terça-feira, 29 de janeiro de 2008
A programação de viagens e a mudança de planos
Esse clique de uma pedestre em Shanghai tá fofo, não?
Foto: Liu Ying/Agência Xinhua
A China enfrenta, em várias províncias, as maiores nevascas em décadas. Há trens parados, rodovias interrompidas, aeroportos fechados. Isso numa época em que o país vê crescer vertiginosamente o número de gente que se desloca de um lado para o outro, pois estamos perto do Ano-Novo Chinês, a Festa da Primavera (春节, que lemos chunjie), quando todos querem estar perto das famílias.
Eu vou estar perto dos meus irmãos, que virão pra cá, mas até os nossos planos de viagens foram mudados hoje em virtude do clima, quem diria...
Em Guiyang, sudoeste da China, até os macacos estão sofrendo com o frio. Olhem esta família agarrada!
Crédito: Qin Gang/Agência Xinhua
Dia desses, a Tati havia comentado sobre eu ser relax na hora de planejar viagens. Hoje lembrei logo dela, pois o planejamento feito foi por água (derretida ou congelada) abaixo.
O fato é que na China números sempre impressionam: só de agentes para patrulhar rodovias e especialmente pontes congeladas por este mau tempo foram convocados mais de 922 mil - ei, psit, quase 1 milhão! Gente afetada pelo mau tempo chega a 74 milhões, desde o início de janeiro. Números, números, números...
Fúria da natureza sempre significa tragédia. Até agora, o governo chinês já contabiliza 24 mortos em razão do mau tempo, além de haver muita, muita gente incrementando filas à espera de um meio de transporte pra voltar pra casa ainda antes do Ano-Novo Chinês, dia 7. A comemoração, como a nossa, é na véspera, dia 6.
Hm... acho que já vi cenas como estas, desta vez é aqui perto, em Shanghai, por causa da... neve
Crédito: Arquivo/Agência Xinhua
Por certo que não é a São Pedro que a maoria deste povo daqui faz suas preces para um bom tempo, mas é bom se apressarem em orar, e acharem um santo forte. A previsão só indica mais e mais nevascas nos próximos dias...
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
A lógica, ou a falta dela
Esta história é ainda dos tempos de verão (e que saudades do calor!). Primeiros dias de Beijing, eu querendo arrasar no chinês, afinal, o importante é aprender rápido uma nova língua. Azar que alguém ache difícil. Acostumada a pegar o metrô vez que outra, prestava muita atenção à voz que anunciava numa fluência invejável a chegada ao destino:
- Jianguomen dao le (建国门到了)- dizia, serelepe, a tiazinha no alto-falante quando chegávamos à estação onde era o meu destino final, posto que era o bairro onde eu morava.
Depois, emendava em inglês:
- We arrived at Jianguomen Station.
E a história já havia se repetido por todas as outras estações da rota: "Qianmen dao le (前门到了)" e "Qianmen Station". "Hepingmen dao le (和平门到了)" e "Hepingmen Station".
Pronto, prontíssimo! Basta andar de metrô pra aprender a falar mandarim. "Dao le (到了)" eh "Station", logo, em português, "Estação". Então, num dia, indo ao trabalho de táxi, eu em frente a minha casa (em Jianguomen, lembram?), peço pro taxista:
- Xuanwumen dao le (宣武门到了).
Xuwuanmen é o bairro onde trabalho e não consegui entender o espanto do moço. Ele falou alguma coisa - que eu não lembro, pois à época não sabia MESMO a língua - e eu, espertíssima, pensei: "hm... errei no tom". Repeti:
- Xuanwumen dao le! - tipo assim, hello, taxista, não se ligou ainda que estou encarecidamente - e claramente - dizendo "Estação Xuwuanmen"?
Seria perfeito, seria a primeira vez que não precisaria apresentar o cartão com o endereço da agência Xinhua pra ir trabalhar, já que o prédio fica ao lado da estação. Mas não deu... Tive de me render ao cartão.
Cheguei macambúzia ao trabalho, poutz, será que meus tons estariam tão ruins assim (o mandarim tem quatro tons diferentes e isso complica MUITO na hora de falar)? Depois de conseguirem parar de rir, meus colegas explicaram. "Dao le" nao tem NADA a ver com estação. É tipo: "Chegou".
Óbvio que o pobre taxista tava ou confuso, ou me achando a pessoa totalmente doida - ou ainda rindo da estrangeira tentando arrasar. A criatura entra no táxi e diz que chegou a um bairro a cerca de oito quilômetros de distância. Tsc, tsc, tsc...
Assim, aprendam (quem ainda não sabe, pois tenho amigos aqui que me dão de 10 no mandarim): quando a tia do alto-falante anuncia "Guomao dao le (国贸到了)", saiba que chegaste a Guomao. Na tradução pro inglês, também está lá: "We arrived at Guomao". O "Station" só vem depois.
Bueno, o "Dao le" serve pro táxi também. Sabe onde quer descer? Avistando o local, diga ao taxista: "Dao le". Sábado, conversando com um brasileiro por aqui, veio ele contar que não entendia porque os taxistas eram tão abruptos quando ele dizia: "Dao le". Na cabeça dele, a expressão significava: "Pare", num sentido de "Vá parando, por favor". Depois que soube o significado (o tal "Chegou") até ficou fácil pra ele entender a pressa do condutor em fazer o passageiro descer. Se chegou, chegou, né? Melhor frear e estacionar!
domingo, 27 de janeiro de 2008
Feliz Ano do Rato
Portão principal da Xinhua já tem uma lanterna gigante
Foto: Jana Jan/China in Blog
A cidade está diferente. Em pleno fevereiro, enquanto no Brasil, imagino, o povo esteja se vendo às voltas com os preparativos carnavalescos, aqui o ar é de Ano-Novo, o Ano-Novo chinês, ou a Festa da Primavera (ainda que estejamos pelo meio do inverno...).
Bem rápido: o Ano-Novo chinês é regido pelo calendário lunar, então a data é diferente do nosso calendário gregoriano. Em 2008, o primeiro dia do primeiro mês, segundo o calendário lunar, é 7 de fevereiro. A véspera, data da comemoração, será dia 6, quarta-feira da próxima semana (não esta que se inicia agora).
Estou curiosa por esta celebração aqui, e fica difícil falar sem ter visto, mas vamos ao que eu já percebo ou que já me disseram.
Primeiro de tudo, é que o país dá uma parada legal. Há um feriado de pelo menos uma semana, mas que, em alguns casos, se estende por bem mais tempo. O sistema ferroviário já foi ampliado, assim como o aeroviário e rodoviário. Assim: Ano-Novo chinês é celebração familiar. Então, muita gente que mora em outra cidade volta pra casa. A casa dos pais, a casa dos sogros, enfins... Época de grande fluxo de gente de um lado para o outro. Fora isso, há ainda quem aproveite o feriado pra conhecer outro lugar, passear.
Pelas ruas, já se percebem lanternas vermelhas enfeitando lojas, restaurantes, casas, prédios públicos, as ruas mesmo. E há fogos de artifício, não aqueles com luzes e desenhos enfeitando o céu, mas os que fazem barulho. O engraçado é que são proibidos. Mas desde alguns dias, não há noite em que não se ouçam pipocos por aí. É o povo se preparando para celebrar mais um ano. Eu acho tão legal, pois sinto de verdade aquela expectativa de mudança, projetos, etc... Como a gente sente no finalzinho de dezembro, mas que, neste ano, não tive, pois aqui quase passou batido o 31.
Aprenda
Pra mim, na conversa com meus amigos chineses, o que mais chamou a atenção sobre a relação com o Ano-Novo é a teoria de que as pessoas aproveitam os últimos dias do ano para resolverem seus problemas, limparem a casa, reformarem, tirando o que não serve mais. O negócio não é resolução para o ano seguinte, mas a resolução de todas as pendências pra, literalmente, entrar com o pé direito numa nova etapa. Achei bem mais inteligente!
