A China fechou o primeiro semestre com 338 milhões de internautas, um incremento nada acanhado de 40 milhões de usuários em seis meses, segundo o Centro de Informações da Internet, órgão que regula a rede no país. Ou um dos. Banda larga? Realidade para 94,3% deste batalhão online.
Salto bem mais significativo foi no número de gente que acessa a web via celular. Agora são 155 milhões (ou eram, há coisa de quase um mês, já que o crescimento por aqui é mesmo espantoso), 32,1% a mais do que em dezembro de 2008. Feliz mesmo é quem vende. Num mercado já nada desprezível, quem antes atendia 14 milhões de compradores online, há seis meses, agora tem 87,9 milhões de consumidores à disposição. Quem dá mais?
Privar da companhia desta gente que tecla por meio de caracteres vai além dos mistérios dos 1001 desenhos que compõem o arsenal básico do bate-papo chinês. Perpassa por sensíveis barreiras censoras e o filtro individual.
Veja o Facebook, a rede social que agora chega ao mercado brasileiro e que comemorou faceira nesta semana 250 milhões de usuários. Como ela aparece aqui na China? Escondida sob desvios de proxy e, ainda assim, mais pra lá do que pra cá, literalmente e geograficamente falando. E os internautas chineses? Querem mais é que o Facebook se exploda.
A rede social foi um dos meios de propagação de campanhas pró independência de Xinjiang - a região autônoma muçulmana onde eclodiu a violência entre a maioria chinesa han e a minoria uigur, de origem turca e maioria naqueles pagos a oeste do país -, decretou no dia 8 de julho o jornal chinês Global Times (http://www.globaltimes.cn/), uma versão em inglês de o que os chineses pensam sobre o mundo.
Um grupo criado nas páginas do Facebook clamava a independência da tal região. Para os internautas da China, não clamou por muito tempo. O Facebook foi um dos primeiros alvos das garras sujas e feias da censura, seguindo o rastro do twitter, do blogspot, do wordpress, de tantos outros que de tão distantes até parecem fazer parte do imaginário coletivo dos internautas ocidentais. E só.
Aproveitando a onda, o jornal resolveu perguntar a opinião dos internautas. E, uma vez que tenha sido um meio de propagação de tal mensagem de desarmonia e desunião, o Facebook deveria ser punido. Entre aqueles que votaram, 81,7% apóiam uma punição ao site. Bacana.
O povo aqui anda sem muita paciência e sem meias palavras. Em Xinjiang, palco dos protestos, internet nem com sinal de fumaça. Os negócios via rede estão parados e o único local com acesso é o centro de imprensa montado no hotel Hoi Tak, da capital Urumqi, onde você leva seu laptop, briga por um daqueles famigerados cabinhos azuis e reza para a conexão não cair, não importa seu credo. Reze. Se não rolar, cruz credo, adeus transmissão das notícias quentinhas. Ah, e se você não é jornalista, nem pense em usar o local. É preciso credenciamento para adentrar o salão (onde, de 15 em 15 minutos toca Garota de Ipanema instrumental, porque o DJ local tem um CD com quatro músicas, repetidas à exaustão. Eu diria que até é parte do processo. De tortura psicológica. Quantas Garotas de Ipanema você precisa para gerar uma matéria de TV?).
Divagações à parte, voltemos ao papo sério. Para especialitas chineses em internet, a linha dura adotada agora resulta num dilema para o governo.
Em entrevista ao estatal China Daily, o especialista em novas mídias da Faculdade de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Pequim Hu Yong afirma que, se por um lado pela primeira vez o governo admite abertamente que está cortando a internet, provavelmente imaginando que terá apoio popular ao mostrar que a medida visa garantir a segurança, por outro, está restringindo a realização de negócios e outras atividades online, como participação em fóruns e chats.
- Os jovens usuários podem começar a ter dúvidas sobre as políticas governamentais em relação à internet, o que poderá trazer impactos profundos - prediz Hu.
Em tempos de mensagens diretas, Yu Xiaofeng, da Universidade de Zhejiang, alfineta:
- Bloquear informações não deve ser a primeira escolha em uma sociedade aberta.
E esta É uma sociedade aberta? Eu cá tenho minhas dúvidas, mas o tal senhor Yu tem outro conselho.
- O governo deveria permitir a propagação de fontes oficiais e não oficiais. Assim, tanto o governo como os cidadãos poderiam procurar a verdade através do conhecimento.
Falou bonito. Para quem quiser ver, em inglês, a matéria na íntegra, aqui vai
http://www.chinadaily.com.cn/china/2009xinjiangriot/2009-07/16/content_8434260.htm
E clique abaixo para ver a notícia sobre o apoio dos internautas chineses à punição ao Facebook, publicada no Diário do Povo, a principal voz do Partido Comunista.
http://english.peopledaily.com.cn/90001/90776/90882/6697993.html
Há uma semana
2 comentários:
Adorei a sua história! Tenho bastante curiosidade sobre a china, seguirei seu blog!
Oba, bem-vinda, Mariana.
;)
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