sol a sol vendendo fruta em carrocinha de madeira, não integram a classe grã-fina han que aparece em diversas outras reportagens pós domingo, muito menos se beneficiam de seu caráter genético. Ferrados.
Vivem num quê de favela onde moram gente de Henan e Sichuan, duas províncias chinesas. E agora carregam a marca de confrontos entre vítimas. O pai, no entanto, engrossa o coro racial. "Este lugar não seria nada sem os han", diz Lu Sifeng, 47 anos, ao New York Times.
Há uma semana
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