Jiaozi
A comida típica do Ano-Novo chinês é o jiaozi, ou o gyoza, como ficou popular no Brasil. São uma espécie de ravioli chinês, com o tradicional recheio de carne de porco com um tempero verde (estilo nossa cebolinha), mas há delícias como o de frango com cogumelo, pra mim, um dos melhores. As famílias se reunem durante o dia todo pra fazer os jiaozis em casa e a festa já começa no preparativo para a festa! A Mariana - sempre ela, meus olhos, ouvidos e coração chineses - contou que antes era muito caro preparar jiaozi, era uma comida realmente especial para a maioria das famílias. Hoje é popular, mas a tradição não foi perdida. Que bom! Jiaozi é um dos meus pratos preferidos aqui!!!
Fogos
Ah, durante o Ano-Novo chinês, o governo libera a queima de fogos. Tem algumas regiões demarcadas - e datas também. Acho que o barulho, a festa, as pessoas nas ruas farão eu sentir que 2008 chegou de verdade. Legal é que meus irmãos estarão aqui, chegam dia 4. Ou seja, terei uma celebração familiar também. OBA!
O Rato
Bueno, o ano do Rato terminará em 25 de janeiro de 2009. Neste período, espera-se mais paz pelo mundo, prosperidade nos negócios, já que o rato, segundo a crença, une a ambição sadia ao desejo de prosperidade material, aliado à praticidade, dedicação ao trabalho e capacidade para bons relacionamentos.
Pessoal, mãos a obra, então! E feliz 2008 pra vocês, atrasado ou não, já que no Brasil também se começa o ano depois do carnaval, há muito já se diz. Nunca a conexão Brasil e China teve um fuso tão ajustado.
;)
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
De trem
Na viagem a Chengde, a galera tava curiosa com os "laowai' (estrangeiros) que estavam ali (Crédito:Jana Jan,Chinainblog)
A Tati perguntou ali no blog dela que impressões eu tinha dos trens pela China, visto que Paul Theroux relata no livro Viajando de Trem Através da China muito do país de dentro do, dan, trem, como o próprio nome sugere.
Escrito há 20 anos, o livro diz que há banheiros imundos - e às vezes corredor também -, alto-falantes ligados, vagão-restaurante confuso e barulhento, beliche confortável, boa comida, garrafa térmica com água quente para se fazer chá e lindas paisagens pela janela.
Bem, já que fui perguntada, vamos responder. Eu andei quatro vezes de trem por aqui - ou melhor, sete, pois fui e voltei (à exceção de em uma das viagens, quando retornei a Beijing de ônibus). Vamos por ordem? Fui a Beidahe, 北戴河, (praia), Qingdao, 青岛, (praia e terra da Mariana), Pingyao, 平遥,(cidade cercada por muralha - não a Grande - e que guarda arquitetura das dinastias Qing e Ming) e Chengde,承德,(antiga residência de verão de imperadores, local da réplica do Templo de Potala, no Tibete).
Assim, Tati, tem gosto pra tudo. A ver...
Beidahe - 北戴河
Esta é a única do trem chique para Beidahe (Crédito: Manuel Martinez, Especial)
A viagem é de cerca de duas horas, partindo da Estação Beijing (Beijing Zhan, 北京站), no centro da cidade. Coisa de louco: o trem era bem melhor que muito avião. Poltrona confortável, moças de uniforme bem cortado nos servindo, um luxo só. Esta viagem fiz com meus colegas e amigos de Xinhua Manuel e Oliver. Melhor impressão impossível! O trem é um luxo na China, esqueça as impressões de há 20 anos. Ou não...
Segunda jornada: Qingdao - 青岛
Achei que não caberia tanta gente no vagão, mas o povo aguentou firme de pé até Qingdao (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
Com uma super boa impressão da viagem anterior, partimos eu, Mariana, o Brian (marido da Mariana), Manuel e Helena, que trabalha no departamento de francês da Xinhua, para Qingdao. O que seriam oito horas de trem, não é mesmo? A Mariana já havia nos avisado que não havia camas disponíveis (sem chance de, nesta vez, experimentarmos se os beliches eram ou não confortáveis). Mas depois da ida a Beidahe, qualquer poltrona seria melhor do que as que encarei na vinda do Brasil pra cá.
Hm... Chegamos ao trem, assentos duros para a gente, ou seja, esqueça o reclinável. Os bilhetes haviam sido vendidos aos montes, o que significava muita gente em pé ao nosso lado, o que impediria, mais tarde perceberíamos, aquela espichada boa nas pernas. Tive de ir ao banheiro uma vez e foi engraçado. Pulei por cima de um monte de gente que já tinha se entregado ao sono atirado pelo corredor mesmo. E tem foto do banheiro. Não digo imundo, mas é o tradicional buraco no chão - pouco espaço, o trem balança... olha, boa experiência para testar o equilíbrio.
O banheiro é este buraco e quando o trem está parado, não pode usar! (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
O trem está longe de ser imundo, não gostei desta palavra. Mas a farofada tão familiar aos brasileiros corre solta no vagão, certo. E fica todo mundo meio família lá pelas tantas. Tem gente que joga conversa fora com o vizinho, joga carta, forma novos amigos... Uma festa sobre trilhos madrugada a dentro. E um teste para quem está acostumado só a conforto...
Com caminha: ida a Pingyao - 平遥
Para ir a Pingyao, a estação é a Oeste, ou Beijingxizhan (北京西站). Por favor, preste atenção no que diz os luminosos (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
Fui a esta cidade bonitinha (e recomendadíssima) com a Viviana e o Nathan. Quer dizer, o trecho de trem, percorri só com ela, pois o Nathan conseguiu perder, pois saiu tarde do trabalho e acabou preso no trânsito. Logo... pontualidade na saída do trem!
Na viagem, de 12 horas, encarei a primeira caminha: um compartimento com seis pequenas camas - beliches de três "andares". Era verão, saímos cedo, vi paisagens lindas, sim! Curtam as fotos. Não temos foto da mesa, mas, sim, as térmicas para abastecer as garrafinhas de chá estavam presentes. Prometo fotografá-las da próxima vez.
Legal este verde no caminho a Pingyao, né? (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
O legal é que o compartimento é compartilhado supernaboa, sem estresse nenhum mesmo! Em todas as vezes que viajei, nunca cheguei a ir ao restaurante, então não sei como é este vagão. Mas passam vez que outra tiozinhos vendendo comidas, especialmente macarrão instantâneo. O que a gente comprou tava uma bela... porcaria! Quem manda não saber ler nada de chinês pra tentar imaginar o sabor, né?
Olha o carrinho com o jantar e as bebidas, gente (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
Ah, outra coisa, o trem parava e parava e parava, motivo para a viagem ter sido de 12 horas. Mas desta vez, uma tia sempre passava pra avisar em que estação estávamos chegando. Dormir que foi bom, difícil, bem difícil. O pára, apita, arranca, apita, pára, arranca torna a tarefa mais difícil...
Ah, o Nathan? Conseguiu comprar uma passagem num trem pouco depois do nosso e nos achou já em Pingyao. Ele foi sentado...
A última - que viagem - a Chengde, 承德
Achei lindo o rosto e o estilo antigo deste chinês, não descansei enquanto o Cláudio não emprestou a máquina pra eu registrar o tiozinho (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
Minha última aventura de trem começou uma viagem já na hora de comprar os bilhetes. Resolvi, eu e meu mandarim perfeito, comprar sozinha a passagem na estação. Iríamos eu e Cláudio, um amigo brasileiro que conheci aqui - conhecido há pouco tempo na época. Bem que achei estranho que uma passagem para um trecho de quase cinco horas custasse só 20 kuais (menos de US$ 3), mas tudo bem. Já ao chegar à Xinhua, meus colegas disseram: "Olha, aqui está escrito que tu não tem assentos, as passagens são para viajar de pé".
- Hm... Melhor avisar o Cláudio, vai que ele desiste, né? - pensei.
Bom, sem conseguir telefonar pra ele, o jeito foi avisar bem perto da hora de sair. Tudo ótimo, ele topou a indiada. Entramos num vagão mega-lotado, só com os tais assentos nada reclináveis e ficamos de pé. Por menos de 15 minutos. Eis que uma chinesa de um inglês mínimo expulsou, praticamente, dois chineses dos seus lugares pra que a gente pudesse sentar (na verdade, eles estavam deitados nos bancos e tiveram de dividir o espaço com a gente).
