quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quantos celulares eu terei na vida?

Eu sei, não basta ser estúpida o suficiente para viver coisas estúpidas, é preciso ter azar também. Não fosse assim, não teria histórias para contar. Podem me chamar de avoada, mas, reitero, acho que é só azar.

A Patrícia, amiga aborígene aqui de Beijing, tem uma frase bacana para aqueles momentos em que o convite não só é desinteressante como totalmente digno de não. Em algumas ocasiões, ela não pode fazer tal coisa porque tem de estudar para passar no exame de sangue. Eu sempre rio, porque acho engraçado. Nunca contei, até pra não desapontá-la e deixá-la com vergonha desta amiga que vos escreve, que eu já rodei em exame médico. Havia trabalhado no Terra por uns dias, como teste, e fui fazer o exame pró-forma. Quando a médica perguntou se eu havia tido tendinite alguma vez na vida, eu disse que sim, há alguns anos, havia tido uma crise.

Naquele dia, aprendi que eu crepitava. Ou pelo menos meus ossos crepitavam, apesar de eu nem entender direito o que isso pudesse significar no jargão médico. Até agora não entendo, aliás. Aprendi também que ser sincera pode ser uma merda. Mas eu sou sincera, que merda. E algumas vezes ainda cometo o disparate de superconfiar na raça humana. Não sei porque insisto. Deveria me cercar dos exemplares de que gosto e parar por aí. Mas ontem foi um dia, ou uma noite, como queiram, em que eu confiei na humanidade.

Depois de assistir a emocionantes partidas de sinuca da dupla brasileira Paulo e Patrícia contra australiano, chineses, colombiano e turco, fomos mostrar o suíngue brasileiro bailando funk e popzisses oitentistas no bar do Tom, outro brasileiro amigo. Lá chegando, deixei minha bolsa pendurada numa cadeira e fui me acabar na pista. A Patrícia foi embora, o Paulo tava dançando comigo. Quando o bar ficou chato, convidei o Paulo para uma última ceva ao ar livre, no Lugas. Cadê bolsa?

Tipo assim, cadê bolsa, cadê o celular que estava dentro da bolsa, assim como cartões (meu e da Paula) e chave de casa. O Paulo, que é fotografo, mas jura que sabe arrombar portas sem ser assaltante, resolveu ir à minha casa. Eu ainda tinha uma esperança de ter deixado a porta aberta, como estupidamente fiz semana passada. Nada. Nem pra arrombador nós servimos. Decidimos ir ao posto de polícia que fica dentro do meu condomínio. Entramos nas salas, subimos dois andares, ninguém. Fiz até xixi num dos banheiros. Ninguém. O Paulo está aqui de férias, num hostel, nenhum jeito de dormir com ele.

Estávamos os dois sem passaportes, fomos a um hotel foleiro perto da minha casa, onde nos deixaram entrar sem mais o quê. O lugar era tão nojento e com cara de mau (aliás, tinha um quadro do Mao no corredor) que o Paulo decidiu dormir por ali pra não me deixar só. Sem tocar nem no travesseiro, o que foi bastante engraçado. Eu bravamente encarei o cobertor. Pela manhã, 8h, uma chinesa nos acorda. Me traz o dinheiro do depósito que havia deixado e pede as chaves. Entrego e só muito mais tarde perceberia que, em caso de fiscalização policial, o nosso quarto apareceria como desocupado, pois não estávamos registrados.

Com o celular do Paulo, ligo pra Noha, amiga egípcia que mora aqui. Ela conta que a Paula está vindo do aeroporto, há horas tentando falar comigo, sem grana (porque tava sem o cartão, que tampouco está comigo) e precisava de alguém para pagar o táxi. A Noha pagou. Eu tomei café com o Paulo, que pagou meu táxi, hotel e café - e pra quem eu devo horrores, não só em grana, mas em apoio moral porque, segundo ele, o hotel de ontem compete acirradamente com um do Peru na categoria de pior lugar pra dormir. Não basta vir pra China, tem de conhecer a Jana. E não basta saber que a Jana se mete em estipidices vez que outras. Há que compartilhar.

Voltando ao relato, voltei pra casa, onde a Paula já estava, com chave e sem cartão. Ela já sabia do ocorrido, pela Noha. Demos boas risadas. Pra que voltar de férias sem uma confusão, né? Acharam minha bolsa numa lata de lixo, com minha chave e meu cartão da agência. Agora preciso comprar outro celular. Só o dinheiro que já gastei com celulares daria uma bela poupança, juro. Será que compro IPhone?

No almoço, pelo menos, levei uma cantada do cozinheiro. Sempre cumprimento o moço porque ele faz umas comidas deliciosas, aplausos para o kaobaozi, um tipo de pastel de forno recheado com carne de ovelha de comer de joelhos, agradecendo à raiz muçulmana dos chinesinhos. Semana passada ele já havia feito kaobazi na hora pra mim e meu amigo francês. Hoje, foi até a mesa levar os quitutes (o que ele não faz nas outras mesas) e me olhou super no olho e disse:

- 今天你太漂亮 - o que a gente lê jintian ni tai piaoliang e traduz como "hoje você está muito bonita".

Ah, deve ser meu ar de sofrimento, né não?

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Mariana, ao saber do roubo.

- Jana, há alguma coisa que tu tenhas adquirido e não tenhas perdido? Até agora eu sei de celulares, bolsa, roupa, computador, sem falar em namorados.

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Tou de calças novas, esta eu não pretendo perder, lindonas, presente da marida Paula, recém chegada do Brasil, sem cartão, sem dinheiro.

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Domingo a previsão é de 30 graus. Vamos fazer picnic de Páscoa no parque.

2 comentários:

kika disse...

Ai jana! Só imagino o pavorzinho que tu não deve ter sentido no momento em que não achou a bolsa. Eu sou dona de perder coisas também e como tu já tive alguns celulares na vida. Em 2004, acho, tive 3 celulares iguais. Como não queria que ninguém descobrisse que tinha perdido (ou sido roubada) o celular de novo, então comprava um modelo igual hehe Aqui na china já perdi a carteira, tipo deixei cair no chão, obviamente não me liguei e segui em frente.
Mas tá, é bom que tu descobre ter uns bons amigos pra partilhar os maus momentos e acabar tornando eles divertidos, não? =)
Pra completar rendeu um belo post também.
Como diz o ditado "vão-se os anéis, ficam-se os dedos..."

Jana Jan disse...

Hahaha, adorei a historia dos celulares iguais! E brigada pelo belo post. Soh bom humor pra salvar essa urucubaca.