segunda-feira, 20 de julho de 2009

Feliz Dia do Amigo

Hoje vocês no Brasil comemorarão o Dia do Amigo, então dêem aquele upa apertado em quem vocês gostam. Eu aqui darei na Paula e mando virtuais para todos. Junto, notícias do final de semana.

Minha sexta-feira começou chuvosa e vestindo calças brancas, uma combinação perfeita para caminhar por Beijing e indício de que a coisa poderia dar errado. Não que chegasse a ser promessa, mas uma amiga canadense estava indo embora e pediu que todos vestíssimos branco, a cor do luto na China. Então já vim para o trabalho paramentada e incrivelmente cheguei até limpinha à festa.

Foi uma noite memorável, em que eu e a Cláudia subimos ao palco junto a uma dupla roqueira argentina para cantar Calhambeque, do Roberto, sei lá em que língua. Só lembro do "bi, biiiiiiiiii! Quero buzinar meu calhambeque, biribi bubu". Mico pouco é bobagem e lá estava o francês por quem tenho paixões, e lá fui eu desavisadamente dar em cima do moço, ai se arrependimento matasse.

Cês sabem, quem fala o que quer, ouve o que não quer. Tomando esse ditado como base, quem sai por aí ficando com uma galera, uma hora vai levar na cara o que não quer. Eis que tou eu lá linda e faceira dando em cima do francês quando ele sutilmente me pergunta.

- Você ainda não percebeu que eu só fico com você quando estou bêbado e depois sou super frio?

Tipos, vocês não perceberam a minha cara de tacho. Nem tem o que dizer, acho que nunca tinha ouvido uma grosseria semelhante (e olha que já ouvi um monte de bobagem por aí). Só falei para ele que ele não deveria nunca jamais falar isso para outra pessoa, mesmo que fosse verdade, que era melhor dizer simplesmente que não era a fins, sem ficar machucando. Daí fui dormir. Dormir na Praça.

Não bastasse eu ter de acordar no dia seguinte para ir viajar, isso eram 3h e eu tinha de acordar as 6h, esqueço minha chave no meu quarto, sem poder pegar, e a Paula não tinha voltado comigo. Resultado, dormi no banco da praça até ela voltar. Nestas horas, você agradece por não haver violência na China. E se sente mais coitadinha, depois de levar um fora daqueles, dormir na praça. Bah!

Bueno, até deu tudo certo e eu cheguei no meu destino no horário previsto, uma cidade quente, boba e chata perto de Shanghai. O sábado foi sem percalços, eu até consegui me comunicar em chinês dizendo que queria ficar num hotel barato perto da feira de produtos importados. E para lá o taxista me levou.

No domingo, como tinha de fazer um trabalho free e secreto, lá fui eu enfrentar o calor. Calor lembra banho, banho lembra que eu tenho banheira em casa, banheira lembra pato e eu vi um patinho de borracha que faz Quack, Quack pra vender. Daí comprei. Pouco depois comprei uma mala de mão, já que minha mochila pesava nas minhas costas. Então ainda na loja resolvi tirar a mochila das costas, botar as coisas na mala e aliviar o peso da bolsa.

E saco o pato da bolsa, a mulher saca uma gargalhada. Me senti, juro, o Mister Bean. Não sei se ele tem cenas com patos de borracha que fazem Quack Quack, mas ele tem com o urso de pelúcia. Então me senti tão idiota quanto ele. Dei um sorriso idiota de quem saiu de calça branca na chuva, cantou calhambeque com um casal de argentinos, ouviu de um francês que só era companhia para noites de bebedeira, dormiu na praça e chegou a um lugar bobo, chato e feio no meio da China, comprou um pato de borracha, e fui embora.

Muito, muito mais tarde consegui chegar a Shanghai, onde havia reservado um hotel perto do aeroporto. Só tinha puteiro em volta. Nunca tinha visto isso. Uma casa de massagem ao lado da outra, mocinhas de minissaia lá dentro, iluminadas por lâmpadas cor de rosa. Então entrei num boteco pé sujo como o que levei meus irmãos e a Rafa aqui em Beijing. Nao li nada do cardápio, juro que tentei. Enxerguei um troço que parecia vegetal e pedi. E pedi algo gelado para beber, já que estava derretendo quase à meia-noite em Shanghai. Então primeiro vem a bebida. Num prato de sopa, uma sopa rala de lentilhas doce e gelada. Como eu já tinha saído de calça branca na rua, cantado calhambeque com um casal de argentinos, ouvido de um francês que eu era uma companhia para noites de bebedeira, dormido na praça, visitado um lugar bobo chato e feio e comprado um pato de borracha, encarei. Depois veio o prato principal. SÓ o tal vegetal incerto e não sabido temperado com alho. E frito. Com muito alho.

Voltei ao hotel e depois, de manhã, aeroporto. Como eu tinha laptop, tive de abrir a mala para passar pela segurança. Antes mesmo de abrir, a moça do scanner pergunta

- Você tem um pato, daqueles que faz Quack Quack? - e se mija de rir, chamando a atenção do povo que tava em volta. Como idiota, idiota e meio, tirei o pato da mala, fiz Quack Quack para os guardinhas e fui embora. Nada mais aconteceria, não?

Não, ou sim, sei lá qual a resposta certa. Meu avião teve uma pane, ou faniquito, elétrico ainda em solo e desligou tudo. Tipo luz, som, ar-condicionado. Tivemos de esperar alguém fazer não sei o que por uns bons 20 minutos, tempo em que cozinhei no avião e pedi que a pane não se repetisse nos ares. Afinal, se não tivesse chegado segura aqui, não poderia ter dito que neste final de semana eu saí de calça branca na rua quando chovia, cantei calhambeque com um casal de argentinos, ouvi de um francês que eu era uma companhia para noites de bebedeira, dormi na praça, visitei um lugar bobo, chato e feio e comprei um pato de borracha, passeei na rua das putas pobres de Shanghai, comi sopa gelada de lentilha doce e rala para depois praticamente cozinhar num avião.

E, claro, desejar a vocês feliz dia do amigo.

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