Era um povo supersimples. Com certeza, compramos as passagens mais baratas. E as companhias foram um barato. Com certeza aqueles dois estrangeiros viajando junto a gente simples era uma novidade. Nos deram sementinhas pra comer, ofereceram baijiu (um aguardente meeeeeeega forte que eu polidamente recusei) e queriam nos dar cigarro, muito cigarro. Sim, azar pras plaquinhas de proibido fumar. A fumaça corria solta. Havia também plaquinhas pedindo pras pessoas não escarrarem, ou cuspirem, no chão. Isso, eu realmente não vi. E, outra vez, dispenso o imundo. Agora, claro, depois de um monte de baijiu, um monte de sementinha, um milhão de cigarro, limpo é que o vagão não seria, exatamente.
A gente curtiu horrores a experiência de viajar num vagão megapovo, mas na volta pra Beijing, domingo à noite, cansados, viemos nas caminhas aquelas que experimentei com a Viviana. Mais confortável. E quente. A calefação no inverno funciona que é uma beleza! O preço? Três vezes mais, coisa de US$ 9, ora pois.
Com este casal, treinei o meu então bem mais escasso mandarim. Descobri que eles moram em Tiajin (天津), se não estou completamente errada, cidade que receberá partidas de futebol na Olimpíada (Crédito: Jana Jan/China in Blog)
Hm... este post me deixou com vontade de falar mais sobre trens, de falar um pouco de cada um dos lugares pra onde os trens me levaram. Tati, culpa tua!
;)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Shanghai: Visita à casa alheia
Shanghai é o centro financeiro da China, a metrópole dos arranha-céus, a cidade de raiz ocidental por seu passado como entreposto. Tem requinte, sofisticação, as moças adoram os estrangeiros, estão com um pézinho no Ocidente.
Talvez Shanghai seja tudo isso mesmo, ou não. Pisar em terreno alheio é sempre perigoso, e um dos medos que mais tenho aqui no blog é reforcar pré-conceitos em relação à China, este país tão grande, tão diferente e tão diverso. Então, pra começar, esclareçamos: o que escrevo são minhas impressões. Apenas elas. Não há verdades absolutas sobre o comportamento dos chineses, o jeito que a China é, etc. Nem daria pra arriscar, né? Compare você mesmo o brasileiro do Sul e do Norte, as paisagens brazucas do Centro-Oeste e da Amazônia e verás que tarefa ingrata que é generalizar...
Sem generalizar, então, o que tenho eu a dizer sobre Shanghai, a terra da querida Iara, que já se sente uma legítima shanghairen (xangainense, em português?)?
Estive lá por apenas dois dias, num final de semana de outubro, para ir ao casamento dos amados Lulu e Jaime. A mim impressionou a incrível mistura de novo e velho pelas ruas do centro. Prédios modernos ao lado de moradias antigas - prédios e prédios de pequenos apartamentos. Prédios baixinhos, máximo de cinco andares, que me fizeram pensar: são os hutongs beijinenses (um hutong tem um aspecto semelhante aquela rua de que falo no post abaixo, a Nanluoguxiang).
Adorei o moderno e antigo assim juntos
A arquitetura ocidental próximo a The Bund, de onde se contempla o rio, também chama a atenção. E os preços altos, caros mesmo, dos restaurantes e bistrôs ao longo da "orla"! Nossa, dá a impressão de que a vida de lazer, o culto a gastronomia e ao ócio saem mais baratos na capital chinesa.
A torre da CCTV, com o formato arrendondado, é cartão postal obrigatório
A cozinha de Shanghai, das que experimentei até agora, me pareceu a mais saborosa. Preciso voltar lá para comer mais. Suave, tem texturas delicadas e um mix perfeito de verduras e carnes - e até frutos do mar. Nhan!
Achei simpático o vendedor de côco, fruta, aliás, que sai a 10 yuans
Eu que gosto de baladas, adorei conhecer a noite de Shanghai. Para sair e dançar, me pareceu que as casas de lá são mais parecidas com as que eu estava acostumada no Brasil. Desde músicas ao estilo das pessoas. E, sim, tudo bem mais caro do que em Beijing.
Em menos de um mês voltarei a Shanghai, desta vez com meus irmãos, que estarão me visitando aqui em fevereiro. Quero conhecer outros aspectos da cidade - me disseram que roupas são mais baratas lá e, pelo que vi, são também mais bonitas, pra meu gosto.
Iara, quem sabe tu não nos dá umas dicas desta cidade linda? Preciso voltar a uma pequena ruazinha cheia de cafés e lojinhas de arte, ainda tenho de descobrir o nome, pois estive lá só à noite e os estabelecimentos estavam fechados.
Nesta próxima visita, quero sentir mais o clima e tudo, pois, como disse, fui a um casamento da última vez, o que me deixou mais voltada ao evento em si do que ao turismo... Voltarei e contarei, certo?
Achei uma graça a vendedora de porquinhos - e pelas ruas, uma galera estava com eles
Problema de falta de varal para pendurar roupas não há!
Tem horas em que quase se esquece que se está na China
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Minha casa fica na Terra
Está frio, mas a bicicleta é companheira
Foto: Jana Jan/Chinainblog
Existe sensação mais gostosa do que andar pela cidade e saber que aquela rua desembocará naquela outra, onde as árvores são verdes, há um restaurante bacana e o parque é perfeito para ver o pôr-do-sol? Conhecer o bairro, cumprimentar o vizinho, ter quase a certeza de que se chuta a mesma pedrinha a cada vez que se passa pelo local?
Talvez a sensação de descobrir novos lugares... Será?
O LuoGu é maravilhoso para comer. Tem até batata frita!
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
Fico numa dúvida danada, e arrisco a dizer que a primeira opção tá quase ganhando... Explico: estou adorando conhecer um pouquinho mais de Beijing e de já ter adotado lugares preferidos, cantinhos que, se não têm a minha cara, pelo menos me fazem me sentir bem.
E há um cantinho mega-especial aqui, que mistura gastronomia a lazer e shopping junto ao cheiro da capital de outros anos. Chama-se Nanluoguxiang (南锣鼓巷), uma ruazinha que poderia ser de mão única - pois é estreita -, ladeada por casinhas antigas, antigas, hoje reformadas e que dão lugar a restaurantes internacionais, chineses de outrora, cafés, lojas de roupa, de arte, de badulaques para casa.
12 metros quadrados: O menor café de Beijing está em Nanluoguxiang
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
A mistura de novo antigo está dentro e fora dos estabelecimentos, cuja decoração me lembra e muito a minha segunda casa porto-alegrense, o Mercatto D`Arte. Longe de casa, de volta pra casa.
Nanluoguxiang é apenas um dos charmes da região conhecida por abrigar as torres do Sino e do Tambor, antigo portão de proteção à cidade. Dentro do Segundo Anel viário (a cidade é circundada por cinco anéis), a área ainda é o endereço da região de bares chamada Houhai (后海)e de duas das casas noturnas mais alternativas daqui, Mao e Yu Gong Yi Shan (愚公移山). Sem contar loja de CDs, de jogos para computador, restaurantes 24 horas. E uma infinidade de hutongs (胡同), as vilas típicas de Beijing que há séculos abrigam os moradores da capital.
Como nos antigos hutongs - e Nanluoguxian é cercada por eles - , os banheiros são públicos, na maioria
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
Todo este mix moderno e tradicional suscita nostalgia, não? Dia desses, estava conversando com uma colega chinesa, a Joana, e ela contou sobre uma música que fala sobre a região. Gravada no início dos anos 90, me chamou a atenção por ainda ser atual: os problemas que apareciam lá ainda são os vividos hoje.
O cantor, He Yong (何勇), cuja carreira foi abreviada por uma doença mental, fala sobre a poluição, sobre as pessoas que passam o dia a falar da vida alheia, sobre quem vem do interior pra trabalhar na capital ganhando pouco, sobre as delícias de viver num lugar assim, mesmo com todos estes problemas.
O Pass By é o bar mais antigo da rua, o banheiro, aliás, fica na rua, característica de muitos outros. Abriu em 1999
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
A música, que o nome da região - Zhong Gu Lou (钟鼓楼)- você escuta clicando aqui. As saudades são da Cidade Baixa, e o convite é para um passeio por esta gracinha chinesa.
Hm... também não perca a tradução, feita pela Joana. O vídeo, quem encontrou pra gente foi minha fiel escudeira Mariana.
Zhong Gu Lou
Torre do Sino e do Tambor
A minha casa fica no interior do Segundo Anel
Onde os moradores têm tempo de sobra,
Eles estão falando de vidas alheias,
Eles estão querendo saber que marca de cigarro você escolheu
Quem trabalha duro nos restaurantes são pessoas de fora de Beijing,
O ar que vejo nos seus rostos é igual ao meu
A bicicleta passa em cima da folha, não se vê pôr-do-sol,
A ponte Yi Ding nunca mais viu bem a Montanha Oeste
As folhas de lótus estão estragadas
A imagem refletida da lua na água agora disputa com o lampião de rua,
Dois amigos discutem sobre quem vai aquecer o forno para fazer o café amanhã,
Na dúvida sobre o que comer: you tiao (espécie de palitos de massa) ou bolacha,
Zhong Gu Lou respira pó e fuma, deixando vocês moldarem sua cara,
Não consigo ouvir a sua voz, há muito barulho agora,
A torre só contempla há tempo, por que não fala algo?
Quem fez pergunta tão difícil? As respostas certas estão espalhadas pelo mundo todo
A minha casa fica no interior do Segundo Anel
A minha casa fica na região de Zhong Gu Lou
A minha casa fica nesta comunidade
A minha casa, a minha casa, a minha casa fica na Terra.
No inverno, tudo fica meio cinza, não?
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
Vou de táxi
Os táxis são estes com duas cores, como azul e amarelo
Foto: Jana Jan/Chinainblog
Andar de táxi em Beijing é fácil. E também um mistério. A cidade tem uma boa frota e os preços são incrivelmente em conta - na comparção a Porto Alegre ou São Paulo, por exemplo. Dá pra percorrer bons trechos e não pagar além de US$ 5. E acredite, isso é muito, muito trecho rodado...
Agora, só tem um probleminha básico. A comunicação! Não sabe falar chinês? Duas coisas: conte com a sorte de achar um taxista que fale inglês (olha, pela minha experiência aqui de sete meses, não há muitos) ou DESISTA de tentar explicar onde queres ir, caso não tenhas uma base de mandarim.
Então é impossível andar? Claro que não. Ali no início eu não expliquei que era fácil? Então, é facinho, facinho. O segredo é o seguinte: tenha sempre um endereço escrito em chinês (com os caracteres, não com a pronúncia, isso não funciona). É básico conseguir: imprimindo na internet (pra ir a um restaurante, por exemplo) ou pedindo pra um amigo chinês escrever. Outro segredo: telefone pra um chinês explicar ao taxista. Aliás, telefone aqui é artigo de primeira necessidade, justamente pra ser ajudado por alguém que já está há mais tempo na cidade.
Mostrando o endereço ou pedindo pra que alguém indique ao motorista, relaxe. Eles não costumam pegar caminho mais longo, enrolar estrangeiro e tals. Eu, pelo menos, acho que não. Tive pouquíssimas experiências ruins, e fica por conta da exceção - gente que gosta de passar a perna tem em todo o lugar. Não é a regra mesmo. Fique tranqüilo pra cortar as ruas de Beijing de táxi.
Hm... mas eu queria contar uma outra coisinha que me chama muito a atenção por aqui. Tem horas em que eles param, mas daí eles resolvem não te levar pra onde tu pediu. Simples assim. Te mandam descer do táxi e era isso. Como eu não sei o 156 deles pra ligar pra EPTC deles aqui, fico sem saber pra quem reclamar. Eu e mais uma pá de gente.
Sábado aconteceu de novo. Eu e Paula estávamos querendo sair e eu - que já não uso mais cartõezinhos pra pedir onde ir - pedi:
- Women yao qi Nanluoguxiang. Ni zhidao ma? (Queremos ir a Nanluoguxiang. Você conhece?, que em caracteres ficaria 我们要去南锣鼓巷。你知道吗?) - perguntei.
E o taxista disse que não, ante o que fiz várias outras tentativas: Zhangzizhonglu Zhan (张自忠路站,o nome de uma estação do metrô)? Guloudongdajie (鼓楼东大街,uma rua perpendicular a que eu queria ir)? Houhai (后海)essa, uma das áreas mais famosas pelos bares pra estrangeiros). Nada, ele disse que não conhecia nada. Certo que era má vontade. Ninguém que seja taxista numa cidade pode não conhecer lugares tão óbvios.
Aí foi engraçado, eu e a Paula, minha amiga/jornalista/gaúcha com quem eu divido apartamento aqui, ao mesmo tempo, num chinês perfeito:
- Ni zhidao Beijing ma? (你知道北京吗?Você conhece Beijing?).
Mas é isso, negócio é descer do táxi, dar uma risada, esquecer o mau humor e curtir mais um pouquinho do frio a menos de zero. Pode ter certeza: outro táxi virá rapidinho, a cidade é cheia deles!
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Rock chinês dá samba
Eu já havia falado sobre o SambAsia pra vocês antes. O que eu não havia dito é que o samba brasileiro fisgou o pai do rock chinês, Cui Jian.
Tipo um Lulu Santos daqui, o Cui Jian é conhecido por fazer músicas de cunho político. A semelhança com o brasileiro é o fato de estar há anos na ativa. Ele começou lá nos idos de 1980, quando ninguém fazia o som roqueiro por estas bandas. Agora, as portas da década de 2010 (ugh!), ele descobriu (a maldição do?) samba.
No primeiro show que fez em Beijing neste ano, convidou o SambAsia para tocar - ante uma platéia de 8,5 mil pessoas! Show de bateria, garanto, apesar de minha opinião ser um pouco suspeita pelo carinho que tenho pelos integrantes da melhor - e única! - escola de samba de Beijing.
Ficou curioso sobre esta mistura de samba e rock (aliás, samba-rock é o que há!)? O vídeo é de 13 minutos, talvez seja necessário esperar um pouco, mas eu aconselho: vale todo o segundinho! Ah, o vídeo: cliquem aqui.
Ontem à noite, fui ver o SambAsia no Mao, reduto do rock ao vivo chinês, conforme o slogan, é só pra provar que o rock tá mesmo apaixonado pelo samba por aqui.
A inspiração da bateria é a Mocidade Independente, do Rio
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
Quem tava na platéia? O Cui Jian, claro. Será que ele também se apegou ao povo, assim como eu?
Pra encerrar, deixo com vocês foto das três meninas que cantam.
Esse trio manda ver do samba carioca ao samba-reggae
Crédito: Jana Jan/Chinainblog
A Zoe é uma chinesinha crescida entre Hong Kong e Canadá e samba como ninguém! A Mai é uma japonesinha que mora aqui há um tempo e agora está indo passar um mês na Bahia - junto a outros quatro membros da banda - pra aprimorar a performance. Tocarão com o Olodum por lá. E a Kamila é do Canadá, morou um ano em Recife e canta que é uma beleza. Nossa Marisa Monte!
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Cara-crachá e o papel-bolha
Paula está de aníver hoje, e Mariana, domingo!
Foto: Arquivo Pessoal/China in Blog
Um sábado a menos de 0ºC pode ser divertido, não? Especialmente se tu vais com as amigas até o Estádio Nacional, ou o Ninho de Pássaro para fazer umas fotos. Assim, horas na rua! E rostinho congelado ceeeeeeeerto (vejam que eu sou a mais fiasquenta, baixei a manta nesta hora só pra aparecer o sorriso, antes tava coberta até o nariz).
Ainda nos encantando com as formas retorcidas do Ninho, não resistimos: eu, Paula e Mariana fizemos igualzinho a quem estava ali só por um motivo: guardar em foto uma recordacão da menina dos olhos para Beijing 2008.
É engraçado, tem um monte de gente lá pra fazer foto. Estrangeiro, chinês, todo mundo. E, gente, juro, tava frio! Fomos direto depois da seção de fotos a um café tomar algo quente pra esquentar!
Mas o que eu queria contar é sobre o Cubo, o local onde haverá as provas de natação. A Paula olhou um tempo e tascou:
- Vai dizer, parece um papel-bolha gigante!
Bah, que vontade de ir lá apertar pra ver se faz barulho... Gostei tanto da definição que usei no texto este cujo link está bem em cima deste post!
;)
Ah, a Paula tambem viu hoje algo interessante sobre as cerimônias de encerramento e abertura da Olimpíada, e traduziu pra gente. Vai lá:
Ingressinho na mão, tudo beleza pra ir às cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada, né? Nadica de nada. Quem quiser ver o Ninho de Pássaro novinho em folha precisará apresentar documento com foto e de identidade válido.
A medida é para evitar ingressos falsificados, cambistas e preservar os interesses de quem adquiriu ingresso de maneira legal.
Desde ontem o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (Cojob) começou a recolher as fotos e a identificação dos compradores. Os procedimentos estão explicados, em inglês, no site oficial da Olimpíada de Beijing. O prazo final para envio do material para os que já adquiriram os ingressos será dia 30 de janeiro.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Era uma vez
Hoje conversávamos durante o jantar, quando um gato pulou no meu colo. Falamos alguma bobagem e o Tiago, colega chinês do departamento de português, e a Mariana falavam das nove vidas de um gato.
Nove? Mas não eram sete?
Olha, aparentemente, os bichanos daqui são mais sortudos que os outros. Têm nove vidas mesmo. 9 é o maior algarismo, explicou o Tiago.
;)
Então tá!
Agora, falando do mundo animal... Esta é uma pequena piada que a Mariana contou e que eu achei engraçadíssima. Será que todos vão achar?
Sabe qual é o maior desejo de um panda?
É tirar uma foto colorida.
E sabem qual é o maior desejo de uma panda?
Comprar um creme pra remover olheiras.
E depois tirar uma foto colorida!
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
De olho em vocês
Toda essa minifilosofia tem hoje uma razão de ser. Eis uma aulinha de chinês, pra mim, pra lá de interessante.
Lia um texto sobre um jornalista que visitou a China. E ele fala sobre uma das maiores contradições da língua chinesa pra mim.
Rapidinho, prestem atenção:
- Qian (前)= pra frente. Assim, quando alguém te disser que alguma coisa é qianbianr (前边), siga em frente.
- Hou (后)= pra trás. Assim, quando alguém te disser que alguma coisa é houbianr (后边), volte duas casas. Ou quantas forem necessárias.
Aí você tem uma linha de tempo. Assim:
Hoje - jintian (今天)
Amanhã - mingtian (明天)
Ontem - zuotian (昨天)
Chega um dia em que você sente a necessidade de dizer: anteontem. Então, perguntei pra professora: como é anteontem?
E ela fez a linha, em português, primeiro
Anteontem - Ontem - Hoje - Amanhã - Depois de Amanhã
E escreveu:
Qiantian (前天) - Zuotian (昨天) - Jintian (今天)- Mingtian(明天) - Houtian (后天)
Eu que sou chata, disse. Gisela, acho que você se enganou. Hou (后)é pra trás, então Houtian (后天)é anteontem.
Não, ela me assegurou, e, bem, não explicou muito. Só disse que em chinês é assim. Aí vem o amigo jornalista no texto dele pra explicar o que explicaram pra ele (e que é mais uma das aulas de chinês que explicam bem mais que a língua, explicam uma lógica, uma forma de ver a vida). Olhem que fofo:
Para nós o futuro está na frente, certo? Pois, para eles está atrás. E por isso "hou tian (后天)" (literalmente "atrás dia") significa o dia depois de amanhã. "O futuro está atrás de você porque você não vê o que o futuro te reserva. O passado está à tua frente porque você consegue vê-lo." É. Até faz sentido.
Então lia um livro interessante, o tal A China Sacode o Mundo.
Lá o autor, 19 anos de China, muito mais entendido do que eu nos assuntos chineses, falava que muitas vezes os chineses têm as mais diversas explicações pra filosofias chinesas.
Algo como: o velho sábio chinês que te ensinou alguma coisa interessante era muito sábio, mas num país de população extensa, imaginem quantos sábios velhos e que sabem coisas interessantes as quais podem te ser úteis existem...
Perguntei a Mariana sobre o hou (后) e o qian (前) e tenho a dizer duas coisas.
- ou a filosofia chinesa de ver o passado, e somente o passado, é mesmo nacional, ou o velho sábio chinês que ensinou isso era um cara famoso. Ela contou a mesma história.
Agora, podemos confiar!
Ela lembrou mais:
Duas palavras que já sabia:
Yihou (以后) - depois (um pouco pra trás, na tradução)
Yiqian (以前)- antes (um pouco pra frente, na tradução)
Aí, falávamos sobre namorados. pra mim, a palavra namorado é ótima: "nanpengyou" (男朋友), que significa amigo homem.
Voltando ao qian (前), se o que a palavra que significa pra frente traduz passado, porque é o que a gente viu, logo o teu ex-namorado, será o teu pra frente amigo homem, ou qiannanpengyou (前男朋友).
Agora, só me fica uma dúvida: a gente chama o próximo ou chama o último?
A China me confundiu sobre esta história de figurinha repetida não completar álbum.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
O chinês, o português e as desculpas
Então, e não é que hoje tentei praticar? Eu falo, muitas vezes dá errado. Bem errado. E outras vezes eu tenho a nítida impressão de que o que está funcionado mesmo é a mímica.
Uma provinha de fogo foi pedir tele-entrega de água. Enquanto a água não chegou, não tinha certeza de que funcionaria. Funcionou. Tive de dar endereço e tudo!
Pode parecer bobagem, mas do jeito que a coisa é complicada, fico feliz a cada nova conquista. E hoje, eu, bem faceira, cheguei numa rede de fast food faceira pra treinar o chinês.
- Por favor, o número um. Mas não quero refrigerante, quero aquela bebida, não sei o nome, que mistura leite e morango - disse, num chinês nada impecável, mas "entendível"? e que havia me deixado orgulhosa de mim mesma, não vou negar.
- Ah, shake? - me respondeu a atendente.
Poutz, e não é que a moça falava inglês? Fiquei sem aprender como é milk shake em chinês...
De resto, Marcelle, é assim: faço aula duas vezes por semana (três horas de cada vez), mas é muito difícil mesmo. Ainda assim, decidi: vou aprender, pelo menos, a falar o básico antes de ir embora.
Eu só me pergunto o que é o básico numa língua. É, talvez não vá embora tão cedo.
Português e brasileiro em Macau?
Estive em Macau no ano passado. Precisava ir, não acham? Lugar onde se fala português em plena China é imperdível, né? Olha, bem, não é bem assim falaaaaaaaaaaaar português. À exceção das placas (algumas escritas em português errado), só quem é de Portugal, do Brasil ou estudante de língua portuguesa pra se comunicar nesta língua.
De resto, esqueça. Nem mandarim rola muito, pois o povo lá fala mesmo o cantonês. Eu quero contar mais pra vocês sobre Macau. Mas hoje vou ficar no Orkut, na geografia e nas explicações.
As explicações
Estava eu na rede de relacionamentos pra achar brasileiros perdidos por aqui - e que poderiam ser fontes minhas, ou inspiração, ou novos amigos - quando me deparei com a comunidade Brasileiros em Macau (para este link funcionar, é preciso estar registrado no Orkut). Não tive dúvidas. É aí que eu vou achar uma galera bacana, pensei, ao ver a foto que identifica o grupo: uma bandeira brasileira mixada a de Macau. E eis um tópico interessante: Sou de Macau. Pensei: "Nossa, tem filho de brasileiro nascido em Macau. Que doido! Que passaporte deve ter esta pessoa?" Já tava eu doida pra descobrir tudo sobre o cara.
É aí que entra a Geografia... O amigo confundiu totalmente o Macau chinês a Macau, que fica no Rio Grande do Norte - e cuja existência, aliás, eu ignorava.
O amigo explica que trabalha em Quixadá (Ceará) e manda um abraço a todos os macauenses. Até estas alturas, eu ainda estava mega-curiosa pelo suposto brasileiro nascido na Macau chinesa, que havia retornado ao Brasil. Aí outra pessoa foi ao tópico e explicou a diferença (pra mim e o amigo também perdido na geografia) entre as duas cidades. A parte mais engraçada, pra mim (azar, eu achei, sei que não é exatamente politicamente correto), foi um moço espirituoso, ao tirar uma ondinha no mesmo tópico: "Maldita inclusão digital".
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Gigante cresce a passos largos
O site mais popular é sina.com
Foto: Reproducao/Chinainblog
Assim, as previsões para o crescimento do consumo pela internet na China neste ano indicam que o ramo deverá crescer 45,8%, segundo o estudo Netguide 2008, divulgado há pouco por aqui. E daí? Daí que se o índice estiver correto, o setor abocanhará pouco mais de US$ 77,5 bilhões em 2008. Parece bom, né?
O consumo na internet leva em conta todos os gastos relacionados com a rede, da instalação da banda larga, por exemplo, a compras online, propriamente ditas.
Bem, e o que se faz na net chinesa? Os internautas daqui buscam, e buscam muito. Os sites de buscas cresceram 82,8% no ano passado, segundo o mesmo levantamento, realizado pelo Centro de Dados de Internet da China.
Mas a escala de tempo, é mais ou menos assim:
Os internautas chineses gastam
- 38,8% do tempo lendo notícias
- 11% respondendo e mandando e-mails
- 9,2% lendo blogs.
Aliás, acho ler blog uma boa, agradeco a visita de todos, espero não ter tomado muito o tempo de vocês, mas, sempre que puderem, deixem aqui seu recadinho.
Aliás, ainda devo posts sobre outras curiosidades do Gerson a respeito da China e um agradecimento todo especial a Iara, com quem, sim, quero ter muitas aulas sobre barganha!
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Ni hao!
Os mascotes da Olimpíada de Beijing são mesmo uma mão na roda. Lembram que falei do quinteto Fuwa dia destes? Além de os nomes significarem "Bem-vindo a Beijing", eles ensinam como se sentir mais em casa por aqui.
Explico já. No site oficial dos Jogos, tem um cantinho só para aprender mandarim, inglês e francês. Assim, estrangeiros podem saber como se virar por aqui, chineses podem aprender como se comunicar com o povo do resto do mundo que deverá aportar no país em agosto deste ano (juro que iria escrever agosto do ano que vem... Eita!)
. O processo é bem simples. Você clica primeiro no link Listen and Practice que aparece sob as frases e terá três gravações disponíveis. A primeira em inglês, segunda em mandarim, terceira em francês. Clique no player e preste muita, muita atenção!
Quem bolou o site, ainda pensou num detalhe fundamental: eles oferecem cartões com os caracteres que formam a frase - ou pergunta ou expressão - para voce imprimir. SUMA IMPORTÂNCIA! É que o chinês tem quatro tons, além de fonemas, pelo menos para mim, totalmente desconhecidos antes de chegar aqui. Não é assim "ouvir e sair falando". Resultado? Mesmo que a gente se esforce, às vezes é impossível ser compreendido pelos chineses. E os cartões? Bom, imprima os cartões sobre as frases que queres e, pronto, terás resultado!
Escolhi dois exemplos pra vocês:
"Onde acontecerão as partidas de futebol?" (essa tem a resposta, que é pra você tentar saber o que o chinês vai dizer pra você).
O de ontem, que é para matar a sede no calorão que faz aqui em agosto: "Quero um copo de cerveja e dois de suco de laranja!
No mais, divirta-se aprendendo mandarim. Aliás, Michelle, aprovaste as aulinhas dos Fuwa?
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Tela Grande
Warlords eh candidato a campeoníssimo de bilheteria na China
Foto: Reprodução/Chinainblog
E o cinema chinês vai bem? Olha, eu acho que sim. Há alguns comentários abaixo, o Gérson perguntou sobre o tema. Vamos às três produções nacionais campeãs de bilheteria até o final de 2007 - duas das quais eu assisti.
Campeoníssimo, aparece Warlords, do diretor de Hong Kong Peter Chan. Este eu não vi, mas o site já deixa com água na boca. A história? Mais ou menos assim: conta de forma épica o destino de três irmãos em meio a uma guerra sobre o assassinato do general chinês Ma Xinyi, isso durante a Dinastia Qing (1644-1911).
Bom, o Warlords embolsou US$ 26 milhões apenas na China desde que foi lançado, em 13 de dezembro. Com estréia uma semana depois, mas correndo no encalço, aparece Assembly, sobre o qual falei dia desses e cuja bilheteria já rendeu US$ 25 milhões.
Querido pra mim, pela história de dor, também com guerra como pano de fundo, mas que fala da relação homem e mulher de forma poética é o Lust, Caution, do diretor Ang Lee, aquele mesmo de Brokeback Mountain.
Vi Lust, Caution pela primeira vez em Hong Kong e adorei a história. Sabia que o filme havia sido cortado pelo próprio diretor, pois na China continental algumas cenas de sexo e violência não são aceitas. Bem, voltei ao cinema em Beijing poucos dias depois. Gostei também, mas confesso que preferi a versão que vi primeiro.
Vai aqui uma sinopse: Wang Jiazhi (Wei Tang) é uma jovem chinesa que entra na faculdade durante o período de ocupação japonesa, na 2ª Guerra Mundial. Lá ela participa de um grupo de teatro patriótico, tornando-se rapidamente a artista principal. Entretanto os planos do grupo são mais ambiciosos. Eles decidem assassinar o sr. Yee (Tony Leung Chiu Wai), um colaborador do lado japonês. Wang, então, se transforma em Mak, a fictícia esposa de um mercador. Sua função é se tornar amante do sr. Yee, para facilitar a ação do grupo.
Ah, em tempo, o Warlords pode ser um dos primeiros a chegar a bilheterias antes só conseguidas por Zhang Yimou, diretor de Lanternas Vermelhas e Heróis. O diretor cultuado na China é, aliás, o responsável pela cerimônia de abertura da Olimpíada 2008. Hmmmm, mas isso pode ser assunto para outro post.
Agora, esqueça a pipoca e se grude em frente às telas assim que puder pra curtir as produções chinesas.
;)
Fumaça na paisagem de Beijing
Foto: Wang Jingguang/Xinhua
A China vai mapear as principais fontes de poluição nos próximos meses. O Censo Nacional sobre Poluição deverá pesquisar 82 mil pontos no país, incluindo indústrias, instalações agrícolas, residências e estações de tratamento de poluentes. Em todo o trabalho, estarão envolvidas 7 mil pessoas.
A coleta de dados se inicia já em fevereiro, e deverá terminar ainda no primeiro semestre deste ano. Os dados, no entanto, só serão divulgados pela Administração Geral de Proteção Ambiental do Estado - o nome do órgão chinês que cuida dos assuntos relativos ao ambiente - em 2009.
Falando em ambiente...
O Tibete tem agora uma estação de monitoramento da camada de ozônio. A região é conhecida por, no verão, apresentar um dos níveis mais baixos de ozônio na comparação a outras com as mesmas características geográficas.
A estação ficará a 3.648,9 metros acima do nível do mar. Todas as informações serão enviadas para o Centro Mundial de Dados da Camada de Ozônio e Radiação Ultravioleta, no Canadá.
Ah, a foto aí de cima foi tirada em 2 de janeiro deste ano e mostra a fornalha número 4 da Beijing Shougang Company, na capital chinesa, que deixou de funcionar no último sábado. Este é mais um dos esforços do governo chinês para reduzir emissões de poluentes. A companhia afirma que terá perdas de US$ 350 milhões com a redução das operações, mas, em contrapartida, apenas as emissões de fuligem deverão cair 50,32% neste ano.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Notícias tristes
Na última sexta-feira, recebi uma notícia muito triste por msn. A Sandrinha, Sandra de Moura Mesquita, lá de Terra de Areia, morreu em um acidente de carro na manhã de 1º de janeiro, na Estrada do Mar. A tragédia ainda vitimou a colega de Sandrinha, Vera Lúcia Souza Teixeira.
Acidentes de carro me sensibilizam muito, as mortes causadas pela violência no trânsito não parecem ser justificáveis. Há muitos anos não via a Sandrinha, mas sou muito amiga do irmão mais velho dela, o Junior, e guardo lembranças muito boas dos pais dela, o Ademir e a Cidinha. Na sexta, quando a Mara me contou do acidente, fiquei muito chateada, querendo fazer algo. Neste ano, a RBS está trabalhando com a campanha pelo fim da violência no trânsito. Acho que é hora, cada vez mais, de pensar em como nós mesmos nos comportamos no trânsito, como motoristas, caroneiros, pedestres, ciclistas. É hora de lembrarmos as vítimas das estradas, como dia desses o Sant'Ana fez com o meu querido colega do clic Bruno Neumann, vítima de um atropelamento numa tarde de sábado em Porto Alegre, pertinho da Redenção.
O pai da Sandrinha, como fez o pai do Bruno, também fez seu relato triste e contudente, o qual reproduzo um trecho para vocês.
Minha filha e seu companheiro, Renato Borges da Rocha, vieram na noite do dia 31/12 passar conosco a virada do ano em nossa casa de praia em Santa Rita de Cássia, distrito de Terra de Areia. Sandra era nossa filha adotiva e de pele negra.
No dia seguinte, os dois saíram as 6h, pois Renato estava a levando ao trabalho, na praia de Rainha do Mar, no seu carro, um Fiat Uno, ano 1996. No caminho, encontraram a colega de Sandra e deram carona. Vera era uma pessoa humilde, separada e com dois filhos menores para criar.
Na Estrada do Mar, Km 38, em Capão Novo, as 6h45min, sofreram o trágico acidente. Um Gol, conduzido pelo jovem Vagner Galli da Foutoura, invadiu a pista contrária, colidindo contra o carro de meu genro. Minha filha e sua colega tiveram morte instantânea.
Meu genro, que estava consciente, pedia por socorro e IMPLOROU aos policias um telefone, para que pudesse avisar os familiares. Os policiais diziam que os familiares já tinham sido avisados e que estavam chegando. Nós, (eu, minha esposa e meus outros filhos) estávamos em casa sem saber de nada, só ficamos sabendo do ocorrido através de um amigo às 12h15min. Eles haviam assistido a notícia no Jornal do Almoço. Ali, pediam a presença dos familiares, pois os corpos já estavam no IML. O mesmo aconteceu com os familiares das outras vítimas, que só ficaram sabendo através de nós.
Minha filha e sua colega estavam mortas, ficaram três horas em cima do asfalto esperando a chegada do IML, imcompatiblizando o tempo necessário para doação dos órgãos, uma vontade minha, de minha esposa e de seu companheiro, já que minha filha gozava de ótima saúde.
Tamanha é minha indignação que resolvi fazer este relato, sei que minha filha e sua colega não voltarão mais a este mundo, mas quero divulgar para que não aconteça mais com outras vítimas humildes.
Atenciosamente,
Ademir da Silva Mesquita
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
China a mais de cem
No ritmo atual, diz ele, a cifra ultrapassará os US$ 6 mil em 2020. Há dois anos, o PIB per capita chinês aumenta cerca de US$ 200 e deverá fechar 2007 em US$ 2,2 mil.
Rapidez?Bem, o país parece saber como trabalhar com isso. Em seis anos, o PIB per capita pulou dos US$ 800 (em 2000) para US$ 2 mil em 2006.
O diretor do Instituto de Sociologia da Academia de Ciências Sociais da China, Li Peilin, no entanto, adverte: é preciso que os números não mascarem um problema conhecido pelos brasileiros: a crescente diferença entre ricos e pobres e entre o urbano e o rural.
Falando em PIB per capita, o brasileiro ficou, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em R$ 11.658 em 2005. O número é de levantamento divulgado agora em dezembro.
O choro é livre
Sapatos artesanais saem por cerca de R$ 20
Foto: Jana Jan/Especial
A Leticia Echevarria, de Santa Maria, perguntou num comentário abaixo sobre os preços de roupas, calçados e alimentação aqui na China. Olha, tenho a dizer que, em geral, é bem barato. Ou, pelo menos, mais barato do que no Brasil.
Pra começar, a minha fantasia de ketchup custou 388 yuans, algo em torno de R$ 100. E, bem, é um casaco de pena de ganso, ideal para temperaturas bem baixas. Além disso, é impermeável, o que ajuda bastante. Não pretendo comprar outro, pois não sei se usaria no Brasil, e o acho grande, feio e desajeitado. No entanto, incrível, uso roupas de outono, por assim dizer, sob ele.
Um dos segredinhos pelas ruas de Beijing é pechinchar, barganhar. Quando você pensar naquela expressão "O choro é livre", saiba que aqui o choro é livre mesmo. Não se acanhe, pechinche. Em geral, sairá com uma boa oferta. A prática da barganha ocorre principalmente em shoppings multimarcas, ou sem marcas, por assim dizer. Entre os estrangeiros, o mais famoso é, com certeza, o Silk Market (Xiu Shui em chinês, Mercado da Seda, em português).
Ali, de roupa a brinquedo, passando por malas e sedas (claro!), você encontra de tudo. E encontra os vendedores falando em quase todas as línguas que possa imaginar. Não ache que estás sonhando caso reconheças um sonoro e familiar "Amigo".
Eu, particularmente, acho barganhar um mistério, e até hoje não entendo quando faço um bom ou um mau negócio. Em geral, a prática dos vendedores é pedir que você diga o preço que acha razoável. Eu nem sempre sei o que é muito de menos, e o que é muito demais. Brasileiros que vivem por aqui, por favor, me ajudem!
Quando faço compras, opto por lojas com preços nas etiquetas ou vou com a Mariana, minha salvadora por aqui. Olha, outro lugar pra comprar é Xidan. Menos estrangeiro, mas outro bairro cercado de shoppings e lojas onde é bem possível barganhar. Em Wangfujing você pagará mais caro, mas é um dos bairros de compras mais famosos para turistas. Fora dos shoppings, as ruas estão cheias de barraquinhas, cheias de badulaque. Ali, outra vez, a pechincha é a regra. Dentro dos shoppings, estive no tal Oriental Plaza no último sábado, é caro, Leticia. Mas você encontra todas as marcas famosas do mundo inteiro.
Pra teres uma idéia, aquele chapéu que estou usando na foto ali da coluna da direita (e que perdi, infelizmente), me saiu por pouco mais de R$ 40, comprado numa das lojas de chapéus mais tradicionais de Beijing (localizada ao lado do tal Oriental Plaza). Lá dentro do shoppingzão bonito, um parecidinho me custaria mais de R$ 1,1 mil. Hello!!!
No fim, acaba sendo parecido com a realidade que conhecemos. Você pode pagar muito por marcas famosas ou em lugares famosos ou pagar menos em estabelecimentos mais populares. Nestes, com certeza, pagarás menos do que no Brasil!
Bueno, eu ainda teria de falar de comidas, imagino, capítulo à parte.
Sério, eu acho muito barato, muito barato mesmo!
Combino com vocês de falar num próximo post, tá?
Silk Market é quase parada obrigatória para estrangeiros (Crédito: Divulgação/Especial)
Este mercado já fechou, mas comércio de rua também é comum (Crédito: Divulgação/Especial)
Vai dizer que não lembra as nossas chitas? (Crédito: Jana Jan/Especial)
Che é pop mesmo na pequena lojinha de rua (Crédito: Jana Jan/Especial)
Badulaques vendidos em Wangfujing (Crédito: Jana Jan/Especial)
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
As mulheres e os blogs
O número, passado por mim pelo meu colega jornalista e gaúcho Glênio Paiva, que desde outubro tambem está na Xinhua, mostra que um quarto dos internautas chineses escrevem em blogs e que os diários online registrados já passaram os 33 milhões desde que a moda começou na China, há cinco anos.
Os números têm como base uma pesquisa feita pelo Centro de Informação da Internet na China, quando foram entrevistados 1.862 internautas chineses na segunda metade de novembro.
De acordo com a pesquisa, 57% dos blogueiros chineses são mulheres, enquanto entre os 180 milhões de internautas chineses, 45% são mulheres.
Falar em mulher escrevendo blog - sobre a China ou da China - acho super querido o modo como o blog me aproxima do meu mundo aí no Rio Grande do Sul. Eis que o Gerson comentou abaixo sobre cerveja em Ibicuí. Bueno, a casa do Luiz e do Motta foi meu endereço de Ano-Novo em muitos e muitos 31 de dezembro. Se conheces Ibicuí e és de Novo Hamburgo, com certeza sabes do que estou falando.
Já a Michelle me escreveu pra perguntar de Terra de Areia, pois leu que eu me criei lá. Fã de jornalismo e da China, a guria agora precisa fazer um trabalho sobre a cidade onde eu cresci, e me pediu umas dicas, via e-mail. Espero ter te ajudado, querida.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Dias de Fúria e um bom Ano-Novo
Paguei mico na agência pra mostrar o ketchup
Foto: He Meng (Mariana)/Especial
Primeiro, as explicações. Tenho uma lista no Brasil pra quem mando minhas novidades. Esse era um e-mail pessoal, pros amigos mais íntimos. O Márcio Gomes, meu editor no clic, achou engracado e disse que ele deveria estar no blog. Pois bem, agora ele está...
Fiz um texto grande, do tamanho das minhas saudades, com pitadas de bom-humor, do tamanho da minha vontade de rir até quando não tá tudo bom. Aí deu pau no computador, e eu perdi tudo. Vamos rir, respirar, digitar de novo. Será que com a mesma naturalidade?
Ai...
A primeira parte, bem, esta é daqueles desejos gostosos de um novo ano repleto de alegrias, conquistas e amor, muito amor pra todos vocês. Polar gelada também cai bem, Tsingtao quente é a maior curtição!
Meu ano-novo eu contei ali na outra casa, a www.clicrbs.com.br/chinainblog, prestigiem esta que vos escreve, passem lá, vejam meus amigos. Meu ano-novo foi tão comportado que não há nem partes impublicáveis, todas estão no blog.
***
Bem... Aqui na China o impublicável às vezes vai até pra televisão. O mico do final de ano foi a apresentadora de TV que invadiu o programa do marido, também apresentador, ao vivo, e denunciou o infiel. Ela havia descoberto há duas horas que tinha um par de chifres. E resolveu contar pro país todo. No fim, o mundo soube da história. Se alguém quiser ver a cena, está aqui!
Aliás, você que ficou longe da internet no feriado ficou porque, provavelmente, precisou ir pra praia, usar bronzeador, se sujar de areia, tomar cerveja gelada, comer peixe, camarão, beijar na boca, dizer "não, muito obrigado" pro vendedor de canga, e também pro vendedor de óculos escuros e também pro vendedor de brincos, saiba que eu estou morrendo de inveja. Ai, coisa chata! Eu fiquei a menos zero, com um casaco que parece uma barraca, me sentindo uma bruxa vestida de preto e vermelho e jurando: ano que vem, ou estarei no Brasil, ou na Tailândia, Filipinas, algum paraíso à beira-mar. Sério. DEPRÊ PASSAR ANO-NOVO NO FRIO. Odeio com todo o meu amor cada um de vocês que estava na praia. Mas com o maior, carinho, respeito e de coração!
E, que super, né? Não que eu tenha marido, nem que trabalhe numa rede nacional de televisão, mas eu tenho um blog. Sei lá, numa dessas, vai que eu tenha algum babado forte pra publicar... Adorei esta idéia de acesso fácil à mídia!
***
Agora, sobre meu dia de fúria.
Dia desses eu disse pra Paula que o sistema interno de trancar a porta da nossa casa era aberto à chave pelo lado de fora. Dias desses depois, tou eu voltando de uma noitada de ceva no meu bar favorito na minha rua favorita na minha cidade favorita para trabalhar na China quando, depois de subir seis andares de escada (sim, nosso elevador não funciona da meia-noite às seis, dizem que pra poupar energia) me deparo com a porta trancada. De jeito maneira consegui abrir e me grudei a ligar pra casa. Ao tentar o celular da Paula, uma chinesa me fala no meu celular:
- Duibuqi. Nin xi ni zhi xi qi ni zhai pin tin de - ou alguma coisa parecida com isso, e logo emenda:
- Sorry, you have late money. Please, recharge in time.
Ou seja, tava quase ficando sem crédito no celular! Depois do recado bilingüe, a chinesa completa a ligação. Ouço o celular da Paula bem ao meu lado, na cozinha, ou seja, a quilômetros do quarto dela. Tremo mais do que tremia de frio com os -5C certo que estavam fazendo naquela madrugada! O medo? A guria não acordar... Liguei pro fixo, que fica na sala e, sim, ninguém ouviu... 3 e tantas da manhã, sem muitas opções...
Beijing é tão cidade do vento quanto Osório, e isso pode ser interessante quando as janelas do corredor do teu prédio estão quebradas. Na madrugada gelada e escura, interessante por dois motivos. Um é que o frio aumenta, outro é que o barulho de vidro e porta de metal batendo é uma loucura. Descobri duas coisas. Eu não tenho medo do escuro, nem de fantasmas. Também comprovei a tese do Cláudio: O inferno é gelado. Na sala de quem fez muito mal na Terra, ainda tem vento, que é pra gelar e cortar!
Eu, boa que dói, vou pro céu com certeza. Ainda mais que fiquei algumas horas experimentando a péssima sensação do inferno e da inveja. Invejei a praia, o calor, as pessoas felizes, os pandas, os peixes, o universo, a cama quente, a cerveja, me perguntei que diabos estava fazendo na China e pensei: 2007 foi um ano em que tudo deu certo! Tinha de ter um perrengue, nao é mesmo? Ah, mas perrengues servem pra gente resolver, que tal descer os seis andares e ir até o hotel que FICA EXATAMENTE embaixo do meu prédio?
Fui!
- Boa noite, o senhor fala inglês?
- Sim.
- Quanto custa um quarto?
- 232 yuans.
- Olha, eu estou sem meu passaporte. Moro no prédio justamente aqui em cima, mas minha amiga dormiu e me deixou na rua, não consigo entrar, está frio e eu gostaria de dormir, pois estou muito cansada. Eu tenho aqui meu crachá da Xinhua, trabalho há seis meses em Beijing.
- A senhora tem amigos na cidade?
- Sim, tenho, o senhor gostaria de telefonar para algum deles para comprovar as informações?
- Não, pra senhora telefonar e pedir pra dormir na casa de um deles. Não aceitamos estrangeiros.
- Não aceitam estrangeiros?
- Não, senhora.
- Não aceitam estrangeiros mesmo ou não aceitam estrageiros sem passaporte?
- Não aceitamos estrangeiros.
- Mas então por que inferno o senhor me informou o preço, ficou falando horas comigo e por que diabos o senhor é um dos únicos recepcionistas da China que fala inglês decentemente se não aceita uma porcaria de estrangeiro neste inferno de hotel com seis andares e uma porr** de um milhão de quartos?
- Desculpe, senhora.
- Ok, desculpe - me resignei eu com frio, sem achar um sofá pra me atirar e fazer escândalo, caso ele quisesse engrossar. Tentei celulares da Mariana e da Elisa, nada. Ok, subamos mais seis andares...
Gente, que péssima, minha noite de despedida de 2007, eu, sentada ao lado do aquecedor do corredor do prédio que não aquece nada, enrolada no meu casaco-barraca (eu já achando a fantasia de ketchup a melhor aquisição de até então aqui na China) querendo matar a chinesa que me avisava em duas línguas que meu crédito tava acabando a cada ligação que fazia todo o tempo pra tentar acordar a Paula. Sério, na 35151° vez que tu ligas pra casa e ouve a mensagem, isso comeca a irritar. MUITO. Se estiveres com sono, irrita MAIS AINDA. Se estiveres com frio, ÉS CAPAZ DE QUASE ENTRAR EM SURTO.
Pronto, uma hora e meia depois de ligações, a Paula acordou. Entrei em casa extremamente mal-educada, eu sei... Eu podia matar alguém, e nem era culpa dela, mas eu estourei mesmo com a minha amiga quando ela disse:
- Jana, mas foi tu que disse que a porta poderia ser aberta a chave pelo lado de fora.
- Sim, claro, desculpe, a culpa foi minha...
Depois da manhã, fui acordada pela Paula e pelo Iugo com café da manhã na cama!
Um bom início de último dia de 2007
Que acabou sem comida. Fui a um bar cubano novo pra ceia de réveillon, paguei 250 kuais e só me serviram a salada e a entrada. O prato principal chegou gelado, à meia-noite, quando não importava mais e eu já estava quase bêbada. Sério, ainda bem que 2007 foi. Foi ótimo!
Mas 2008 há de ser melhor ainda!
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Quem vai pra praia comigo na próxima virada???
** Aliás, na última virada, um casal de argentinos na minha frente foi o primeiro a achar super eu ter um blog na RBS. De Misiones, viam RBS durante a infância e adolescência.
O outro assunto em comum? Este é o primeiro ano da vida deles que eles não vão nesta época a CAPÃO DA CANOA... Os pais dele, inclusive, estão indo pra lá semana que vem.